Em Agosto deste ano chegou-me às mãos um exemplar da mais recente antologia da Academia de Letras de Trás-os-Montes a que as duas coordenadoras chamaram «Memória de uma década». De facto esta estrutura Transmontana celebrou a escritura em Bragança, em 12 de Junho de 2010 e foram 15 os seus outorgantes, sendo apenas o sócio nº 4, oriundo do distrito de Vila Real. Já completou doze anos e vai na quarta direção que já foi reeleita. Apenas uma Senhora outorgou o ato fundacional. Segundo a listagem inserida neste volume, doze anos depois, já tem 239 associados, dos quais, 38 são escritoras. Com a chancela da Academia já foram publicados nove volumes, em que os autores colaboram em prosa e em verso.
A alma desta instituição cultural e de outros
movimentos extra - regionais tem sido a Câmara de Bragança, desde que Jorge
Nunes se empenhou em realizar, nessa cidade, em 2002, o III Congresso
Transmontano, com 1.300 participantes. O seu continuador, Hernâni Dias,
prosseguiu essa dinâmica que se alongou ao Grémio Literário de Vila Real. São
pioneiros estes modernos organismos que nasceram por força da iniciativa
autárquica e cujo funcionamento assenta na iniciativa privada. Bem pode
Trás-os-Montes congratular-se com o esforço dos seus naturais que o poder
político lhes sonegou, porfiadamente, desde 1920 quando, a Casa Regional de
Lisboa, notando o menosprezo sistemático dos mandões do Terreiro do Paço.
Esta dinâmica comunitária remonta ao ano de 1920, quando
os dirigentes daquela Casa Regionalista deram um pontapé no marasmo secular. O
século que entretanto decorreu inspirou os sucessivos agentes da mais distante
província do país, a serem autónomos.
O exemplo das Casas Regionais dispersas, desde essa
altura, pelo espaço da diáspora lusófona, estendeu-se a outros domínios. E em
termos culturais, bastará citar as estruturas mencionadas que revolucionaram
Vila Real, Bragança, Chaves, Mirandela, Valpaços e outros sítios que tudo fazem
para reagir, em diversas áreas de atividade.
A Academia de
Letras de Trás-os-Montes, nasceu um pouco, da saudável rivalidade que o Grémio
Literário de Vila Real despertou, graças ao entusiasmo de um punhado de jovens,
oriundos do Movimento Setentrião: Pires Cabral, António Cabral, Elísio Amaral
Neves, Alexandre Parafita, João Parente, Salvador Parente, Ângelo Minhava,
Joaquim Ribeiro Aires, José Dias Baptista, Caseiro Marques, Luísa Dacosta,
Floriano Fontes, João Madureira, Luís Mendonça, Alberto Miranda, Gonçalinho de
Oliveira, e outros cujos nomes já não me ocorrem.
Os autarcas da capital de distrito foram sensíveis e
congregaram essas vontades e projetos, no produtivo Monumento que se chama
Grémio Literário e que Pires Cabral, dirige e coordena, competentemente.
Jorge Nunes revolucionou Bragança e apoiou-se numa mão
cheia de fibra intelectual, com: Amadeu Ferreira, Ernesto Rodrigues, António
Afonso, António Tiza, Maria Idalina Alves de Brito, Pimenta de Castro, Manuel
A. Gouveia, etc.
Maria da Assunção Anes Morais e Maria Odete Costa
Ferreira, entraram na hora certa, na Direção deste barco que recolocaram na
rota certa da sua caminhada que se espera seja longa, segura e produtiva.
O volume de 254 páginas faz uma resenha histórica que
era necessária para dar sequência ao período mais conturbado que ocorreu com a
morte de um dos maiores cérebros da Academia: chamou-se Amadeu Ferreira e
deixou-nos um cheiro a Transmontanismo perpétuo. Ele e Ernesto Rodrigues
«caíram do céu» em cima do bolo, que passou a ser esta auto-estrada da Cultura
Transmontana.
Quem conhece mal esta agremiação cultural procure ter
esta antologia. Parte do historial já veio a público num volume da Revista
Brigantia, por iniciativa da ex-vogal do Conselho Fiscal das três primeiras
direções (de 2010 até 2017). De 44 associados, escrevem outros tantos
associados, que dão a conhecer o palmarés cultural dos 24 sócios honorários.
O mesmo volume insere 32 páginas a cores testemunhando
reuniões, presenças em atos associativos, momentos nobres para memória futura.
Finalmente reproduz, fac-similado, desde a página 219 até à 226, o texto
integral da outorga da Academia. Este documento é o abc da Instituição
que nos une. Por sinal logo na 1ª página desse documento demonstra-se que houve
duas irregularidades que convém ser anotadas.
O outorgante tem o número 4 e refere o nome do
signatário que nasceu no distrito de Vila Real. Estive lá com todo o gosto e
representei, os Vila-realenses. De outra forma a Academia, na sua origem,
apenas teria sócios Brigantinos. A numeração dos sócios faz-se, em primeiro,
com a ordem dos seus membros. Só depois continua a numeração com a chegada dos
aderentes a esse projeto. Ao signatário pertencia, ipso facto, o número
4.
O que aconteceu foi que na lista dos associados
efetivos, publicada nas páginas 227 a 231 o número 4 não aparece atribuído. E o
seu verdadeiro titular saltou para oitavo. Porquê?
Já o outorgante nº 9, se viu antecipado para 5º lugar,
quando este lugar pertencia, exatamente, ao que passou a ter o 6º.
A dinâmica diretiva da Academia de Letras de
Trás-os-Montes ganhou audiência não só no espaço geográfico que cobre, como em
todo o país real.
Bom é que livros como este e todos os que já saíram
apareçam a falar das origens de um povo escravizado, antes e depois da mudança
de regime.
Barroso da Fonte
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