segunda-feira, 18 de julho de 2022

NOTAS DE RODAPÉ (226 B) - In Memoriam – Manuel António Miranda

JORGE  LAGE



Chegou-me um exemplar via CTT, na bela capa tem um jerico e o memoriado, Manuel António Miranda, a cavalo numa posição como se fosse uma dama antiga. Na contracapa, com uma profusão de fotografias do mesmo e dizendo: «Um dia deixarás este mundo para trás, então, vive uma vida da qual te possas lembrar e valha a pena!». Ainda, na parte inferior da capa contém: «Factos Vividos e Convividos, Durante uma Vida de Quase, Quase… 100 Anos, 1908.08.06 – 2008.01.07».

In Memoriam Manuel António Miranda, sendo autor, Domingos Miranda, impresso na «Artegráfica Brigantina – Bragança», com apoio da Junta de Freguesia de Quintanilha, mas sem ISBN. O livro com 174 páginas conta-nos a história de vida, ao longo do tempo vivido, do memoriado, numa linguagem simples e num discurso, por vezes com alguns rodeios, mostrando algum «mastigar» do que nos vai dizendo.

Os episódios que nos vai relatando o autor, Domingos Miranda, seu filho, também viveu alguns e outros viveu-os do versado que foi seu pai.

Curioso é vermos como se foi documentando com livros sobre o tratamento de animais, tendo feito um trabalho altruísta e notável, num tempo em que os veterinários não chegavam às aldeias distantes ou não os havia. O seu trabalho era tão requisitado que até um ou outro ferido se recusava a ir ao hospital e preferia ser suturado por este «veterinário prático de aldeia». Certo é que os mesmos ficavam curados e sem cicatrizes como se fosse um bom cirurgião. Houve, até, uma equipa de saúde de um hospital da capital que lhe enviou gaze, linha e ligaduras para o ajudar a melhor desempenhar este trabalho, já que antes usava linha de costura.

O protagonista era lavrador e em simultâneo comerciante da aldeia, registando os desmandos prepotentes de uma ou outra autoridade, ao ponto de ter estado preso preventivamente.

Conta-nos algumas histórias raianas em que aparecem contrabandistas, vigaristas e passadores.  Os trabalhos do campo também são descritos, com algumas peripécias.

A família não é esquecida, esposa, filhos e netos, outros familiares entram neste desfio de memórias.

Os trabalhos de pedinchice para se obterem melhoramentos em Quintanilha, o arranjo de estradas, o lançamento de pontes e pontãos.

Quem gostar de Quintanilha ou queira saber como foi evoluindo a vida numa aldeia e no mundo rural ao longo de quase um século tem aqui um livro que merece ser lido, enriquecendo-nos e fazendo-nos sonhar. Um bom documento antropológico para uma história monográfica mais abrangente. Obrigado ao autor e a quem me quis bafejar com este exemplar.

Suponho que a Junta de Freguesia de Quintanilha terá alguns exemplares ou indicará como se deve adquirir.

Jorge Lage

 

Nota: Não me consigo lembrar de quem me enviou este livro, pelo que não posso agradecer, a não ser por este meio. O meu muito obrigado.


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