segunda-feira, 25 de setembro de 2023

«Memória do Passado, lutas do presente», rumo ao futuro


No espaço de três anos, «Trás - os -Montes foi enriquecida com nacos de história que «une o tempo do passado, do presente e do futuro».

Enquanto região ruralizada, tem vindo a ser considerada «a última colónia portuguesa», Trás-os-Montes, perante os olhos do resto do mundo, foi sempre tida, cá dentro e lá fora, como campo de experiências generalizadas, em horas de crise nacional. O meio ambiente foi sempre hostil: planáltico, pedregoso e gelado.

O tempo, a orografia e a distância foram sempre obstáculos, negativos. Quando o homem começou a dominar a natureza e a perceber que poderia extrair: força, fruto, arte e agasalho, Trás-os-Montes rendeu-se às experiências. E vieram: as barragens, as eólicas, o lítio e as surpresas subterrâneas que empobreceram, quem já tinha partido, e entregou o ouro ao bandido. Mas nem tudo está perdido.

0 ex-presidente da Câmara de Bragança, António Jorge Nunes, acaba de publicar mais um volume de 450 páginas, sobre a «Ferrovia em Trás-os-Montes - Memória do passado, luta do presente» no qual nos convida - a todos aqueles que ainda não desistimos - de usar a informação acerca da construção e funcionamento deste, apoiou durante décadas o abastecimento a Trás-os-Montes e que garantiu o escoamento das suas principais produções, como os cereais, a batata e todos os outros produtos próprios da região. Com toda a experiência de quem, como ele, gastou a vida prática a gerir uma das mais carenciadas regiões do país, afirma que a ferrovia é um tema fascinante para Trás-os-Montes. E que por isso entendeu reunir, num só documento, informação que permita fazer uma viagem de mais de século e meio, acompanhando o debate no parlamento e a reivindicação regional, a construção e o percurso de exploração e encerramento. Explica que «no ano de 1845 foi apresentada a primeira proposta para a construção do caminho de ferro de Lisboa ao Porto, Bragança, até à fronteira, em direção ao norte e centro da Europa; foi no ano de 1853 que em Lisboa foram assentes os primeiros carris; e trinta anos depois, no ano de 1883 se iniciou a construção da Linha do Tua, tendo a última estação ferroviária, em Trás- os-Montes, em Duas Igrejas, sido inaugurada, em 1938. Isto acontecia 85 anos depois de iniciada a construção da ferrovia em Portugal.

António Jorge Nunes recorda também que os distritos de Bragança e de Vila Real foram os últimos a beneficiar da viação acelerada. O que comprova que os políticos transmontanos, que nos antecederam, sempre foram, pelos tempos fora, os mais sacrificados, os mais explorados, os maiores sofredores. E também reza a História que desde o início da fundação da nacionalidade (1096) a partir da Batalha de S. Mamede e, nos anos seguintes, enquanto D. Tereza governou o Condado Portucalense, quer ela quer o filho, Afonso Henriques, tiveram as costas quentes na liderança pelo império nascente ao lado de nomes de confiança dos sucessivos reis. Por alguma razão se distinguiu a geração da Casa de Bragança e os nobres que pontificaram desde a Casa de Avis, onde sempre se recrutaram as personalidades régias.

Por onde andarão os historiadores profissionais que chegam às universidades, públicas e privadas e, que tendo a liberdade de escolher os temas para as teses de mestrado e/ou doutoramento, raramente investigam a história medieval?

A revolução dos cravos não teve somente notícias positivas. Rosado Correia, por exemplo, foi um destruidor sistemático que deixou às escuras o património a norte do Rio Douro. Adivinhava-se que mais dia menos dia, aquilo que existia no seu tempo de ministro e que foi «extinto e mal parado», deveria ser prosseguido, como estava previsto no tempo do Estado o Novo: ligar a linha do Minho, do poente para nascente, de modo a cobrir Braga, a Guimarães, Cabeceiras de Basto, Chaves, e também a linha do Douro, rumo a Bragança.

Esse político e outros que o coadjuvaram e aplaudiram, certamente, estão hoje arrependidos. E qualquer dia serão dos primos a clamar pela reabertura ferroviária que nalguns troços da linha nem chegaram ao meio século de serventia.

Ainda não tive tempo de ler as 450 páginas desta oportuníssima obra do Engº Jorge Nunes. Mas prometo ler e refletir: os prefácios (dos catedráticos: Ernesto Rodrigues, Fernando Sousa, a nota prévia do destemido ex-autarca e autor que somou intervenções parlamentares artigos científicos seus e outros de figuras que souberam do que falavam. E também excertos e 367 notas de rodapé.

  Sou do tempo em que durante dez anos (1952-1962) viajei na linha do Tâmega que gastava mais de quatro horas, para chegar da Régua a Chaves e vice-versa. Era uma linha estreia (ou reduzida). Construir essa linha, levou décadas, o mesmo sucedendo com os restantes: da Amarante- Arco de Baúlhe, da Trofa a Fafe, do Pinhão, de Mirandela e afins. A obra é um tratado histórico que fazia falta e que as gerações que se seguirem, poderão ler para conhecerem as dificuldades ferroviárias, sobretudo do Norte de Portugal.

O livro é ilustrado com muitas fotos, ora a cores, ora a preto e branco. Vale a pena conhecer as estações, troços sinuosos, orografia envolvente.

Lema d'Origem foi a gráfica que a comercializa. Mais um bom trabalho ao exato nível do volume dos Congressos Transmontanos, igualmente do Engº Jorge Nunes, (2022).

Barroso da Fonte


Sem comentários:

Enviar um comentário

Zelensky humilha o cleptocrata russo, Putin

Putin é um aldrabão, um assassino de guerra, um cleptocrata, que juntamente com os outros cleptocratas roubou o Estado Russo, ou seja, o Pov...

Os mais lidos