Teresa A. Ferreira
Quando chegava o dia de matar o porco, fugia e escondia-me tapando a cabeça com almofadas. Doía-me a alma a gritaria do animal. Queimavam-lhe os pelos com um molho de palhas, enquanto um alguidar retinha as últimas gotas de sangue. Eram várias pessoas à volta dele, cuidando de tudo a preceito. Minha mãe ia lavar as tripas ao ribeiro. Eu só aparecia por perto quando o animal ficava dependurado numa trave, de cabeça para baixo. No dia seguinte, era o tempo da desmancha. Os presuntos iam para a salgadeira, assim como as orelhas e outras partes. Retirava-se carne do lombo para fazer os salpicões, carne da suã para as alheiras, carnes e mais carnes eram divinamente separadas, cada uma cumprindo a sua função. Lembro-me de se fazer umas sopas com sangue cozido do porco, assim como, chouriças doces de sangue que eu tanto apreciava. Como me sabia bem o entrecosto grelhado na lareira, depois de passar uns dias em vinha de alhos. E os chichos assados nas brasas? Petisco de lamber os dedos.
FONTE: https://www.diariodetrasosmontes.com/cronica/tradicoes-de-natal
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