Eles vão outras vez ao Vale dos Fetos!
diziam os amigos de Évora. Em boa verdade foram as crianças que nos fizeram
companheiros de jornada. Deram as mãos, naturalmente. As férias decorriam pelo
Luso. E, como sempre, aproveitávamos para conhecer as redondezas. O Vale dos
Fetos foi uma paixão. E as hortênsias viajaram no meu olhar e, pouco a pouco,
enfeitaram de poemas o meu jardim. Por lá a luz do sol era coada e as cores
celestiais. As pontes, os ribeirinhos, as plantas, os carreiros davam um toque
de romantismo ao vale. Recato e liberdade. Saltos, corridas e miradas
demoradas. Este ambiente, que retenho, entusiasmava o grupo. As anedotas do
casal de Évora eram alentejanas e alimentaram o pulsar dos dias e a juventude
que respirávamos. Repassámos, depois, essas anedotas entre outros amigos,
talvez para termos presente a vivacidade, o sentido de humor e o convívio de um
tempo despido de obrigações. A atividade profissional também provocava a
proximidade. Também é verdade que alentejanos e transmontanos entram,
naturalmente, em cumplicidade. Para eles, a praça do Giraldo era ponto de
encontro, de festa, e girava nas conversas com um entusiasmo fora do comum. A
vida passava por ali. A praça é, geralmente, a sala de visitas de qualquer
localidade e, quando um dia regressávamos do Algarve, não resisti. Apesar do
calor infernal de agosto, enquanto a família repousava a uma sombra (a minha
mãe estava exausta), desci à praça do Giraldo. "É que em Évora todos os
caminhos vão dar à Praça do Giraldo, desde a sua construção em 1571/1573".
Em poucos minutos cheguei e respirei a magia que
os amigos me transmitiram. Já lá tinha estado, mas naquela hora, aquela pequena
praça - rodeada de arcadas, belos candeeiros e fachadas de estilo neoclássico e
romântico - tornara-se intimista, plena de vida saboreada. As pedras - calçada
portuguesa - falavam como se tivessem alma. Já vi gente chorar ao sentir a
comoção do lugar. Não foi o caso, mas não podia deixar de tomar um café numa
sala de visitas que era, naquele momento, um pouco minha. O cante alentejano
também.
E, em tempo de confinamento, apetece viajar por
dentro de memórias e revisitar lugares e emoções.
Teresa Almeida Subtil
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