domingo, 4 de abril de 2021

O 25 de Abril. Onde e como eu o Vivi ( 1 )

 "Reflexões JBM_ABRILc_2021" O 25 de Abril. Onde e como eu o Vivi. 

J. Barreiros Martins Prof. Cat. Emérito Jubilado da Univ do Minho

 

Hoje, nem os jovens nem os de meia idade se interessam em conhecer o 25 de Abri e menos se interessam por ver os CVs dos Autores da Tragédia.

Talvez que essa gente esteja a usar, sem o saber, a frase lapidar do Karl Max: “A História é um caixote de Lixo” (implicitamente se conclui que não vale a pena estudar a História dos povos e menos a de Portugal. Porém, conhecer os FACTOS contidos História dos de um Povo é fundamental para poder prever acontecimentos futuros agradáveis ou desagradáveis. Eu em toda a minha vida sempre usei o “Lema”: “Estudar para poder Prever e Prever para Prover (Providenciar a tempo)”.

Por isso, aqui vou relatar alguns FACTOS que “vivi” durante e após o 25 de Abril para as gerações minhas antecedentes poderem tirar algumas consequências para interpretação de alguns acontecimentos actuais.

Nessa data e semanas eu vivia na aldeia da minha Esposa em Vila Fria onde nos tivemos de “refugiar” como “Retornados” de Moçambique. Todos os dias eu tinha de dar aulas na “nascente” Universidade do Minho e a Albertina  tinha de dar consultas no Hospital de Barcelos. (Ainda não tínhamos arranjado forma de viver juntos em Braga).

Vínhamos numa camioneta que partia de Viana do Castelo, passava em Vila Fria e Barcelos e terminava em Braga. Claro que pelas rádios, TV e jornais acompanhávamos os acontecimentos diários. Porém a maior parte das pessoas que vinham na camionete não tinham meios e competência para fazerem o mesmo. Por isso, os Factos que iam acontecendo em Lisboa, principalmente, não eram do conhecimento dessas pessoas. Isto é, a Revolução dos Cravos” passava-lhes ao lado. Até que alguns “revolucionários” oportunistas que se diziam anti -clericais começaram a assaltar igrejas aqui no norte (e não só) donde roubavam as bases e peças de prata existentes derrubando o que, não sendo prata, não lhes servia. Os objectos de prata eram depois fundidos e feitas barras de prata que eram vendida a ourives, principalmente no estrangeiro. Nesses casos ´que os ladrões eram, desde logo, taxados de comunistas. E estas acções eram relatadas em voz alta pelas pessoas que connosco viajavam. Na volta a camionete partia do largo da município, dava a volta no na Praça Conde de Agrolongo  para se inserir na rua que levava à estrada que vai para Viana do Castelo via Barcelos. Ora, certo dia eu via que à saída no lado nordeste dessa Praça havia fogo no R/C de um edifício de 1º andar que tinha a bandeira vermelha do PCP. Para salvar os que estavam no 1º andar estava estacionado na rua um veículo blindado do Comando Operacional do Continente (COPCON), entidade dirigida pelo tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho, nascido em LMarques em 1936  e que tinha iniciado a carreira militar em Angola como alferes. O COPCON foi uma entidade criada pelo MFA (Movimento das Forças Armadas) enquadrado no Estado-Maior General Vasco Gonçalves para lidar com o Processo Revolucionário em Curso (PREC). Então, a camionete teve de contornar a Praça Conde de Agrolongo em sentido contrário e procurar outra rua para seguir o seu caminho para Barcelos e Viana do Castelo. Dentro da camionete ouviam-se vozes dizendo “é bem feito; tem de se queimar todos os edifícios que os comunistas ocuparam, já que andam a assaltar igrejas e a fazer coisas piores”.


Note-se que logo no dia em que a chamada “Revolução dos Cravos VERMELHOS” saiu vitoriosa chegaram a Lisboa três personalidades marcantes para o futuro imediato (e não só) da vida das populações residentes em Portugal: Mário Soares que veio de Paris, onde viveu, exilado, apoiado pelo Presidente da República Francesa Georges Pompidou; Manuel Alegre que veio da Argélia, país considerado “Não Alinhado” (com a União Soviética, o que era uma mentira). Manuel Alegre dava notícias em Português numa emissora chamada “Voz da Liberdade” que eu ouvia em Moçambique. Essas notícias eram todas de raiz moscovita. E Álvaro Cunhal que veio de Moscovo (URSS) que ele considerava a sua “Pátria Amada”, tanto que, tendo estado doente por duas vezes, logo correu para Moscovo para aí ser tratado.

Claro que havia nessa data e semanas seguintes um conjunto de “capitães” que rapidamente chegaram a majores e coronéis e outros já generais, todos desejosos de tomar conta das “rédeas” deste triste País. O Marcelo Caetano teve de se refugiar no Brasil onde, antes de aí morrer, deu prestimosas aulas de Direito numa Faculdade do Rio de Janeiro. Os donos dos bancos tiveram também de emigrar rapidamente, pois os bancos, nomeadamente o Banco Nacional Ultramarino (BNU), passaram a ser “Bancos do Povo”. Recordo-me de na Praça da República de Viana do Castelo haver um largo pano que dizia: BANCO DO POVO, e cobria a fachada do Banco Nacional Ultramarino. O Banco Nacional Ultramarino (BNU) e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) eram importantes “esteios financeiros” em Portugal e em todo o Ultramar, incluído Macau e Rio de Janeiro. Tendo sido “saneados” todos os dirigentes e donos dos bancos, que tiveram de se refugiar no Brasil ou noutros países europeus, as direcções de todos os bancos passaram para as mãos de pessoas inexperientes e incultas em matéria de Finanças, em geral afectas aos principais partidos. Por isso, todos os bancos portugueses dessa época estiveram à beira da falência. Só injecções maciças de dinheiro do Cofre do Estado salvaram a situação. Até se dizia que o Salazar tinha deixado uma “pesada herança” que eram várias tonelada de ouro no cofreforte do Banco de Portugal, que os revolucionários rapidamente “delapidaram”. E essas injecções de dinheiros dos cofres do Estado nunca foram suficientes para os banco equilibrarem as suas contas anuais. Por isso, todos os governos do PREC tiveram de recorrer ao fabrico na Casa da Moeda, de notas (em escudos) em largas quantidades. Era por demais evidente que essas acções, que ocorriam todos os anos, tinham efeitos altamente prejudiciais para TODOS os elementos da população residente pois causaram um inflação “galopante” , sendo os mais prejudicados os mais pobres, nomeadamente os trabalhadores e respectivas famílias, afinal tão “defendidos” pelo PCP e e outros partido “canhotos” então existentes. Por outro lado a moeda Escudo perdeu quase todo o seu valor, face ao dólar (USA) então “reinante”. Por isso, as empresas portuguesas que tinham de comprar maquinaria (para a CP, por exº) e produtos de consumo, como o Crude para o fabrico de Diesel e de Gasolina, não dispunham de dólares, e os escudos que anualmente recebiam do Estado, nem sequer davam para pagar ao pessoal que detinham. Daí que o Nº de acidente ferroviários e rodoviários tenha aumentado largamente, pois a Camionagem Privada tinha sido “Nacionalizada” e portanto era “Tudo” do Estado, como na então URSS.

(Continua)


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