894 anos depois, nos Campos de S.
Mamede, reescreve-se a História de Portugal
Por BARROSO da FONTE
Domingos Bragança proferiu,
porventura, o discurso mais simbólico que os Portugueses pretendiam ouvir, como
passo decisivo para dar à Lusofonia o verdadeiro dia de Portugal. É que sendo
possivelmente, a Nação mais antiga da Europa, o poder democrático, teima em
celebrar esse dia em 10 de Junho que foi uma data imposta pelo Estado Novo.
Mariano Felgueiras era autarca nesse período e, deliberou escolher esse dia, em
homenagem à morte de Luís de Camões, acrescendo-lhe o dia da Raça. O poder
político, enquanto não teve maioria absoluta na Cidade Berço, encontrou
entendimentos para absoluta neutralidade. Em 1990 António Magalhães, que até aí
sempre marcara presença no Parlamento, transformou a maioria em data de
inaugurações. E o consenso democrático foi desperdiçado pelo terceiro
Presidente da República que maiores razões teria por ser coerente com as
maiorias o seu povo lhe garantia.
A substituição de Magalhães por
Domingos Bragança, à frente dos destinos do concelho, deram ao economista a garra
para dia 24 de Junho deste ano, moralizado pelo associativismo, mormente pela
Grã Ordem Afonsina, proferir a mais coerente historicidade Lusófona.
DOMINGOS BRAGANÇA |
Ele próprio formulou e respondeu à pergunta:
- «que importância atribuir a uma
batalha que deu início à história de um povo e de um país?»
- Só poderá ser uma a importância desta data histórica, que dá início à fundação de Portugal. É iniludível. Para Guimarães e para Portugal. Em 2028 terão passado 900 anos deste grande feito que foi a Batalha de S. Mamede. E não deixa de ser singular que, numa altura em que comemoramos o passado, estejamos a olhar para o futuro. Mas não foi a olhar para o futuro o que fez o Infante Afonso Henriques?». Oportuna pergunta e excelente resposta deu o Presidente da Câmara ao seu antecessor, que numa entrevista ao Notícias de Guimarães da época confessou:
«de facto sou bacharel em História,
mas de história percebo pouco».
ANTÓNIO XAVIER (Presidente da CMG entre 1986-1990) |
Já recordei que, desde a revolução
dos cravos, até 1990, enquanto não houve maiorias absolutas na eleição do
Executivo municipal, sempre que se preparava o programa do feriado concelhio,
sabia-se que havia total consenso entre todas as forças representadas nos órgãos
autárquicos. Incluindo em: 1987e 1988, enquanto o então presidente António
Xavier, com a saída do Prof. Lemos Damião para o Parlamento, não concedeu meios
tempos, a todos os vereadores da oposição. Tal saída permitiu-lhe reformular o
executivo, incluindo vereadores dos outros partidos: PS, CDS e PCP. Foi um
exemplo de verdadeira democracia por parte de António Xavier.
Até ali, no dia da Batalha de S.
Mamede, DIA UM DE PORTUGAL, sempre os Chefes de Estado marcavam presença,
reavivando o sonho de trocar o 10 pelo 24 Junho.
Com a entrada de Jorge Sampaio no
cargo de Chefe de Estado, a primeira decisão que tomou foi: vir, nesse dia à
terra de seu Pai, Arnaldo Sampaio, dizer, categoricamente: «Feriado Nacional
não! Porque as datas e os símbolos nacionais não devem ser revistos».
Total mentira da mais alta figura
do Estado! E para espanto da maioria dos cidadãos vimaranenses
(que, desde há quase nove séculos, reclamam o acerto do
calendário da História de Portugal), os convidados presentes na
sessão sublinharam aquela baboseira histórica, com uma ruidosa salva de
palmas...
Entretanto, passaram quase trinta
anos de inaugurações em Guimarães. E só em 2009 surgiu um movimento popular que
se negou a celebrar, então, oficialmente, os 900 anos do nascimento do nosso
primeiro Rei. Esse movimento cívico passou a celebrar o aniversário do rei
fundador em cada 25 de Julho, que é a data defendida pela tradição.
Mas a Câmara de Viseu conseguiu
apoios estatais para impor, naquela cidade, uma data e um local sem nexo, para
o nascimento do Rei D. Afonso Henriques.
