domingo, 25 de abril de 2021

25 de ABRIL... de VERDADE!


 25 de ABRIL... de VERDADE!

[Republico e atualizo este meu post porque a verdade merece persistência]

Amanhã, 25 de Abril de 2021, voltamos a assinalar a memória esta data marcante da nossa história recente. À semelhança de anos anteriores, regressará o desfile glorioso dos que se tornaram donos do feitos de tantos anónimos heróis, perfilando-se orgulhosos numa avenida para cujo nome nada contribuíram, ou se muito, apenas no apoio moral. Não foi nenhum deles que arriscou tudo na vida para nos resgatar a Liberdade, mas são estes os donos e herdeiros dos usurpadores que se arrogam o direito de proibir por simples razão ideológica outros, que legitimamente pretendem demonstrar, pelo exemplo, que nem a Democracia, nem a Liberdade, nem o 25 de Abril têm dono. O povo, o que mais ordena, não tem dono nem distinção por credo, raça ou ideologia política. 
Lá voltaremos a ver, portanto, o costumeiro desfile de vaidade, dos que longe dos holofotes que tanto apreciam e lhes alimenta a aparência, bem desejariam gritar a plenos pulmões "25 de Abril nunca... 25 de Novembro jamais".
Muitos dos 'grandes paladinos da liberdade' aí estarão a usufruir de um tempo de antena que não lhes pertencia, numa ribalta mediática que ano após ano repisa e vai reescrevendo a história, na visão dos usurpadores do feito de tantos anónimos que passaram à poeira da história... vamos de novo ouvir essa pérola da música de resistência ‘Grândola’ que marca o segundo sinal às companhias que se encontravam já a caminho, em condições como previsto. Vamos ouvir à exaustão o ‘E depois do Adeus’ que deu mote ao derradeiro arranque da grande operação libertadora. Vamos ouvir e ver, os mesmos de sempre como se de uma encenação por meia dúzia se tratasse, algures entre o quartel da pontinha e o largo do Carmo. 
Sou dos que tem orgulho nesta madrugada histórica. E sou dos que são gratos. Grato pela Liberdade que uns poucos tudo arriscaram para me legar, mas que tantos teimam em amordaçar.
Grato a muitos, mas não ao cortejo de usurpadores que se enchem das palavras nobres que a sua conduta renega. Em nome da Verdade, e em profunda gratidão aos que me fizeram livre – Obrigado!
É para esses que devem ir os aplausos e os cerimoniais, aos muitos que foram sendo 'apagados' da história. Uma história feita de risco, de medo e de sonho.
Sejamos honestos, defendamos a verdade… sejamos livres de dizer a verdade: o 25 de Abril foi um golpe operado por um movimento militar! Com benefício para todos os cidadãos, mas irrefutavelmente militar. A esquerda chama a si, há 47 anos sem contraditório nem vontade, a propriedade da vitória de abril, criando uma simbologia à boa medida da revolução russa, que tornou o uso do cravo convenientemente vermelho (como ensina a boa propaganda) e a designação “25 de Abril” uma marca quase exclusiva para o uso exclusivo de uma esquerda que se afirma assim a ‘dona da liberdade’, vedada a todos os demais. Uma espécie de feudo que impede a gleba de o defender. Um paradoxo de Liberdade e de Democracia!
Triste espetáculo dos que, ano após ano, sobem aos andores da nossa memória em busca dos aplausos  justamente merecidas pelos esquecidos capitães de Abril, os que verdadeiramente cerraram as fileiras rumo à liberdade. Onde andam os Capitães de Abril? Quantos já desapareceram desta vida no mais indecente e injusto anonimato?
A história da grande madrugada do 25 de Abril de 1974 foi convenientemente resumida ao posto de controlo da Pontinha, e ao cerco do quartel do Carmo – que segundo versões menos conhecidas, mas que constam da fita do tempo (o programa que cada uma das unidades tinha para cumprir) atribuem ao Batalhão comandado pelo Capitão Bicho Beatriz, e depois reforçado pelo Capitão Salgueiro Maia que viria negociar a rendição. Um morreu completamente esquecido, votado à poeira da história, o outro morreu elevado ao patamar de herói nacional (e bem resistiu à tentação dos holofotes que convenientemente lhe tentavam apontar, para justificar que outros também disso beneficiassem). Como se um e outro não tivessem estado do mesmo lado da barricada, como se um e outro não merecessem o mesmo estatuto de heróis da liberdade... 
Estes e todos os outros, que se viram menos de 5 meses depois, embarcados para a guerra do ultramar, novamente, não fossem estragar os planos da politização do MFA que desembocou no 25 de Novembro. 
Se fizéssemos uma reflexão profunda, se nos preocupássemos em recuperar verdadeiramente a história do 25 de Abril, tanto que nos aperceberíamos que afinal, os que resgataram a Liberdade, os VERDADEIROS CAPITÃES DE ABRIL que arriscaram tudo pelas suas convicções de justiça, não se revêm minimamente nesta feira de vaidades de auto-proclamados heróis que, tendo feito parte desse movimento criaram uma espécie de comité que ocupou o pedestal da memória arrastando consigo os seus aliados políticos e relegando para o esquecimento todos os outros que cumpriram a palavra dada que a ética militar lhes exigiu.
