https://www.sipe.pt/artigos/a-importancia-da-escola
Por: Dr. Filinto Lima
Desde o dia 12 de março do ano
passado - pontuado pelo Comunicado do Conselho de Ministros que delineava
medidas extraordinárias de resposta à epidemia do novo coronavírus - a vida não
foi mais a mesma.
As escolas reorganizaram-se e
ajustaram-se a uma nova realidade, assumindo funções que vão além da missão que
habitualmente desenvolve.
A Escola Ensina!
O ensino e as aprendizagens
perseveraram, pese embora em moldes nunca antes equacionados, fazendo emergir
inúmeros constrangimentos. O ensino à distância convocou a conciliação de
esforços e a efetivação de parcerias, que, embora elogiáveis, nem sempre
resultaram eficazes; realço a iniciativa #EstudoEmCasa, assim como a
colaboração participada dos diferentes setores públicos e privados na tentativa
de esbater problemas que se impunham solucionar, um dos quais a atribuição de
equipamento informático e rede de internet a muitos discentes que não os
tinham;
Mas a urgência foi categórica na
vertente social!
A escola acolhe!
Decretados os confinamentos em prol
da Saúde de todos, as escolas permaneceram abertas, tendo acolhido os filhos
dos trabalhadores dos serviços essenciais, alunos com medidas adicionais e
aqueles que se encontravam em risco de abandono, por falta de equipamentos e/ou
internet em casa; equipas multidisciplinares (professores, técnicos,
terapeutas, pessoal não docente, etc.) realizaram um trabalho meritório na
linha da frente.
A Escola alimenta!
Muitos alunos continuaram a receber
as suas refeições, mormente o almoço, disponibilizadas pelas escolas ou pelas
autarquias, sobressaindo a essencialidade da proximidade para mitigar as questões
sociais.
A Escola cuida!
A Pandemia oprimiu sonhos, carreiras
e o bem-estar de muitos portugueses. Foi e é impensável a escola alhear-se
desta realidade e, nesse sentido, promoveu a criação de bancos alimentares, em
articulação com as entidades locais, que subsistem e auxiliam com bens
essenciais os seus alunos e respetivas famílias, muitas das quais viram a sua
condição financeira alterada pela crise causada pelo Covid-19.
O fortalecimento da solidariedade, o
respeito crescente pela vida humana, a valorização do convívio, agora
restringido, e uma maior consciência ambiental são valores, sentimentos e
comportamentos que assumidamente contribuirão para a inevitável mudança do
nosso estilo de vida. O isolamento e a distância incrementaram nos alunos o
apreço que já sentiam pela escola, pelas aulas e, sobremaneira, pelos seus
professores, levando-os a perceber que a socialização, a camaradagem e a
amizade demandam a presença física do outro nos mais diversos contextos.
Os professores foram (são)
incansáveis, e reinventaram a sua profissão em prol de uma Educação que
desejam, cada vez mais, Valente e Imortal, demonstrando características
excecionais:
Resiliência - alguém imaginou que,
sem aviso prévio, de um dia para o outro, literalmente, os nossos docentes,
dando o melhor de si com os meios que dispunham, estivessem a lecionar à
distância? Era previsível os discentes poderem aprender, dado os incontáveis
constrangimentos de um regime não presencial nunca antes experimentado? E, na
verdade, a capacidade de superar problemas é algo intrínseco à labuta diária
destes profissionais de excelência, que uma injusta e hipócrita avaliação de desempenho
não quer reconhecer;
Abnegação - no interesse máximo de
cada um dos seus alunos, os professores entrega(ra)m-se de modo altruísta,
arregaçando as mangas para responder a um desafio inédito; disponibilizaram
gratuitamente os seus meios digitais, despenderam horas infindáveis, também os
seus fins de semana, para que os seus alunos pudessem realizar as aprendizagens
com a serenidade e a confiança com que é pautado todo o ano letivo. Ao espírito
generoso característicos destes profissionais, deveria corresponder a
dignificação e valorização da carreira docente;
Adaptabilidade - ao longo deste
percurso sinuoso - que ainda nos encontramos a fazer - os professores têm
efetuado reajustes para aumentar a eficiência e eficácia do processo de
ensino/aprendizagem, intensificados no ensino remoto de emergência, adequando-o
às necessidades e limitações quer familiares quer territoriais; as autarquias e
o movimento associativo de pais e encarregados de educação foram parceiros
fulcrais, a par da sociedade civil. Numa fase posterior, a tutela fez chegar às
escolas os primeiros computadores - no âmbito do programa Escola Digital,
inicialmente para alunos beneficiários da ação social escolar dos anos de
escolaridade mais elevados, em seguida para os professores (resolvendo parte de
um problema maior). O acomodamento delineado por cada Agrupamento de escolas,
para fazer face às dificuldades impostas pela tutela, mostrou-se adequado, e a
estratégia usada teve em conta as características da respetiva comunidade
educativa.
Em suma, a Escola e os seus profissionais correspondem com elevação. Urge agora revitalizar a carreira docente, de modo a torná-la atrativa e dignificante. Existirá disponibilidade por parte dos responsáveis políticos?
Filinto Lima
Professor, diretor
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