Por Maria da Graça
S E N H O R
Senhor,
perdoa os meus pecados,
lava,
com a água dos teus rios sagrados,
a mácula do meu corpo quebrado,
agora que ninguém nos ouve,
agora que a erva secou nos prados.
traz-me
as varas que medem o sol e a minha idade,
diz-me
que ainda escrevo por devoção e bondade,
que nos pátios da noite há uma candeia que
desde cedo
assinala o rumo dos navegantes de outras
eras,
de outra saudade,
diz-me que hoje
ainda me espera um milagre,
uma luz imensa do outro lado do mar,
uma estranha divindade que segue os meus
passos,
que me conduz aos templos onde o incenso
arde,
procura-me
com grinaldas de sangue quando os sinos
tocam em Santa Maria e São Gonçalo,
anunciando a hora da oração,
da última ceia,
sem os discípulos a meu lado,
sem os filhos que esperam o pão,
as laranjas,
o brilho das facas que atravessam a dor dos
animais sacrificados,
perdoa-me, Senhor,
este ofício da palavra que apenas revela a
iminência dos túmulos.
JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA - IN ESTA VOZ É QUASE VENTO
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