Até 27 de Janeiro de 2009, a
presidente da Academia de História, sempre defendera a tradição: «Afonso
Henriques nasceu em Guimarães, possivelmente, em 25 de Julho de 1111».
Paradoxalmente Manuela Mendonça, abjurou toda a sua carreira científica, em 16
de Setembro, desse mesmo ano, ao ameaçar a retirada dos manuais escolares, a
troca de Guimarães por Viseu, em 5,6 ou 15 de Agosto de 1109».
Cambalhota científica, vociferada,
através das televisões, durante o Congresso esdrúxulo, de Viseu, proferido urbi
et orbi, apenas travado, no Centro medieval História, em Lisboa,
pelo corajoso José Mattoso, em 14 de Dezembro desse ano, urbi et orbe,
que - afinal - Afonso Henriques nascera em Viseu, em «5, em 6 ou em 15 de Agosto
de 1109».
E que, na qualidade de Presidente
da Academia Portuguesa de História, tudo iria fazer para trocar, nos manuais escolares nacionais,
Guimarães por Viseu, como local de nascimento do rei.
O signatário deste texto, desde
1990 congeminava uma espécie de teoria histórica, a partir do mediatismo de A.
de Almeida Fernandes e do conluio de um seu genro que lecionava na Universidade
Nova de Lisboa.
Esse docente de História foi Presidente
do Júri do «Prémio Nacional de História Medieval, com o nome de A. de Almeida
Fernandes». Eram vencedores regulares desse Prémio, alunos e/ou orientandos
seus. Além disso esse docente fazia parte da Academia Portuguesa de História,
desde aquela data até ao presente. E já estamos em 2022.
Todo este processo está explicado na «Saga da Santidade de D. Afonso Henriques», da Fundação Lusíada, Guimarães, 2017. Vejam-se as páginas 331 a 350 daquela obra.
A polémica serenou. Mas o mesmo não
fez a Grã Ordem Afonsina que, em 13 de Fevereiro de 2019, obteve personalidade
jurídica. Não fora a pandemia e outros passos se teriam dado.
Finalmente o poder local centrou em
S. Mamede, os holofotes do nono centenário, fixando a data geracional: 24 de
Junho de 1128. Daqui até 1179, foram 51 anos sazonados, em lume brando, mas
todos eles importantes, para o reconhecimento da Nação completa, sem atropelos
e com créditos em todos os quadrantes da Lusofonia.
Nos quase quatro anos de
personalidade jurídica, a Grã Ordem Afonsino sempre dialogou, em termos
institucionais, com o poder político.
Em 24 de Junho de 2020, perante a
presença da Vice-Presidente da autarquia, doze instituições do concelho de
Guimarães, assinaram um protocolo, denominado Estrutura de Missão.
Em 24 junho último Domingos
Bragança, na qualidade de Presidente da Câmara da Cidade Berço, na sessão
solene que anualmente decorre no salão Nobre do Paço dos Duques de Bragança,
com a mesma garra com que, em 20 de Junho de 2020, se assumiu essa Estrutura de
Missão, igualmente urbi et orbe, proferiu as linhas gerais que, de ora
em diante, o Berço da Nacionalidade que nos identifica e que em 5 de Maio de
2019 , implicitamente, a comprometeram a «apoiar a Câmara, na criação de uma
Estrutura de Missão que junte personalidades e instituições, públicas e
privadas, associações culturais e demais forças vivas de Guimarães, de Portugal
e do Espaço Lusófono, com vista a estruturar e a implementar em Guimarães o
grande farol da cultura Lusíada para futuramente iluminar e mover a defesa e
divulgação da paideia lusa por todo o mundo».
Dois anos depois, Domingos Bragança
honrou «esta estrutura de Missão ao destacar o dia de 24 de Junho que é
importante para Guimarães e para Portugal. Criaremos uma comissão que se
encarregará de preparar as comemorações dos 900 anos da Batalha de São Mamede».
Já cá não estarei em 2028. Mas este compromisso me basta para ter, com outros,
exarado esta promessa no seu discurso dos 894 anos de Portugal.
Barroso da Fonte
O Sr. Doutor é a lamparina que alumia para o "Norte", que alumia o povo nortenho. Se se apaga a lamparina, o Norte fica para sempre num obscurantismo forçado e habitual, por gentinha que se sentem "iluminada..." -"contra os canhões marchar, marchar "...!
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