quinta-feira, 20 de outubro de 2022

As Alminhas na Diocese de Vil Real


BARROSO  da  FONTE



Monsenhor João Parente acaba de fazer 90 anos e tem um rasto de saberes que me apetece chamar-lhe uma enciclopédia. Através do coronel Dias Vieira fez chegar-me cinco livros deliciosos: 4 volumes com cerca de três mil páginas sobre a Idade Média no distrito de Vila Real e mais um volume «As Alminhas» na Diocese de Vila Real, com mais 530 páginas, encadernado e a cores, onde, por ordem alfabética de concelhos reúne e legenda 460 desses minúsculos sítios de fé, de saudade e de história local. 

A cultura e o saber que decorrem nestes monumentais cinco volumes sobre Trás-os-Montes bastariam para proclamar este cidadão Transmontano num pedestal da Avenida Carvalho de Araújo. Infelizmente esses pedestais e espaços públicos, destinam-se a figuras menores que se tornaram, lendariamente, maiores, por motivos fúteis e, quantas vezes, contra natura. Esta e outras ofertas, semelhantes, fizeram de mim um andarilho perdido, em busca do chão de onde vim e para onde penso voltar.

João Parente é um desses seres humanos que vieram ao mundo para comprovar que vale a pena viver para ensinar. Conheci-o e a muitos outros, na década de cinquenta do último século. Aprendi muito e um pouco de tudo, para poder guiar-me neste vale de lágrimas de cada dia. Andarilho pelo pôr do sol e cada anoitecer que chega, mais triste vivo, face às injustiças, aos desfalques, aos descréditos, às falsidades, à hipocrisia generalizada.


Se ainda tiver um rasgo de claridade talvez venha a publicar as minhas memórias, como penso que o Padre João Parente, já com 90 anos feitos, deveria fazer, pelas mágoas que lhe percebo, nas poucas vezes que o ouço.

Deixo-lhe aqui a gratidão pelo muito que me ensinou, não sendo meu professor formal. Com todos aprendi um pouco do que sei.

Desta vez quero dizer aos Vila-realenses que têm a paciência de me ler, que este Homem de cultura a que me refiro, nasceu em Vila Real, gastou muito do seu tempo para brindar as nossas raízes, com conhecimentos ancestrais que nos reconfortam e que devemos ter orgulho nos nossos antepassados.

No prefácio a esta obra rara, luxuosa e de fácil leitura, escreve que apenas dois autores, ambos de formação rudimentar, supriram os investigadores profissionais do medievalismo popular, já ambos faleceram e ambos pertenceram ao Alto Tâmega: Firmino Mendes e Fernando Moura. O primeiro, natural de Chaves, foi seminarista, sargento militar, vereador da cultura do seu concelho e sócio fundador número 1 da Revista Aquae Flaviae, semestral e a cores. Começou a publicar-se em 1986 e acaba de sair a edição 64, sob a direção da Drª Isabel Viçoso. É o Grupo Cultural Aquae Flaviae que suporta a publicação, desde há 36 anos ininterruptos e sempre com a frescura da  primeira edição. O autor da ideia dessa revista que preencheu um vazio cultural de séculos, logo após a sua morte, em 2007 foi dado o seu nome a rua de Chaves.

                                                                                                                      Fernando Moura, autodidata, natural de Montalegre e apaixonado pela sua terra e suas gentes, escreveu três livros e um deles foi sobre o tema das alminhas da região de Barroso. João Parente faz referência a estes dois autores, como os únicos transmontanos que, antes dele, inventariaram e mostraram  esses oráculos de tradição religiosa. O investigador chama a estes «pequenos monumentos que frequentemente se encontram em lugares isolados nas bermas dos caminhos, especialmente nas encruzilhadas que conduzem aos campos. São pequenos monumentos que quando a gente passa, na presença eles, descobre-se e, os crentes, murmuram silenciosas orações. Uns são feitos de granito, às vezes, de pedra lousinha.  Quem passa reza pelas almas daqueles que faleceram naquele sítio,  por morte súbita, por inimigos do foro da traição, ou por acidente de trabalho.

Habitualmente as «alminhas», mencionam quem ali morreu. Inscrevem no granito os nomes, as datas de nascimento e de morte, jaculatórias, e, quase sempre, de velas de cera, ou outras mais sofisticadas e ramos de flores.

O autor desta antologia de cariz religioso, reuniu as datações de 5 séculos, a saber: século I, um registo; século XVII,13 ; século XVIII, 47; século XX, 61; século XXI, 5. Sem data 333  alminhas.

Através dele fica a saber-se que das 460 «alminhas» que inventariou no distrito de Vila Real, Montalegre e Vila Real têm 84 (cada concelho). Alijó tem 41, Chaves 37, Valpaços 31, Boticas 29, Stª Marta de Penaguião 28; Vila Pouca Pouca de Aguiar 27; Ribeira de Pena, 23; Mondim de Basto 21; Régua e Sabrosa 18 cada; Murça 12; Mesão Frio, 7.

Uma obra séria, trabalhada por mãos de mestre que o poder político esqueceu e deixa  para memória futura

Do monumental tratado, de 4 volumes, encadernados sobre a Idade Média  no Distrito do  Distrito de Vila Real deste mesmo autor, que em 90 anos, foi um dos mais profícuos mecenas, que o distrito conheceu, falarei proximamente.

Barroso da Fonte


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