Continuando no grupo dos citrinos
e depois dos conquates, limões e laranjas, vamos agora abordar as bergamotas.
Elas serão o tema central da
próxima aula de Fitoterapia, prevista para o dia 26 de fevereiro, às 16 horas
na Escola Comunitária de Alcochete.
Bergamota
Em 2018, ainda tão longe e simultaneamente já tão perto da
pandemia Covid-19, que afligiu todo o mundo, participámos num fantástico
cruzeiro que começou na Itália e penetrou nas paradisíacas ilhas dos confins do
Oceano Índico. Como vem sendo hábito, redigi extensa crónica dessa encantadora
viagem para que a sua recordação não perecesse na frágil memória, sempre
atraída por coisas novas a esmorecer as antigas.
À laia de introito para a presente croniqueta botânica, cito
apenas um simples parágrafo do que que então registei:
Reggio Calabria fica na
“ponta da bota”, bem no estreito de Messina, em frente da Sicília. Por que não
constroem uma ponte? A cidade possui uma primorosa e bem cuidada avenida
marginal que alguém referiu como o quilómetro mais belo da Itália. Gigantescas
“ficus” tropicais e outras árvores elegantes bordejam a artéria. Destaque para
algumas espécies endémicas da região, como o “Bergamotto di Reggio Calabria”,
de nome científico Citrus bergamia,
citrino valioso, cujo óleo essencial é apreciado em todo o mundo.
Quem vê a bergamota, ainda sem fruto, não a distingue da
laranjeira comum, pois a semelhança é flagrante. Mesmo com frutos é difícil
porque parecem laranjas esverdeadas, cujo peso unitário raramente excede os 200
gramas. Pelo sabor é que lá vamos, visto que eles são incrivelmente acres.
No entanto, o valor comercial da bergamota é deveras elevado
e a seguir vamos ver a razão. Na província italiana da Calábria a bergamota
constitui um dos mais persistentes símbolos da região. Diz-se que é lá que se
gera 95% de toda a produção mundial e esse facto, algo inédito, suscitou acesa
curiosidade para conhecer melhor esta pequena árvore da família botânica das Rutaceae.
As características climáticas do sul da Itália, bem como as
da vizinha ilha da Sicília, onde também tem fama o limão, parecem reunir
condições ideais para a boa proliferação de citrinos. Depois, as cuidadas
operações de “marketing”, fazem alcandorar as excelências das mercadorias e os
concomitantes proveitos comerciais.
Dizem, contudo, os entendidos que a bergamota teria a sua
origem no noroeste da Índia e países vizinhos, como o Paquistão e o tão falado
Afeganistão, mas por outras estafadas razões.
Afirma-se que a bergamota é afinal uma espécie híbrida que
deriva do cruzamento da laranja azeda (Citrus
aurantium) com a lima (Citrus limon).
A sua importância advém da essência aromática extraída das
folhas, flores, sementes e principalmente da casca do fruto (expressão a frio
do pericarpo e parte do mesocarpo). O óleo foi comercializado pela primeira vez
na cidade de Bérgamo, e parece que foi daí que se consolidou a designação.
A citada essência agrega um vasto complexo que inclui pineno, mirceno, limoneno, bisaboleno,
linalol, geraniol, terpineol, cumarina e mais, muito mais compostos, que
extravasam os parcos conhecimentos de quem é leigo nestas matérias. O facto é
que ela tem vastas aplicações em perfumaria, cosmética, farmácia, aromaterapia
e mesmo na alimentação. Integra águas-de-colónia, cremes solares, licores, vinagres
aromáticos, condimentos gastronómicos, chás “Earl Grey” e outros produtos
“gourmets”.
Ao óleo de bergamota são-lhe atribuídas diversas propriedades
terapêuticas, a saber: analgésico, antidepressivo, antibiótico, antisséptico,
estomacal, calmante, cicatrizante, digestivo, desodorizante, antipirético,
vermífugo, vulnerário…
O agradável aroma da bergamota é relaxante e paradoxalmente
energizante.
São múltiplas as aplicações fitoterápicas deste precioso
óleo:
Banhos de imersão: 10 a 15 gotas diluídas num decilitro de óleo vegetal;
Compressas e cataplasmas: 5 gotas diluídas em meio litro de água;
Inalações: 3 gotas num litro de água a ferver;
Massagens: 20 gotas diluídas em 5 decilitros de óleo vegetal;
Difusores aromáticos: 15 gotas.
Prescreve-se ainda a infusão, durante 10 minutos, de 20
gramas das folhas para duas ou três chávenas de água a fim de acalmar a
ansiedade e reduzir a insónia.
Há, contudo, uma precaução a ter em conta. O óleo, que deve
ser usado diluído e jamais puro, estimula a fotossensibilidade e pode causar
queimaduras. Por conseguinte, após a sua aplicação na epiderme, deve evitar-se
a exposição solar, pelo menos nas primeiras 12 horas.
Para terminar, refere-se que o óleo de bergamota se encontra
nas lojas de aromaterapia e similares em frasquinhos geralmente de 10
mililitros e que o seu preço de venda nunca é inferior a 6 euros.
Miguel
Boieiro
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