Manuel Igreja
A sua vida tinha sido a modo de dizer, escorreita e normal.
Tranquila mesmo, apesar de uma ou outra aperreação como é próprio da
consequência de se estar vivo.
O seu avô tinha regressado do Brasil com muita coisa de seu,
contruiu a casa onde morava com estilo arrebitado, embicado e com alguma
grandiosidade, tinha uns bons pedaços de bens ao luar com que se via e
usufruía, apesar do seu pai ter sido um valdevinos daqueles que dão cabo de
qualquer fortuna na boa-vai-ela.
No entanto e apesar disso, como se costuma dizer, ela não se
podia queixar. Não se dava a grandes luxos e tinha bem para as precisões. Não
se casou porque não arredou de fazer questão em se casar só em caso de amor
sentido, mas habitou-se à ideia de estar só e de aquecer os pés na cama com
peúgas de lã. Viveu os seus dias como bem quis e sem prestar contas a ninguém.
Mas tinha um desgosto, um desejo melhor dizendo, ainda por satisfazer. Não lhe consumia alma caiada de branco, mas ia deixando uma mancha negra. Nunca tinha visto o mar. Sabia que ele existia, mas só o conseguia imaginar criando-o em si como um mistério de assombrar. O seu pelo menos era coisa linda de morrer.
FONTE:https://www.diariodetrasosmontes.com/cronica/conto-de-natal-o-desejo-de-ver-o-mar
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