Enquanto região ruralizada, tem
vindo a ser considerada «a última colónia portuguesa», Trás-os-Montes, perante
os olhos do resto do mundo, foi sempre tida, cá dentro e lá fora, como campo de
experiências generalizadas, em horas de crise nacional. O meio ambiente foi
sempre hostil: planáltico, pedregoso e gelado.
O tempo, a orografia e a
distância foram sempre obstáculos, negativos. Quando o homem começou a dominar
a natureza e a perceber que poderia extrair: força, fruto, arte e agasalho,
Trás-os-Montes rendeu-se às experiências. E vieram: as barragens, as eólicas, o
lítio e as surpresas subterrâneas que empobreceram, quem já tinha partido, e
entregou o ouro ao bandido. Mas nem tudo está perdido.
António Jorge Nunes recorda
também que os distritos de Bragança e de Vila Real foram os últimos a
beneficiar da viação acelerada. O que comprova que os políticos transmontanos,
que nos antecederam, sempre foram, pelos tempos fora, os mais sacrificados, os
mais explorados, os maiores sofredores. E também reza a História que desde o
início da fundação da nacionalidade (1096) a partir da Batalha de S. Mamede e,
nos anos seguintes, enquanto D. Tereza governou o Condado Portucalense, quer
ela quer o filho, Afonso Henriques, tiveram as costas quentes na liderança pelo
império nascente ao lado de nomes de confiança dos sucessivos reis. Por alguma
razão se distinguiu a geração da Casa de Bragança e os nobres que pontificaram
desde a Casa de Avis, onde sempre se recrutaram as personalidades régias.
Por onde andarão os historiadores
profissionais que chegam às universidades, públicas e privadas e, que tendo a
liberdade de escolher os temas para as teses de mestrado e/ou doutoramento,
raramente investigam a história medieval?
A revolução dos cravos não teve
somente notícias positivas. Rosado Correia, por exemplo, foi um destruidor
sistemático que deixou às escuras o património a norte do Rio Douro.
Adivinhava-se que mais dia menos dia, aquilo que existia no seu tempo de
ministro e que foi «extinto e mal parado», deveria ser prosseguido, como estava
previsto no tempo do Estado o Novo: ligar a linha do Minho, do poente para
nascente, de modo a cobrir Braga, a Guimarães, Cabeceiras de Basto, Chaves, e
também a linha do Douro, rumo a Bragança.
Esse político e outros que o
coadjuvaram e aplaudiram, certamente, estão hoje arrependidos. E qualquer dia
serão dos primos a clamar pela reabertura ferroviária que nalguns troços da
linha nem chegaram ao meio século de serventia.
Ainda não tive tempo de ler as
450 páginas desta oportuníssima obra do Engº Jorge Nunes. Mas prometo ler e
refletir: os prefácios (dos catedráticos: Ernesto Rodrigues, Fernando Sousa, a
nota prévia do destemido ex-autarca e autor que somou intervenções
parlamentares artigos científicos seus e outros de figuras que souberam do que
falavam. E também excertos e 367 notas de rodapé.
Sou do tempo em que durante dez anos (1952-1962) viajei na linha do
Tâmega que gastava mais de quatro horas, para chegar da Régua a Chaves e
vice-versa. Era uma linha estreia (ou reduzida). Construir essa linha, levou
décadas, o mesmo sucedendo com os restantes: da Amarante- Arco de Baúlhe, da
Trofa a Fafe, do Pinhão, de Mirandela e afins. A obra é um tratado histórico
que fazia falta e que as gerações que se seguirem, poderão ler para conhecerem
as dificuldades ferroviárias, sobretudo do Norte de Portugal.
O livro é ilustrado com muitas
fotos, ora a cores, ora a preto e branco. Vale a pena conhecer as estações,
troços sinuosos, orografia envolvente.
Lema d'Origem foi a gráfica que a
comercializa. Mais um bom trabalho ao exato nível do volume dos Congressos
Transmontanos, igualmente do Engº Jorge Nunes, (2022).
Barroso da Fonte
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