J. Barreiros Martins Prof. Cat. Emérito Jubilado da
Univ do Minho
Hoje,
nem os jovens nem os de meia idade se interessam em conhecer o 25 de Abri e
menos se interessam por ver os CVs dos Autores da Tragédia.
Talvez
que essa gente esteja a usar, sem o saber, a frase lapidar do Karl Max: “A História é um caixote de Lixo”
(implicitamente se conclui que não vale a pena estudar a História dos povos e
menos a de Portugal. Porém, conhecer os FACTOS contidos História dos de um Povo
é fundamental para poder prever acontecimentos futuros agradáveis ou
desagradáveis. Eu em toda a minha vida sempre usei o “Lema”: “Estudar para
poder Prever e Prever para Prover (Providenciar a tempo)”.
Por
isso, aqui vou relatar alguns FACTOS que “vivi” durante e após o 25 de Abril
para as gerações minhas antecedentes poderem tirar algumas consequências para
interpretação de alguns acontecimentos actuais.
Nessa
data e semanas eu vivia na aldeia da
minha Esposa em Vila Fria onde nos tivemos de “refugiar” como “Retornados” de
Moçambique. Todos os dias eu tinha de dar aulas na “nascente” Universidade do
Minho e a Albertina tinha de dar
consultas no Hospital de Barcelos. (Ainda não tínhamos arranjado forma de viver
juntos em Braga).
Vínhamos numa camioneta que partia de Viana do Castelo, passava em Vila Fria e Barcelos e terminava em Braga. Claro que pelas rádios, TV e jornais acompanhávamos os acontecimentos diários. Porém a maior parte das pessoas que vinham na camionete não tinham meios e competência para fazerem o mesmo. Por isso, os Factos que iam acontecendo em Lisboa, principalmente, não eram do conhecimento dessas pessoas. Isto é, a Revolução dos Cravos” passava-lhes ao lado. Até que alguns “revolucionários” oportunistas que se diziam anti -clericais começaram a assaltar igrejas aqui no norte (e não só) donde roubavam as bases e peças de prata existentes derrubando o que, não sendo prata, não lhes servia. Os objectos de prata eram depois fundidos e feitas barras de prata que eram vendida a ourives, principalmente no estrangeiro. Nesses casos ´que os ladrões eram, desde logo, taxados de comunistas. E estas acções eram relatadas em voz alta pelas pessoas que connosco viajavam. Na volta a camionete partia do largo da município, dava a volta no na Praça Conde de Agrolongo para se inserir na rua que levava à estrada que vai para Viana do Castelo via Barcelos. Ora, certo dia eu via que à saída no lado nordeste dessa Praça havia fogo no R/C de um edifício de 1º andar que tinha a bandeira vermelha do PCP. Para salvar os que estavam no 1º andar estava estacionado na rua um veículo blindado do Comando Operacional do Continente (COPCON), entidade dirigida pelo tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho, nascido em LMarques em 1936 e que tinha iniciado a carreira militar em Angola como alferes. O COPCON foi uma entidade criada pelo MFA (Movimento das Forças Armadas) enquadrado no Estado-Maior General Vasco Gonçalves para lidar com o Processo Revolucionário em Curso (PREC). Então, a camionete teve de contornar a Praça Conde de Agrolongo em sentido contrário e procurar outra rua para seguir o seu caminho para Barcelos e Viana do Castelo. Dentro da camionete ouviam-se vozes dizendo “é bem feito; tem de se queimar todos os edifícios que os comunistas ocuparam, já que andam a assaltar igrejas e a fazer coisas piores”.
Claro
que havia nessa data e semanas seguintes um conjunto de “capitães” que
rapidamente chegaram a majores e coronéis e outros já generais, todos desejosos
de tomar conta das “rédeas” deste triste País. O Marcelo Caetano teve de se
refugiar no Brasil onde, antes de aí morrer, deu prestimosas aulas de Direito
numa Faculdade do Rio de Janeiro. Os donos dos bancos tiveram também de emigrar
rapidamente, pois os bancos, nomeadamente o Banco Nacional Ultramarino (BNU),
passaram a ser “Bancos do Povo”. Recordo-me de na Praça da República de Viana
do Castelo haver um largo pano que dizia: BANCO DO POVO, e cobria a fachada do
Banco Nacional Ultramarino. O Banco Nacional Ultramarino (BNU) e a Caixa Geral
de Depósitos (CGD) eram importantes “esteios financeiros” em Portugal e em todo
o Ultramar, incluído Macau e Rio de Janeiro. Tendo sido “saneados” todos os
dirigentes e donos dos bancos, que tiveram de se refugiar no Brasil ou noutros
países europeus, as direcções de todos os bancos passaram para as mãos de
pessoas inexperientes e incultas em matéria de Finanças, em geral afectas aos
principais partidos. Por isso, todos os bancos portugueses dessa época
estiveram à beira da falência. Só injecções maciças de dinheiro do Cofre do
Estado salvaram a situação. Até se dizia que o Salazar tinha deixado uma
“pesada herança” que eram várias tonelada de ouro no cofreforte do Banco de
Portugal, que os revolucionários rapidamente “delapidaram”. E essas injecções
de dinheiros dos cofres do Estado nunca foram suficientes para os banco
equilibrarem as suas contas anuais. Por isso, todos os governos do PREC tiveram
de recorrer ao fabrico na Casa da Moeda, de notas (em escudos) em largas
quantidades. Era por demais evidente que essas acções, que ocorriam todos os
anos, tinham efeitos altamente prejudiciais para TODOS os elementos da
população residente pois causaram um inflação “galopante” , sendo os mais
prejudicados os mais pobres, nomeadamente os trabalhadores e respectivas
famílias, afinal tão “defendidos” pelo PCP e e outros partido “canhotos” então
existentes. Por outro lado a moeda Escudo perdeu quase todo o seu valor, face
ao dólar (USA) então “reinante”. Por isso, as empresas portuguesas que tinham
de comprar maquinaria (para a CP, por exº) e produtos de consumo, como o Crude
para o fabrico de Diesel e de Gasolina, não dispunham de dólares, e os escudos
que anualmente recebiam do Estado, nem sequer davam para pagar ao pessoal que
detinham. Daí que o Nº de acidente ferroviários e rodoviários tenha aumentado
largamente, pois a Camionagem Privada tinha sido “Nacionalizada” e portanto era
“Tudo” do Estado, como na então URSS.
(Continua)
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