ESPRESSO
A história dos ajustes diretos e
de Bordalo II tem outro lado além da hipocrisia do artista em questão e do
ati-vismo seletivo do mundo mediático, que fica ultrassensí-vel quando os temas
em questão são vistos como temas à direita. Ser católico não é ser de direita
ou de esquerda, mas, no rígido esquema mental ‘progressista’, nada disso
importa e a Igreja é da direita e ponto final. Se estivésse-mos a falar de um
ajuntamento muçulmano ou inter-religioso, a urticária que este tema tem gerado
na bolha de “Lesboa” simplesmente não existiria. Há polémica porque é um evento
da Igreja Católica, a sempiterna vilã de um anticlericalismo empedernido e velho.
E esse segundo lado é este: a
Igreja tem mostrado um fair-play que tem faltado às esquerdas.
A atitude inquisitorial é hoje um
património das esquerdas, e não da Igreja. Quando confrontadas com autores que
consideram malditos, as esquerdas exigem cancelamentos e queimam livros,
literal e metaforicamente. A Igreja encaixa a crítica e segue. Repare-se só na
diferença. Bordalo II fez um cartoon a gozar com a JMJ, a Igreja encaixou e
defendeu a liberdade de expressão. Um grupo de professores fez um cartoon a
gozar com António Costa; perante a crítica, o PS e a esquerda em geral viram
ali "mau gosto" e até "racismo", não viram liberdade
crítica, algo que só deve ser atirado à Igreja e às causas rotuladas de
reacionárias e não sei quê.
De resto, a Igreja está a tratar
dos seus problemas com uma abertura que falta por completo às instituições
ditas de esquerda. Onde está o mea culpa da instituição que protegeu durante
décadas Boaventura Sousa Santos? E será que o PS, por exemplo, trata com esta
abertura os seus constantes problemas relacionados com a corrup-ção? Não me
façam rir. O PS protegeu e ainda protege um ex-primeiro-ministro corrupto que
destruiu o futuro de uma geração de portugueses. Sim, protege, porque é incapaz
de um mea culpa como aquele que a Igreja está a fazer.
Por tudo isto, torna-se ainda
mais oca a má-fé dos ilumi-nados em relação à JMJ, que tem animado Lisboa.
Aliás, pelos relatos que me chegam, a cidade não conhecia ale-gria e esta
energia há muito tempo.
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