ANTÓNIO MAGALHÃES
Cedinho e
com chuva.
É sempre
assim, amanhece cedinho.
Com
chuva…nem sempre.
Às vezes, a
rasgar, mesmo que lentamente, o crepúsculo da manhã,
Vem o sol
para raiar sobre a terra,
Para a
iluminar,
Para lhe dar
vida.
Se em dias
de calor, sinto uma brisa fresca que vem do mar, ou da montanha,
Invade-me
uma sensação quente e harmoniosa
Que vem de
dentro de mim
E sinto-me
feliz.
Raros
momentos em que penso estar de bem com a vida.
Se calhar, é
disso que mais saudades vou ter, quando morrer.
Será que
essa brisa a sinto, lá para onde vou?
Será que tu,
meu amigo, a sentes, lá onde estás?
Hoje
amanheceu. Cedinho e com chuva.
Amanhece
sempre muito cedinho. Mas com chuva…
Essa chuva
que hoje, enquanto me salpicava a cara à medida que dela tentava fugir,
Me invadiu
por mais uma sensação da qual já nem sequer me lembrava.
Resultado
talvez, do contraste entre o frio dos salpicos da chuva, e as faces ainda
amornadas pelo quente de uma noite no conforto do meu leito.
E lembrei-me
de ti.
Lembro-me
muitas vezes de ti.
Daqueles
tempos em S. João da Madeira em que começávamos o dia em correria, porque
estávamos sempre atrasados para o trabalho.
Das
correrias para o Centro de formação, à noite, para onde corríamos também,
sempre atrasados.
Das nossas
irresponsabilidades de jovens adolescentes, e do quanto nos divertíamos com
elas.
Gargalhadas
que não tinham preço.
Irresponsabilidades
que não tinham maldade.
Lembrei-me
de ti,
não só
porque as gotas frias da chuva,
ao baterem
na minha cara quando delas tentava fugir,
em contraste
com o mormaço das minhas faces,
resultado de
mais uma noite, apesar de tudo curta, me devolveu à lembrança outros tempos bem
mais áureos,
dos quais
tenho saudades.
Mas também
porque estamos em Outubro,
e este mês,
para todos nós que somos teus amigos,
nos devolve à
lembrança a dor de quem perde alguém que tanto estima.
Este mês que
nos devolve à lembrança que todos os dias são o nosso último dia,
e por isso o
temos de viver na sua plenitude, no melhor da nossa capacidade.
E
depois…quem sabe, se a canção que Vera Lynn imortalizou, estiver certa,
“Voltaremos
a encontrar-nos,
Não sabemos
onde
Não sabemos
quando
Mas sei que
voltaremos a encontrar-nos num dia ensolarado.”
António Magalhães
Dedicado ao
meu amigo Martins (Quim Luís), em mais um aniversário da sua abrupta partida para o
outro lado.
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