Os VERDADEIROS HERÓIS DE ABRIL continuam, como sempre estiveram, no anonimato, votados à poeira da história e ofuscados por uma mão cheia de usurpadores da autoria do seu feito colectivo. 
Pela primeira vez na vida posso afirmar que o Estado reconheceu finalmente pela mão do Senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu finalmente o mérito a quem verdadeiramente o merece! Há pouco mais de uma mês, os CAPITÃES DE ABRIL receberam, finalmente (47 anos depois!) a condecoração e a ORDEM DA LIBERDADE - GRAU DE GRANDE OFICIAL.
Nenhuma notícia, nenhuma expressão, mas uma justa homenagem aos verdadeiros heróis desta nossa história, que me orgulha.
E destaco, como sempre aqui o afirmei, foi atribuída insígnia individualmente! Sim, de uma vez por todas deixemos que os heróis sejam conhecidos e reconhecidos, em vez de se endeusar uma agremiação homogénea onde todos são heróis, sem terem arriscado nada. Muito obrigado Senhor Presidente por ter feito finalmente justiça! Gratidão é o que sinto.
Talvez a história venha a ser finalmente reescrita como deve ser, e percebermos todos que a vitória não foi feita por dois ou três, que convenientemente se encontraram entre os protagonistas. Mas foram muitos os que, estoicamente assumiram a sua posição e cumpriram a sua tarefa militar, vindos do norte, do centro, do interior, do sul, os que arriscaram tudo e levaram por diante os planos estabelecidos (até porque há muitos que desertaram e fizeram perigar a missão estabelecida), cada um deles contribuiu de forma decisiva para o sucesso da operação.
Não foram os Otelos e muito menos os Vascos Lourenços, que arriscaram a vida.
Comprometeram-se os Capitães a não falar durante 15 anos… Comprometeram-se ainda a não aceitar promoções discricionárias por entenderem que esse não era o motivo do MFA. Prometeram todos, e muitos cumpriram! Digo muitos, porque não foram todos… Há um punhado deles que levados pelo orgulho pessoal, pelo narcisismo e pela ambição fizeram letra morta dos compromissos e comportaram-se como traças em torno de um candeeiro. Alguns dos que hoje dão os piores exemplos, dos que se acham donos da Liberdade, dos que querem a todo o custo ser endeusados em vida…
Quero, como sempre, aproveitar esta ocasião, porque tenho tanto anos como a Revolução, para dar um testemunho público de gratidão a todos, sem excepção, os que anonimamente, desprendidamente, os relegados à poeira da história, os Capitães de corpo inteiro e de carácter irrepreensível me permitiram crescer em Liberdade. 
Tenho a sorte, a felicidade, o profundo orgulho e a honra de ter na família um desses heróis que, desde a primeira hora, quando ainda a liberdade não passava de um sonho registado em palavras, códigos e senhas em planos e papéis que circulavam escondidos, engrossou as fileiras da Liberdade, e conduziu um conjunto de homens destemidos nessa madrugada histórica… comandou a coluna militar do RI-14 de Viseu, que integrou o agrupamento NOVEMBER. O mesmo agrupamento que foi ao forte de Peniche resgatar os presos políticos... o mesmo regimento que na noite de 25 de Abril, guardou a casa do General Spínola, o novo Presidente da República. Um capitão exemplar, de palavra, que está, há 47 anos, onde a ética do dever militar e do serviço à Pátria lhe indicou que deveria permanecer.
Não preciso de lhe mostrar cravos vermelhos, nem cerrar o punho esquerdo, nem engrandecê-lo para demonstrar o quanto o admiro e o quanto lhe estou grato – o seu a seu dono...
Muito obrigado querido tio Arnaldo Costeira [Capitão Silveira Costeira] a si e a todos os que, consigo, resgataram o nosso bem maior. 
Finalmente fez-se justiça e recebeu com honra, glória e mérito o reconhecimento oficial do país a que entregou toda a sua vida, como militar irrepreensível. Rendo a minha homenagem e profunda gratidão em si a todos os esquecidos heróis da Liberdade. Pode nunca ser feita a justiça, mas jamais permitirei que seja uma parte convenientemente apagada da nossa história, que é de todos, mas que tem muito do seu suor, do seu sangue e das suas lágrimas. Suas e de outros que consigo acreditaram no sonho maior.

Deus há-de permitir... O tempo há-de levantar o véu da mentira, fazer desvanecer o peso da ambição desmedida e da luta pelos aplausos… e a História encarregar-se-á de fazer com que aos valores da Democracia e da Liberdade se ligue inquebrantavelmente o valor da Verdade! Possa ser substituído nos cravos o vermelho das paixões, pelo branco da união…
Nota: Em 1999 o Coronel Arnaldo Costeira [Capitão Silveira Costeira] publicou o livro "Eu Capitão de Abril me confesso " que 'esgotou' imediatamente. Não porque as pessoas queriam saber a verdade, mas porque 'alguns' queriam que não se soubesse. Em 2014 voltamos a publicar a obra. E não! Não vai esgotar novamente por meios escusos, e não voltarão a conseguir esconder a verdade. Não enquanto eu for vivo. Quem quiser um exemplar sei onde o pode adquirir, os direitos da obra foram integralmente doados a uma IPSS. 

25 de Abril de 2021
Arnaldo Costeira

Sem comentários:

Enviar um comentário

[A festa em Grijó] - A.M. Pires Cabral

                 A. M. Pires Cabral                                                                      FESTA !