Por BARROSO da FONTE
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António Chaves e eu fomos um destes exemplos, desde a entrada, na tropa, em
Mafra, em 23 de janeiro de 1964, até ao dia da sua morte, em 12 de setembro de
2024. Sessenta anos certos.
Em
junho de 2011 publicou o seu primeiro e principal livro a que chamou A
«Ultima Estação do Império». A Ancora publicou esse volume de 366 páginas,
numa tiragem de 2OOO exemplares. Ele próprio assinou o prefácio. Nele explica o
motivo dessa obra, aflorando as razões da guerra, em que ambos mergulhámos,
como oficiais milicianos e de apoio aos oficiais do quadro que, por serem
poucos e temerem que aqueles lhes fizessem sombra, nas promoções e nas
competências, promoveram o golpe militar, que ocorreu dia 25 de Abril de 1974.
Maria
da Graça Matos, uma transmontana de «barba rija», ao longo do meio século de
revolução, sempre travou acesos debates, entre os seus «patrícios» e os
«espúrios», do processo militar. Na homenagem que lhes quis prestar,
transcreveu, à data da sua morte.
Nesse
prefácio, no blog tempo caminhado, António Chaves termina-o com estas
duas linhas: «Como principal inspirador e colaborador ativo na sua redação,
considero o João Barroso da Fonte, como autêntico e dedicado co-autor deste
livro».
Em
Abril de 2014, António Chaves, com o apoio do diretor da ÂNCORA, Baptista
Lopes, que tinha editado a «Ultima Estação do Império, convenceu-o a
mudar o título para «Em armas pelo sonho do Império - Angola: o Mito do
império Português desfeito por um ex-combatente». Pensaria ele e os seus
conselheiros que as contestações daqueles que protagonizaram os treze anos de
guerra foram o super-sumo da história de Portugal. Essa postura injusta,
extemporânea e barbara, pela inevitabilidade das consequências lusófonas, teria
que acontecer, sem sangue, com humanismo, com equidade e com justiça.
A. Chaves foi um ideólogo de causas nobres e
universais. Não era daqueles que deitam a toalha ao chão, ao primeiro
obstáculo. Nos seis meses de preparação, como cadetes, em Mafra, convivemos, em
teoria, o drama da nossa região. Nessa altura o concelho de Montalegre tinha
cerca de 30 mil habitantes. Hoje tem cerca de dez mil. As barragens da Venda
Nova, Paradela e, sobretudo, de Pisões, arrastaram para essas obras, cerca de
três mil trabalhadores, em sistema ambulante. Os melhores terrenos foram
submersos. Muitos naturais emigraram. As indemnizações, quase sempre forçadas,
iludiram os proprietários. As famílias numerosas desapareceram. E, poucos,
souberam poupar, dos que resistiram. O futurível economista e Presidente da
Academia de Letras de Trás-os-Montes, teve a sorte de estudar nos liceus de
Chaves, Braga e Porto. Manuel da Inácia, soube acautelar-se, com os terrenos
sobrantes da Barragem de Pisões. Nessa altura, era um dos lavradores remediados
da freguesia que sonhava o melhor para o filho. Nada com os seminários ou
colégios de tendência religiosa. Esse complexo bebeu-o, na convivência e nos
livros de Bento da Cruz que citou Manuel da Inácia, como pai modelo. Este
cidadão de Negrões teve o cuidado de mandar o filho para Gralhós, a uns dez
kms, de Negrões
Deixou-se
influenciar por Bento da Cruz, (1925-2015) que em outubro de 1940 entrou na
Escola Claustral de Singeverga, dirigida por monges beneditinos,disposto a
seguir a vida religiosa. Aí concluiu, com distinção, o antigo curso dos
Seminários. Em 1945 entrou no noviciado. E em 1946 abandonou Singeverga». Esta
referência lesse na Wikipédia que diz mais: «a minha saída do seminário pode
ter afetado alguns condiscípulos que me tomaram como referência. A maior pena
que me ficou desse tempo foi não ter vivido essa experiência de vida na aldeia
entre os 15 e os 21 anos. Senti toda a vida a falta desse percurso de
juventude»
Daí o
filho entrar no liceu, mais preparado do que os seminaristas que, como o signatário,
fez a quarta classe, com uma professora regente. Mas não nos seminários, onde
só entravam os pobres. Esse complexo acompanhou-nos 60 anos. Quase todos os
dias mantínhamos essa argumentação nos diálogos, uma vez por outra, mais
exaltada. Quando a exaltação subia de tom, vinha o calmante das discussões: um
abraço. O aproveitamento do prefácio do António Chaves, estampado no blog Tempo
Caminhado, pela defensora de todos os pensantes, Maria da Graça,
inspirou-me esta singela homenagem.
Durante
os último 60 anos e desde que nos conhecemos, quase nos tratávamos como
irmãos-gémeos. Eternizou este sentimento na dedicatória que manuscreveu no
exemplar do livro «Em armas pelo sonho do império». Aí exarou: este
livro pertence-nos por igual; nasceu de um destino comum e do teu incentivo
para que fosse escrito. Aguardava eu, na altura, um bom motivo para escrever
algo de maior folgo e tudo bateu certo.
Haverá,
ainda outras oportunidades para outros empreendimentos partilhados, mas tal
como se diz no domínio dos afetos, não há amor como o primeiro.
Um
grande abraço do irmão- gémeo,
António
Chaves, Mira Sintra, 27 de Fevereiro de 1015.
Barroso da Fonte
Parabéns e felicidades ao autêntico e dedicado co-autor deste livro, Dr. Barroso da Fonte. Admirável a sua força e dedicação à escrita. Ana Soutinho
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