quinta-feira, 28 de julho de 2022

De Sampaio a Marcelo e de Magalhães a Bragança - Ideologia a mais e História a menos

 

894 anos depois, nos Campos de S. Mamede, reescreve-se a História de Portugal


Por  BARROSO  da  FONTE


Dia 24 de Junho último e na presença do Ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro que representou o Governo, Domingos Bragança, Presidente da Câmara Vimaranense, sacudiu o pó que Jorge Sampaio, ali espargiu no mesmo dia de 24 de Junho de 1997. Sampaio foi muito infeliz quando, na primeira visita que fez, oficialmente à Terra de seu Pai, foi perentório ao dizer não à transformação do feriado local em feriado nacional.

Domingos Bragança proferiu, porventura, o discurso mais simbólico que os Portugueses pretendiam ouvir, como passo decisivo para dar à Lusofonia o verdadeiro dia de Portugal. É que sendo possivelmente, a Nação mais antiga da Europa, o poder democrático, teima em celebrar esse dia em 10 de Junho que foi uma data imposta pelo Estado Novo. Mariano Felgueiras era autarca nesse período e, deliberou escolher esse dia, em homenagem à morte de Luís de Camões, acrescendo-lhe o dia da Raça. O poder político, enquanto não teve maioria absoluta na Cidade Berço, encontrou entendimentos para absoluta neutralidade. Em 1990 António Magalhães, que até aí sempre marcara presença no Parlamento, transformou a maioria em data de inaugurações. E o consenso democrático foi desperdiçado pelo terceiro Presidente da República que maiores razões teria por ser coerente com as maiorias o seu povo lhe garantia.

A substituição de Magalhães por Domingos Bragança, à frente dos destinos do concelho, deram ao economista a garra para dia 24 de Junho deste ano, moralizado pelo associativismo, mormente pela Grã Ordem Afonsina, proferir a mais coerente historicidade Lusófona.

DOMINGOS  BRAGANÇA

 Ele próprio formulou e respondeu à pergunta:

- «que importância atribuir a uma batalha que deu início à história de um povo e de um país?»

- Só poderá ser uma a importância desta data histórica, que dá início à fundação de Portugal. É iniludível. Para Guimarães e para Portugal. Em 2028 terão passado 900 anos deste grande feito que foi a Batalha de S. Mamede. E não deixa de ser singular que, numa altura em que comemoramos o passado, estejamos a olhar para o futuro. Mas não foi a olhar para o futuro o que fez o Infante Afonso Henriques?». Oportuna pergunta e excelente resposta deu o Presidente da Câmara ao seu antecessor, que numa entrevista ao Notícias de Guimarães da época confessou:

«de facto sou bacharel em História, mas de história percebo pouco».

ANTÓNIO XAVIER
(Presidente da CMG entre 1986-1990)

Já recordei que, desde a revolução dos cravos, até 1990, enquanto não houve maiorias absolutas na eleição do Executivo municipal, sempre que se preparava o programa do feriado concelhio, sabia-se que havia total consenso entre todas as forças representadas nos órgãos autárquicos. Incluindo em: 1987e 1988, enquanto o então presidente António Xavier, com a saída do Prof. Lemos Damião para o Parlamento, não concedeu meios tempos, a todos os vereadores da oposição. Tal saída permitiu-lhe reformular o executivo, incluindo vereadores dos outros partidos: PS, CDS e PCP. Foi um exemplo de verdadeira democracia por parte de António Xavier.

Até ali, no dia da Batalha de S. Mamede, DIA UM DE PORTUGAL, sempre os Chefes de Estado marcavam presença, reavivando o sonho de trocar o 10 pelo 24 Junho.

Com a entrada de Jorge Sampaio no cargo de Chefe de Estado, a primeira decisão que tomou foi: vir, nesse dia à terra de seu Pai, Arnaldo Sampaio, dizer, categoricamente: «Feriado Nacional não! Porque as datas e os símbolos nacionais não devem ser revistos».

Total mentira da mais alta figura do Estado! E para espanto da maioria dos cidadãos vimaranenses

(que, desde há quase nove séculos, reclamam o acerto do calendário da História de Portugal), os convidados presentes na sessão sublinharam aquela baboseira histórica, com uma ruidosa salva de

palmas...

Entretanto, passaram quase trinta anos de inaugurações em Guimarães. E só em 2009 surgiu um movimento popular que se negou a celebrar, então, oficialmente, os 900 anos do nascimento do nosso primeiro Rei. Esse movimento cívico passou a celebrar o aniversário do rei fundador em cada 25 de Julho, que é a data defendida pela tradição.

Mas a Câmara de Viseu conseguiu apoios estatais para impor, naquela cidade, uma data e um local sem nexo, para o nascimento do Rei D. Afonso Henriques.

