quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Ertugrul, a saga de um guerreiro

Sultanato de Rum na Anatólia - 1215
O povo Turco descende das tribos nómadas da Ásia Central. Ficaram conhecidos  por Turcomanos. Algumas dessas tribos, no século X, deslocaram-se para a Rússia, China e Índia. Outras atacaram a Anatólia sob o domínio Bizantino. A dada altura um grupo destes Turcomanos, os Seljúcidas, separou-se e avançou para Oriente. No século XI invadiram a Pérsia. Bagdade caiu em 1055 e aí se estabeleceu o Grande Sultanato Seljúcida, comandado pelo califa Tugrul Bey que governou grande parte do mundo islâmico (no século X os Seljúcidas converteram-se à religião muçulmana). Os bizantinos foram derrotados em Malezgirt (e o seu imperador foi feito prisioneiro) pelos Seljúdicas, em consequência disso a Anatólia foi dividida em vários estados islâmicos, onde o de Rum (sediado em Niceia) se tornou o mais poderoso. Com a chegada dos cruzados, o equilíbrio de poderes sofreu alterações. Os cruzados fundaram o principado de Antioquia e o condado de Edessa, e os Seljúcidas mudaram a sua capital para Konya.

O Sultanato de Rum prosperou em todas as actividades humanas com os laços que criou no Mediterrâneo.

No século XII surge uma ameaça a toda esta prosperidade – as invasões mongóis. Os sultões seljúcidas tornaram-se em meros vassalos dos mongóis até 1308. Os mongóis governaram a Anatólia até 1335. Nessa altura começaram a organizar-se Beilicados turcomanos rebeldes. Contudo, foi o pequeno Emirato de Ertugrul, sediado em Eskisehir, que triunfou.


É sobre a história deste guerreiro que esta série magnifica se desenvolve. Osman, o filho de Ertugrul fundou um dos maiores impérios da História – o Império Otomano.

Estruturada como uma novela (iniciada em 2014-15) distribui-se em seis temporadas e quatrocentos e tal episódios. A acção desenvolve-se sob o prisma oriental, onde os Templários são os “maus da fita” e onde o Alcorão é recitado em várias cerimónias. Contudo, sabendo filtrar o bem do mal, 90% da série fundamenta-se em princípios universais como a honra, lealdade, amizade, o bem comum, etc.

As mulheres eram respeitadas e treinavam como os homens, preparando-se para a guerra. Os costumes, as tradições, a música, a cultura turca e outros valores sobressaem nesta série, assim como o místico Ibn Arabi. Muita ficção, de facto, mas fundamentada em personagens reais. Os jogos de poder, são notavelmente retratados.

A história é baseada em fatos reais. O Bei Ertugrul, nascido em 1198 e falecido em 1281 existiu. Era um dos quatro filhos do Bei Suleyman Xá e de sua esposa Haime Hatun. A sua tribo, a dos turcos Kayis, ficava no norte do Irão, mas era constantemente atacada pelos mongóis e perseguida pelos Templários (cavaleiros cristãos) que tinham sede em Jerusalém. Com as batalhas, os Kayis foram obrigados a deslocar-se para Alepo, mais ao norte. O pai de Ertugrul morre na viagem e ele assume-se como Bei aos 29 anos de idade. Bei Ertugrul apaixona-se pela sultana Halime, filha do Sultão de Rum, na região da Anatólia,  também perseguido pelos Templários. A sultana Halime casa-se com Ertugrul e passa a chamar-se Halime Hatun. Tiveram quatro filhos, entre eles o sucessor de Ertugrul, Osmâ I, considerado o fundador do Império Turco Otomano.

Existem temporadas (1ª e 2ª) dobradas em espanhol, e muitos episódios em inglês. Uma forma de contornar a língua turca.

Mesmo vendo a série em língua turca percebe-se, porque os actores, excelentes, comunicam por si só, com gestos, olhares, sinais …

A actual situação no Afeganistão, provocada pelo abandono das tropas americanas e da Nato, pode ajudar-nos a compreender melhor esta série televisiva. Ou o contrário. Esta série pode ajudar-nos a compreender a actual situação do Afeganistão.

Consulte este site:

https://www.dn.pt/cultura/porque-e-que-uma-serie-turca-de-televisao-e-um-sucesso-no-paquistao-12315722.html

Nota de fim de página

Império Seljúcida - 1200
1 - Convém aqui deixar algumas questões básicas: árabes, curdos, turcos e persas são grupos étnicos. Os árabes são o maior grupo étnico do Médio Oriente. São maioria no Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque, nos países da península Arábica e nos territórios sob a Autoridade Palestina. A sua origem provém da península Arábica e espalhou-se a partir do século VII, numa corrente migratória provocada pela expansão do islamismo, cujas principais correntes são os xiitas e os sunitas. Nem todo o muçulmano é árabe, nem todo o árabe é muçulmano.

Estes grupos étnicos diferentes, têm, todavia, ligações comuns como a língua – semita. A que se junta a língua hebraica. Poderão ainda partilhar a cultura e a mesma nação.

Reino Selêucida - 323 -  64 a.C
Os Turcos, são muitas vezes confundidos com os árabes. Isso deve-se, ao Império Turco-Otomano que dominou a Síria e o Líbano até a Primeira Guerra Mundial. Enquanto os persas usaram a Ásia Central como caminho para chegar ao Irão, os turcos são asiáticos de origem.

2- O império medieval Seljúcida, é quase um decalque do império Selêucida, originado pela fragmentação do império de Alexandre, o Grande, e que ficou nas mãos de um dos seus generais – Seleuco.


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