quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Bergamota

 

Continuando no grupo dos citrinos e depois dos conquates, limões e laranjas, vamos agora abordar as bergamotas.

Elas serão o tema central da próxima aula de Fitoterapia, prevista para o dia 26 de fevereiro, às 16 horas na Escola Comunitária de Alcochete.

 

Bergamota

Em 2018, ainda tão longe e simultaneamente já tão perto da pandemia Covid-19, que afligiu todo o mundo, participámos num fantástico cruzeiro que começou na Itália e penetrou nas paradisíacas ilhas dos confins do Oceano Índico. Como vem sendo hábito, redigi extensa crónica dessa encantadora viagem para que a sua recordação não perecesse na frágil memória, sempre atraída por coisas novas a esmorecer as antigas.

À laia de introito para a presente croniqueta botânica, cito apenas um simples parágrafo do que que então registei:

Reggio Calabria fica na “ponta da bota”, bem no estreito de Messina, em frente da Sicília. Por que não constroem uma ponte? A cidade possui uma primorosa e bem cuidada avenida marginal que alguém referiu como o quilómetro mais belo da Itália. Gigantescas “ficus” tropicais e outras árvores elegantes bordejam a artéria. Destaque para algumas espécies endémicas da região, como o “Bergamotto di Reggio Calabria”, de nome científico Citrus bergamia, citrino valioso, cujo óleo essencial é apreciado em todo o mundo.

Quem vê a bergamota, ainda sem fruto, não a distingue da laranjeira comum, pois a semelhança é flagrante. Mesmo com frutos é difícil porque parecem laranjas esverdeadas, cujo peso unitário raramente excede os 200 gramas. Pelo sabor é que lá vamos, visto que eles são incrivelmente acres.

No entanto, o valor comercial da bergamota é deveras elevado e a seguir vamos ver a razão. Na província italiana da Calábria a bergamota constitui um dos mais persistentes símbolos da região. Diz-se que é lá que se gera 95% de toda a produção mundial e esse facto, algo inédito, suscitou acesa curiosidade para conhecer melhor esta pequena árvore da família botânica das Rutaceae.

As características climáticas do sul da Itália, bem como as da vizinha ilha da Sicília, onde também tem fama o limão, parecem reunir condições ideais para a boa proliferação de citrinos. Depois, as cuidadas operações de “marketing”, fazem alcandorar as excelências das mercadorias e os concomitantes proveitos comerciais.

Dizem, contudo, os entendidos que a bergamota teria a sua origem no noroeste da Índia e países vizinhos, como o Paquistão e o tão falado Afeganistão, mas por outras estafadas razões.

Afirma-se que a bergamota é afinal uma espécie híbrida que deriva do cruzamento da laranja azeda (Citrus aurantium) com a lima (Citrus limon).

A sua importância advém da essência aromática extraída das folhas, flores, sementes e principalmente da casca do fruto (expressão a frio do pericarpo e parte do mesocarpo). O óleo foi comercializado pela primeira vez na cidade de Bérgamo, e parece que foi daí que se consolidou a designação.

A citada essência agrega um vasto complexo que inclui pineno, mirceno, limoneno, bisaboleno, linalol, geraniol, terpineol, cumarina e mais, muito mais compostos, que extravasam os parcos conhecimentos de quem é leigo nestas matérias. O facto é que ela tem vastas aplicações em perfumaria, cosmética, farmácia, aromaterapia e mesmo na alimentação. Integra águas-de-colónia, cremes solares, licores, vinagres aromáticos, condimentos gastronómicos, chás “Earl Grey” e outros produtos “gourmets”.

Ao óleo de bergamota são-lhe atribuídas diversas propriedades terapêuticas, a saber: analgésico, antidepressivo, antibiótico, antisséptico, estomacal, calmante, cicatrizante, digestivo, desodorizante, antipirético, vermífugo, vulnerário…

O agradável aroma da bergamota é relaxante e paradoxalmente energizante.

São múltiplas as aplicações fitoterápicas deste precioso óleo:

Banhos de imersão: 10 a 15 gotas diluídas num decilitro de óleo vegetal;

Compressas e cataplasmas: 5 gotas diluídas em meio litro de água;

Inalações: 3 gotas num litro de água a ferver;

Massagens: 20 gotas diluídas em 5 decilitros de óleo vegetal;

Difusores aromáticos: 15 gotas.

Prescreve-se ainda a infusão, durante 10 minutos, de 20 gramas das folhas para duas ou três chávenas de água a fim de acalmar a ansiedade e reduzir a insónia.

Há, contudo, uma precaução a ter em conta. O óleo, que deve ser usado diluído e jamais puro, estimula a fotossensibilidade e pode causar queimaduras. Por conseguinte, após a sua aplicação na epiderme, deve evitar-se a exposição solar, pelo menos nas primeiras 12 horas.

Para terminar, refere-se que o óleo de bergamota se encontra nas lojas de aromaterapia e similares em frasquinhos geralmente de 10 mililitros e que o seu preço de venda nunca é inferior a 6 euros.

 

Miguel Boieiro

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