domingo, 28 de julho de 2024

VÁRIA

 

JORGE  GOLIAS


Nas minhas “gavetas” tenho textos avulso que por vezes revisito. Lembro-me da palavra criada pelo Abade de Baçal, “couseiro”, para ilustrar estas gavetas. Para homenagear a memória deste ilustre autor das Memorias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, 12 Tomos de cerca de 1000 páginas cada, usarei algumas vezes esta palavra.

Nesta revisita ao dito couseiro, agora já sem aspas, encontro frases, pensamentos, tentames de textos, etc., que sempre me prendem a atenção ou que até me encantam. Ditos populares, mitos urbanos, sentenças de ilustres sábios e filósofos, que podem dar um conto ou uma crónica, e que algumas vezes utilizo nos meus textos. Ou seja, uma fonte quase inesgotável de criação literária. Mas acontece que raramente recorro a esta reserva porque costumo partir para o exercício da escrita de um qualquer acontecimento do dia ou de algo que me ocupa a mente e suscita uma estória. E começo quase sempre sem saber o que vai sair dali.

É, por exemplo, o caso deste texto, que já vai em 18 linhas e nada se perspectiva de concreto para difundir pelos meus leitores. Porque nestes dias nada se passou que mereça uma crónica. Ou então fui eu que andei distraído ou mais concentrado em outras guerras de outros palcos. Alguns perceberão o que está por detrás disto.

Sem rumo fico-me então e ainda pelo meu companheiro de leituras Abade de Baçal (1865-1947), amigo e contemporâneo do meu antepassado Padre Ernesto Sales (1864-1946), o historiador de Mirandela, cujo exemplo tentei seguir, com a História concisa de Mirandela (1198-1920).

O Abade na cortinha de sua casa, em Baçal, almoçando com amigos.

O Abade de Baçal, em 1940, dizia isto: “Aos 71,5 anos deixei de ter força para expelir a urina e agora cai só pela gravidade, de maneira que, se não me escanchar, mijo nas calças e nos sapatos”. Presumo que nem soubesse ao tempo o que era a próstata. No seminário chamavam-lhe o Robespierre por ser revolucionário, e eu considero-o um antecessor do pensamento deste Papa Francisco. O bom do abade no fim da vida, vestia muito mal, como se fosse um pobre pedinte, ou melhor, um franciscano. Era, no entanto, um sábio que estudou e aprendeu até ao fim. Tinha amigos que o acompanhavam para todo o lado. Um deles era judeu, o Dr. José Montanha, ilustre brigantino. Um dia foram visitar uma igreja de uma vila do interior transmontano. Mas o aspecto do abade era o de um miserável e os habitantes tomaram-nos como ladrões de igrejas e correram com eles à pedrada. Esta cena traz-me à memória outra semelhante, mas agora passada com Guerra Junqueiro. Estava na sua terra, Freixo de Espada-à-Cinta, na companhia de alguns amigos e nesse tempo também vestia muito mal. Filho de um rico lavrador, escritor ilustre, da Geração de Setenta, andava como um maltrapilho. De tal maneira que um velho amigo de família se aproximou, cumprimentando-o de chapelada, e advertindo-o assim: -Ó Sr. Dr. porque é que se veste tão pobremente e sem necessidade? O que diria o seu paizinho se o visse agora? Resposta do poeta: -Não me visto. Cubro-me!

E pronto, hoje fico-me por este texto inócuo, ajustado à época da silly season, que leva algum do humor que tento não perder.

CNX19Jul24JG83

 

1 comentário:

  1. « "A ponte de Mirandela tem actualmente 17 olhais.Uma quadra popular do século XIX rezava assim:" Aponte de Mirandela/ Tem vinte e cinco olhais/Que lhos contei honte`à noite/ Tem dezoito não tem mais". Esta quadra revela a dúvida que sempre houve sobre o número de olhais da ponte, mas o povo também não tinha razão quando dizia que, afinal, naquele tempo, só tinha 18, porque nunca passou por este número. A história é então assim: Após a sua reconstrução, em fins do século XV, a ponte tinha 21 olhais. Aquando do terramoto de 1755 já tinha 1 meio enterrado no lodo, do lado da vila. Ficou então com 20. Quando se construiu a estrada real para Bragança, em 1866, foi preciso enterrar outro para se poder suavizar a curva, que era inferior a 90 graus. Ficou com 19. Depois, na cheia de 1909, foram derrubados 4 olhais pequenos e, no lugar destes, apenas se reconstruíram 2 maiores. Conclusão: perdendo mais 2 ficou reduzida aos 17 actuais. A prova real foi obtida aquando da descoberta recente (2007) de 2 olhais enterrados. Então refazendo as contas, estes 2 soterrados mais os 17 actuais e mais os 2 que perdeu nas cheias perfazem os 21 da construção inicial. (Jorge Golias) IN MIRANDELÊS

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