Passos avisa
que perda de memória “na política é fatal” e todos parecem iguais
O antigo primeiro-ministro Passos
Coelho avisou hoje que “em política é fatal” quando se perde a memória e todos
parecem iguais, e, questionado sobre atualidade, repetiu que este não é o seu
tempo no PSD, mas de Luís Montenegro.
No lançamento do livro "Lendas e Contos Populares
Transmontanos - Tesouros da Memória (Vol. I: Bragança e Vinhais)”, de Alexandre
Parafita, que conheceu na infância em
Vila Real, Passos Coelho nunca falou de partidos, mas deixou vários alertas
sobre a realidade política atual.
“Quando se perde a memória, somos todos iguais e isso na
política é uma coisa terrível - na economia também - porque se tudo é igual não
há diferença. Não se apura nada, não há razão para a competição, para apurar
mais eficiência, mais bem-estar”, considerou.
E acrescentou: “Na política é fatal se formos todos iguais,
tanto faz lá estarem uns como outros, é tudo igual”.
“A memória, o passado é muito importante para nos definir e a
maneira como o vemos ainda mais. É muito importante que cada um saiba interpretar
esse passado e essa herança de maneira a renovar a sua identidade e comunicar
com os outros”, defendeu o antigo primeiro-ministro entre 2011 e 2015.
À
saída da sessão, Passos Coelho escusou-se a fazer declarações aos jornalistas,
dizendo que “acompanha tudo”, mas não deseja intervir.
“Este não é o meu tempo, o PSD tem um líder, o dr. Luís
Montenegro, e é ele que está a dirigir a estratégia do PSD e a preparar a
campanha eleitoral, ele tem de ser a voz autorizada que deverá conduzir o PSD
nesta fase”, afirmou.
Dizendo que não fez “voto de silêncio”, admitiu, contudo, que
dadas as anteriores funções de líder do PSD e primeiro-ministro tudo o que diga
pode ter “uma leitura diferente”.
Questionado se irá participar na campanha para as legislativas de
10 de março, respondeu apenas: “É uma matéria que tem que ver com o PSD”.
“Mas seria estranho que as pessoas assistissem passivamente a
isso como se não fossem agentes da história, como se não tivessem vontade, e se
entregassem ao que tem de ser”, afirmou.
“Tem muita força, mas se não for do meu agrado, a gente tem de
fazer qualquer coisa e nem sempre essa reação é atempada. Quando não é
atempada, assume outras formas que depois nos apressamos a condenar. Quando é muito
tarde, no fundo, estamos a condenar-nos por não termos agido quando devíamos”,
disse, num aparente recado sobre o crescimento do partido Chega.
Perante uma pequena plateia, o antigo primeiro-ministro
referiu-se “à ameaça que paira do nacionalismo e do extremismo, venha ele da
direita ou da esquerda” na Europa.
“Há momentos que são quase definidores do perfil de União que se
vem construindo, a dúvida está em saber onde se põe a fronteira e o limite.
Aguentamos levar essa fronteira, esse limite um pouco além, sem perder a
unidade, ou damos uns passos um pouco mais largos e as pessoas começarão a
eleger governos que querem acabar com isso e que se querem descoser dessa
urdidura europeia que vem fazendo há quase dezenas de anos”, questionou-se.
No final, deixou uma garantia: “É sempre o futuro que nos define
mais do que o passado, mas sem passado não somos nada”.
O
presidente da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, onde decorreu a iniciativa,
aproveitou para lhe deixar um convite: “Se em 2026 quiser apresentar a sua
candidatura presidencial na nossa sede, estaremos de braços abertos”, afirmou,
num repto que ficou sem resposta.
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