quarta-feira, 24 de março de 2021

 

– "Se um paciente tem de assinar um termo de responsabilidade para se sujeitar a determinados procedimentos clínicos, porque não exigir declaração semelhante aos atestadores da 'segurança e eficácia' da AZ ou de produto similar?"

por César Príncipe

A Tomada da Vacina não se deve traduzir num expediente de "coacção e chantagem". Os reparos partem da Sociedade Portuguesa de Pneumologia. O Estado Português, desde há décadas bom aluno nas disciplinas comunitárias, frequentemente lesivas do orçamento e da soberania nacionais, persiste em seguir os roteiros dos que capturaram a Agremiação dos 27. Nesta linha de subserviência extraterritorial e de intimidação doméstica, a DGS notificou as Unidades do SNS de que os utentes que não aceitem ser picados, neste caso, pela AZ, serão remetidos para a cauda da fila e quando a fila estiver a finar, aos renitentes caberão as sobras – e quem sabe – poderá sair-lhes outra vez a raspadinha AstraZeneca ou a Simplex Jonhson & Jonhson, esta vocacionada para clientes do Terceiro Mundo. Num cenário mais deprimente, restará aos deserdados da peste o recurso ao álcool de postigo.
Realmente, após o europânico se haver instalado, devido a séries de trombos e desacertos científicos e políticos que obrigaram mais de vinte países a fazer pausas na administração da AZ, ao fim de alguns dias de meditação transcendental, por encanto, desvaneceram-se as preocupações maiores, metamorfoseando-se os sinais de risco e as reacções adversas em líquidas garantias de "segurança e eficácia". E ai de quem aponte o dedo à Europa das Farmacêuticas:   apenas os decisores reais ou formais (que gozaram e gozam do privilégio de mudar de opinião e critério no decorrer da pandemia, a começar pelo uso da máscara, nos primeiros meses das etiquetas sanitárias considerada de mero efeito "psicológico" e "esteticamente" nada "fashion") – só eles e a sua corte de avançados ou avençados têm direito ao cepticismo, à relutância, à cautelar "dúvida metódica". Só eles ou quem lhes presta serviços de propaganda médica está por dentro dos sortilégios das mezinhas da "Europa Connosco".
Espantem-se os leigos:   entre tantos sapientes e confidentes dos laboratórios, há médicos que mais parecem executivos partidários e governantes que mais parecem médicos (só lhes falta a bata branca). E cientistas são aos molhos e às rodadas. Tirando certos espíritos sabedores e prudenciais, une-os um denominador:   mantiveram-se quedos e de boca arrolhada ante o pré-enchimento dos papos das farmacêuticas com centenas de milhões de fundos perdidos para investigação acelerada e depois com centenas de milhões despejados na compra das vacinas antes da sua entrega e até antes da aprovação da Agência Reguladora. A tal AEM, gestora de conveniência. E agora, docilmente caídos nos braços das farmopotências, são estas que planeiam as campanhas de vaci(nação) ao ritmo das suas estratégias fabris, distribuidoras, mercantis, concorrenciais. E para cúmulo da voracidade e do quero, posso e mando, reservaram o "big-business" ou "el dorado" das patentes. Nem o Irascível ministro das Necessidades assume uma palavra impertinente nesta questão de vida e de morte. Limita-se a reafirmar que somos discípulos e que não "trairemos" as instâncias escolares bruxelenses, que estão repletas de traidores e trânsfugas. E, por outro lado, não se vá a Inglaterra ofender e boicotar o turismo no Reino dos Allgarves.
Enfim, apanhados na ratoeira que montaram, os governantes e os seus mediáticos próximos servem-se de esquemas de desenrascanço, desde esticar calendários de aplicação das doses, contrariando os parâmetros dos testes e provavelmente empobrecendo as virtualidades da segunda leva e ameaçando os que suspeitam da inoculação anglo-sueca e de seus indultos e enaltecimentos de última hora. E assim um frasquinho de botica se transformou em Bazucastra. Eis a "guerra" das picas. As autoridades nativas prometem resiliência contra os que ousem desrespeitar a Lei & a Ordem das Indústrias Corona. Antes da Economia sentir o alento da bazuca, a saúde está debaixo de fogo. É a "guerra". É "a guerra". Tome já a sua AZ:   "rapidamente e em força". Isto vai à bazucada. Afinal, a "guerra" é logicamente vírica e inesperadamente cívica.
Uma pergunta aguarda interlocutor:   se um paciente tem de assinar um termo de responsabilidade para se sujeitar a determinados procedimentos clínicos, porque não exigir declaração semelhante aos atestadores da "segurança e eficácia" da AZ ou de produto similar? De qualquer modo, o Ultimato da DGS é um flagrante exemplo de fadiga comunicativa, de autoritarismo burocrático e de incompreensão da outra parte a ter em conta, isto é, em máxima consideração:   o povo português. As autoridades devem direccionar o nervosismo, os ralhetes e as reguadas para os fabricantes das vacinas e para os comissários ou comissionistas da UE. O povo português já repagou as encomendas às multinacionais e suportou os reiterados incumprimentos destas Senhoras Absolutas, já aguentou a acidentada aprendizagem do processo de combate à pandemia e há um ano que sobrevive a doses maciças de morbidez televisiva, onde pululam e predominam os virais. E nem sequer, aos fins-de-semana, as estações abrandam a dramatização do "19". O que nos compensa é que, nos domingos e dias santos, nos põem a ler os veneráveis clássicos da I Liga e, pelas tardes, os pimbas e as suas dançarinas consolam os condenados ao sofá.

21/Março/2021

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