Não existe nada de mais importante na vida de cada jovem do que o corpo docente que o espera, complemento direto do amor dos pais.
Francisco Moita Flores - FLASH
22 de janeiro de 2023
Nestes dias em que vemos os professores
em turbulência, em rebelião contra o Governo, denunciando práticas e costumes
de desprezo, e de violência, que acumulam há décadas e, por outro lado,
escutando as vozes de pais que exigem os seus filhos com aulas com o velho
argumento que já chega de greves, veio-me à memória o dr. Cruz, meu antigo
professor de Português e História. Cinquenta anos volvidos, está presente na
minha memória como se me tivesse despedido dele esta manhã.
Fui seu aluno durante o Estado Novo,
tempo em que greves eram proibidas e manifestações era coisa de que não se
falava. Especialista em Camões e amante da Língua Portuguesa, as suas aulas
foram a porta que se entreabriu e através da qual ganhei o prazer de encontrar
o caminho que me trouxe até aqui. Agora, que chega o meu entardecer e faço
balanços de vitória e de derrotas, não tenho dúvidas de que da legião de
professores que me ensinaram, só os encontrei por ter encontrado aquele homem
na minha vida.
Não existe nada de mais importante na
vida de cada jovem do que o corpo docente que o espera, complemento direto do
amor dos pais. Hoje, que estou velho, e os professores e o ensino são apenas
uma grande saudade, não posso deixar de me continuar a indignar pela
arbitrariedade, pela violência, pela indignidade com que os governos da
República maltratam estes faróis que iluminam os nossos caminhos futuros.
Ao longo destes dias, escutámos
testemunhos terríveis. Professores com 21 anos de ensino que mudaram 21 vezes
de escola. Que vivem no norte e são colocados no sul e vice-versa. Que
trabalham 20, 30 anos com contratos anuais e a termo certo. Que têm de
trabalhar em duas escolas para terem um horário que lhes garanta o ordenado
possível, que cuidam de alunos com problemas especiais, enxertado num mar de
200, 300 alunos. Histórias de horror a que os governos respondem com palavras
floreadas e vazias. Não admira que se tenham rebelado e provocado um verdadeiro
estrondo que a comunicação social, desta vez, cuidou com esmero.
É aqui que regresso ao meu professor de
Português. Num tempo em que a palavra Liberdade era proibida e aos seus
ensinamentos e ficou-me uma das muitas frases que lhe ouvi: "Os alunos são
os grandes amores da nossa vida. Ou melhor, são a nossa vida. Quem tratar mal
um professor, trata mal a Humanidade que em vocês floresce."
FONTE: https://www.flash.pt/cronicas/cumplices/francisco-moita-flores/detalhe/o-professor-cruz
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