Até 27 de Janeiro de 2009, a presidente da Academia de História, sempre defendera a tradição: «Afonso Henriques nasceu em Guimarães, possivelmente, em 25 de Julho de 1111». Paradoxalmente Manuela Mendonça, abjurou toda a sua carreira científica, em 16 de Setembro, desse mesmo ano, ao ameaçar a retirada dos manuais escolares, a troca de Guimarães por Viseu, em 5,6 ou 15 de Agosto de 1109».

Cambalhota científica, vociferada, através das televisões, durante o Congresso esdrúxulo, de Viseu, proferido urbi et orbi, apenas travado, no Centro medieval História, em Lisboa, pelo corajoso José Mattoso, em 14 de Dezembro desse ano, urbi et orbe, que - afinal - Afonso Henriques nascera em Viseu, em «5, em 6 ou em 15 de Agosto de 1109».

E que, na qualidade de Presidente da Academia Portuguesa de História, tudo iria fazer para trocar, nos manuais escolares nacionais, Guimarães por Viseu, como local de nascimento do rei.

O signatário deste texto, desde 1990 congeminava uma espécie de teoria histórica, a partir do mediatismo de A. de Almeida Fernandes e do conluio de um seu genro que lecionava na Universidade Nova de Lisboa.

Esse docente de História foi Presidente do Júri do «Prémio Nacional de História Medieval, com o nome de A. de Almeida Fernandes». Eram vencedores regulares desse Prémio, alunos e/ou orientandos seus. Além disso esse docente fazia parte da Academia Portuguesa de História, desde aquela data até ao presente. E já estamos em 2022.

Todo este processo está explicado na «Saga da Santidade de D. Afonso Henriques», da Fundação Lusíada, Guimarães, 2017.  Vejam-se as páginas 331 a 350 daquela obra.

A polémica serenou. Mas o mesmo não fez a Grã Ordem Afonsina que, em 13 de Fevereiro de 2019, obteve personalidade jurídica. Não fora a pandemia e outros passos se teriam dado.

Esta Grã Ordem Afonsina nasceu com propósitos locais e nacionais. Não é contra ninguém. E, nascendo de uma polémica provocada pelos erros históricos, pretende, acima de tudo, aprofundar a verdade histórica. Essencialmente privilegiando a ciência à luz dos factos. À falta deles, seguir a tradição, mas sem ziguezaguear, em função do amiguismo, do clubismo, da parceria e do talvez.

Finalmente o poder local centrou em S. Mamede, os holofotes do nono centenário, fixando a data geracional: 24 de Junho de 1128. Daqui até 1179, foram 51 anos sazonados, em lume brando, mas todos eles importantes, para o reconhecimento da Nação completa, sem atropelos e com créditos em todos os quadrantes da Lusofonia.

Nos quase quatro anos de personalidade jurídica, a Grã Ordem Afonsino sempre dialogou, em termos institucionais, com o poder político.

Em 24 de Junho de 2020, perante a presença da Vice-Presidente da autarquia, doze instituições do concelho de Guimarães, assinaram um protocolo, denominado Estrutura de Missão.

Em 24 junho último Domingos Bragança, na qualidade de Presidente da Câmara da Cidade Berço, na sessão solene que anualmente decorre no salão Nobre do Paço dos Duques de Bragança, com a mesma garra com que, em 20 de Junho de 2020, se assumiu essa Estrutura de Missão, igualmente urbi et orbe, proferiu as linhas gerais que, de ora em diante, o Berço da Nacionalidade que nos identifica e que em 5 de Maio de 2019 , implicitamente, a comprometeram a «apoiar a Câmara, na criação de uma Estrutura de Missão que junte personalidades e instituições, públicas e privadas, associações culturais e demais forças vivas de Guimarães, de Portugal e do Espaço Lusófono, com vista a estruturar e a implementar em Guimarães o grande farol da cultura Lusíada para futuramente iluminar e mover a defesa e divulgação da paideia lusa por todo o mundo».

Dois anos depois, Domingos Bragança honrou «esta estrutura de Missão ao destacar o dia de 24 de Junho que é importante para Guimarães e para Portugal. Criaremos uma comissão que se encarregará de preparar as comemorações dos 900 anos da Batalha de São Mamede». Já cá não estarei em 2028. Mas este compromisso me basta para ter, com outros, exarado esta promessa no seu discurso dos 894 anos de Portugal.

Barroso da Fonte

1 comentário:

  1. O Sr. Doutor é a lamparina que alumia para o "Norte", que alumia o povo nortenho. Se se apaga a lamparina, o Norte fica para sempre num obscurantismo forçado e habitual, por gentinha que se sentem "iluminada..." -"contra os canhões marchar, marchar "...!

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