JORGE GOLIAS
Na fila da caixa dos
supermercados a história repete-se, mas com variantes. As grávidas passam à
frente usando este direito adquirido e nem o bom dia dão. É veni, vidi, vici:
veio, viu e venceu! E quando trazem os carrinhos de bebé entram por ali como se
fosse numa via verde gratuita. Depois há aqueles que só trazem um item e aí sou
eu que dou a vez. Só que quando faço isso aparecem sempre mais alguns
candidatos e ali estou a ver passar os navios. Então, respiro fundo, acalmo e
medito: tenho todo o tempo do mundo, já não corro para nada, então porque me
molesto com estes contratempos sem importância? Não sei, não tenho uma resposta
pronta, terei de pensar melhor. Poderá ser dos hábitos da vida activa em que se
corria sempre de um lado para o outro.
No barbeiro já não espero.
Marco a hora e, mais minuto menos minuto, o tempo cumpre-se. O brasileiro é
impecável, muito profissional, apara-me os pêlos do nariz e das orelhas, que
fogem à norma. Mas pergunta primeiro, porque diz que há homens que gostam daquele
capim! Já montou loja própria, trouxe a família, alugou casa e assentou praça
aqui. Bem fez ele e bem agradecemos a quem se fixa junto de nós, que fazem o
que os nossos rejeitam e ainda sustentam as nossas reformas.
Creio que a pior fila de
espera é a do dentista, não pelo tempo, ou não só pelo tempo de espera, mas
principalmente pelo tempo usado na antecipação dorida do ruído da broca.
Enquanto se espera, sente-se o ruído da broca na boca do outro, trrrrriimmzzz,
trrrriiimmzzz, e isso também dói.
No carro, numa fila
qualquer, já aprendi que a minha fila é a que anda mais devagar e, quando
resolvo mudar, passa a ser a que era a minha a que anda mais depressa. Não falha.
Mas se me fico e nada faço, sinto-me um medricas que não arrisca e assim não
petisca. E isso não faz o meu género. Sempre gostei do risco…
E para não correr o risco de
escolher a fila errada, porque já tenho essa experiência, para a qual não tenho
explicação. Saio de fininho, fingindo naturalidade, entro da fila certa,
chamo-me nomes e respiro fundo para acalmar, e ponho o contador a zeros.
Quem espera, desespera!
Espero que não desesperem
com esta inesperada crónica.
Carnaxide em 16 de Junho, de
2024, o dia do Bloomsday (vão à net, que James Joyce merece)
JG83
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