quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Gralhas minha Terra minha Gente



Por  BARROSO  da  FONTE


Domingos Vaz Chaves veio ao mundo em Gralhas, encostada à serra do Larouco, a segunda mais alta de Portugal. A aldeia situa-se numa encosta, tipo cama de casal, com cabeceira para serra, braços para nascente-poente e pés para o mapa de Portugal. Há arqueólogos que defendem esse chão de Gralhas, de Solveira e de Vilar de Perdizes, como a histórica Caladuno ou Ciade, que era, nesses tempos longínquos, uma espécie de acampamento e de passagem obrigatória na rota de quantos iam ou provinham de Roma-Chaves-Braga.

Também há autores que mencionam Stº André, paredes-meias com Gralhas e Gironda, como berço de Viriato. Mais perto de nós tivemos as incursões de Paiva Couceiro que chegaram à fronteira para entrarem em Chaves. A entrada foi a rota de muitos séculos, provavelmente a Via XVII.

Lê-se nas fontes mais credíveis que a Via XVII do Itinerário de Antonino era uma das Vias Romanas que ligava Bracara Augusta a Astúrica Augusta (Astorga), passando esta por Aquae Flaviae (Chaves). «O seu trajeto iniciar-se-ia, tal como as restantes vias, no atual Largo Paulo Orósio, seguindo, em direção à zona leste do atual concelho, pelas atuais ruas do Alcaide, D. Pedro V e Nova de Santa Cruz, chegando até Gualtar. Daí, a via acompanharia de perto o rio Este até ao topo da Serra do Carvalho, até ao atual concelho da Póvoa de Lanhoso. Ainda hoje se preservam diversos miliários desta via, parte deles recolhidos no Museu D. Diogo de Sousa».


A fim de percorrer os caminhos da antiga Via, foi criada a Grande Rota 117, entre Braga e Chaves, pelos concelhos de Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Montalegre e Boticas, lê-se na mesma fonte arqueológica.

Com esta informação, colhida nas fontes mais seguras das ligações da Via XVII, pretendem valorizar as planuras dos povoados que gravitam, desde há muitos séculos, nos territórios Luso-Galaicos que afirmam ser a via mais importante de Roma a Braga, que distam 1.722 km.

Deixo este registo após a leitura de um dos primeiros testemunhos escritos de um filho desta freguesia Barrosã. Domingos Chaves é o seu nome e, até aos vinte anos, cirandou pela aldeia, ora como menino querido de seus avós maternos, ora como criança que entra na escola com outros meninos e que, aos sete anos, já na segunda classe, é levado para Lisboa, onde conclui a 4ª classe e inicia os estudos secundários. Aos 15 anos regressa a Gralhas e, estudando no Externato Liceal de Montalegre e trabalhando naquilo que era comum aos rapazes da sua idade. Em 1986, já com o curso Geral dos Liceus, reiniciou os estudos e, logo que concluiu o 12º ano, ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa,onde hauriu a formação jurista que lhe conferiu conhecimentos essenciais para ingressar na PSP, em 1981. Em 2012 somava já 6 medalhas e 4 louvores. Chegou a lecionar formação jurídica na Universidade Lusíada. E viveu, intensamente, a rebelião nacional dos «secos e molhados», em 1989 em Lisboa. Por essa altura publicou vários livros, alguns já esgotados: História da Polícia em Portugal - Formas de Justiça e Policiamento; Direito do Trabalho; História da Polícia para Crianças; História do Último Enforcado em Montalegre; O Sagrado no Imaginário Barrosão; Moralidade e Ética Policial e Relatos e Crimes do Arco da Velha.

Há cinco anos fundou a revista online Barrosana, que privilegia as Terras de Barroso, regularmente, com 80 páginas, integralmente a cores e que só peca por não sair em papel. Dispõe de uma boa dúzia de colaboradores, que versam temática diversificada e que o diretor e proprietário reencaminha, graciosamente, aos colaboradores e amigos.

No ano em que a Diocese de Vila Real completou um século de vida; e nesta mesma freguesia de Gralhas, funcionou o primeiro seminário dessa Diocese; e a Barrosana noticiou, em diversas edições, laivos de história que fizeram parte da historiografia deste idílico recanto do norte de Portugal.

Os contributos de Domingo Vaz Chaves, quer através da revista Barrosana, quer do imenso espólio etnográfico que ressuscitou, deveriam ser adicionados ao simbolismo da unidade hoteleira em que se transformou o edifício que serviu de Seminário entre 1922 e 1925 e que a autarquia deveria dilatar com o estatuto de “Casa do Conhecimento”. O signatário deste apontamento, já em democracia, logo após o 25 de Abril de 1974, propôs que ao referido imóvel fosse atribuído o estatuto de imóvel de interesse concelhio, o que foi feito.

Domingos Chaves, no seu livro «Gralhas minha Terra minha Gente» (Editora Cidade Berço, 2005), inseriu gravuras e textos informativos. Essa obra monográfica, mais a edição completa da revista, em papel, e outros pertences relacionados com aquele histórico edifício rural, deveriam ser integrados no sítio turístico e cultural da aldeia que, pela sua situação, pelo seu historial, lendário e efetivo, juntamente com o referido extinto seminário, seu doador e benemérito, deveriam ser integrados na rota das Casas do Conhecimento. Já noutras tribunas registei as mesmas propostas. Ou não percebo o conceito destes espaços, ou os responsáveis não leem os meus escritos, ou as minhas propostas colidem com visões ideológicas do programa Casas do Conhecimento.

Barroso da Fonte

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