sexta-feira, 19 de março de 2021

Quem me dera cá o tempo - Antologia da Maria Castanha


JORGE  LAGE


 Antologia que mereceu recensões em alguns jornais: O Diário do Minho de 15-11-2020, com texto de José Carlos Ferreira, dedicava-lhe a pág. 7, sob o título, «Novo livro do investigador Jorge Lage – “Quem me dera cá o tempo” reúne mais de 80 textos sobre a castanha»; por sua vez, a revista «9 séculos», dirigida por Barroso da Fonte, no seu n.º 2, (pág. 169 e 170), com texto da crítica literária Júlia Serra; o Diário de Notícias da Madeira, de 27-12-2020 (pág. 46), o escritor Joaquim Leça, na rubrica «Agricultando» e título «O desejo de trazer à memória a Castanha»; e o jornal Negócio de Valpaços na pág. 3, de 18-12-2020, com o texto «Quem me dera cá o tempo – Antologia da Maria Castanha», pela pena do Investigador Armando Palavras. Várias foram as menções em blogues e em mensagens. Também, os leitores do Notícias de Mirandela puderam ler algumas referências. Em jeito de balanço, retiram-se excertos da recensão da Prof.ª Júlia Serra a ser publicada, na íntegra, no sétimo livro da Castanha. Se Deus quiser, no 7.º livro. 7 é um número mágico e bíblico, que o Castanheiro e a Castanha merecem, bem como os nossos castinhicultores. O texto de Júlia Serra: «Impressões sobre “Quem me dera cá o tempo   - Antologia da Maria Castanha”». O título da obra - Quem me dera cá o tempo - remete-nos, como escreveu o seu coordenador Jorge Lage, na “Nota Introdutória”, para o tempo passado, “para o tempo da Maria Castanha, das celebrações festivas para os nossos antepassados celtas, com castanhas e vinho.” Assim, se compreende que o subtítulo da mesma seja Antologia da Maria Castanha. (…) 

O livro tem a colaboração de oitenta e dois escritores (…) e cerca de meia centena de imagens (…) A contracapa (…) para realçar as palavras de Telmo Verdelho: “Fiel à herança da memória antiga, recebida ainda na juventude, e aos valores e tradições que instituíam as nossas comunidades rurais, Jorge Lage teve a inteligência de quanto era importante a preservação desse espólio antigo e quase perdido da nossa civilização” (in Prefácio, p.30). A riqueza da obra resulta da variedade de textos em torno da castanha e do castanheiro, com (…) pequenas estórias (…), textos de índole científica (…) quer em verso, quer em prosa. É uma pequena maravilha para encantamento das pupilas e arejamento do espírito! (...). É uma obra com o maestro perante músicos que tocam a mesma sinfonia com instrumentos variados e a eufonia do conjunto é que prende o espectador/leitor. O prefácio da autoria de Telmo Verdelho cumpre cabalmente a sua função: acena à leitura, dota o leitor de conhecimentos e guia-o para fazer a travessia para a obra, (…) desembrulhou a sua memória literária e clássica, evocando Ovídio e Virgílio, com enfoque nas Geórgicas e Bucólicas e, depois, fez uma incursão na Literatura Portuguesa, percorrendo os autores que trataram ou referiram o tema/palavra da castanha e do castanheiro, destacando, Filinto Elísio, Almeida Garrett, Júlio Dinis, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, entre outros.(…) Hoje, (…) a castanha adquiriu grande valor na gastronomia e a variedade de receitas culinárias atestam isso, caso da receita do caldudo: “Esta é a receita do caldudo de casas endinheiradas. O pitéu era servido em terrina de sopa, como sobremesa no final da refeição. (…)” (Antonieta Garcia, p.85). Sobre o termo caldudo regista-se a passagem de Paulo Batista: “O caldudo, ou caldulo, (…) era refeição energética, bem necessária ao labrego que trabalhava de sol a sol no trato dos agros.” (…) A castanha está também ligada a outro tipo de celebrações, como o magusto comunitário – O Magusto do Vale – “Essa lagarada de doce vinho novo era servida ao povo da freguesia num grande magusto comunitário em que todos eram convidados” (Abílio Bastos, p.111), (…). Aliado às memórias da castanha, surge a memória do sabor, do visualismo estampado no fruto e na tão cantada flor do castanheiro: “se eu fosse poeta diria que a essência, e a estética, do castanheiro está na sua flor (…)” (Virgílio Gomes,p.78) e outras tantas memórias (…) no conto “Não há castanhas em Maio” é uma bela história de amor desenrolada à sombra do Castanheiro. (…) Aniceto Afonso em “O Castanheiro da Minha Tia” (pp155-157) revela a função do castanheiro como conselheiro e confidente da tia. (…) O castanheiro e as castanhas serviam também como moeda de troca, citado no texto de “Os Soitos de São Romão de Aregos” (Henrique Rema, pp 174-176), a Nossa Senhora do Cárquere (…) “levou Egas Moniz o filho de Conde D. Henrique, para que Ela o curasse do aleijão com que nascera. E foi aqui que, à sombra de um santo castanheiro, Portugal pôde dar os seus primeiros passos, nos passos do nosso Pequeno e Grande Afonso, futuro Rei de Portugal. (Joaquim Duarte, “Nossa Senhora do Cárquere e o Velho Castanheiro”, p.150). Estes e outros exemplos mostram que os castanheiros são abençoados (aliás Abençoados Castanheiros é o título de um poema de Flávio Vara, p.129). (…). O famoso harosset (que integrava o Seder) (…). Ainda hoje, judeus sefardistas trituram castanhas e nozes, amêndoas, mel, vinho doce, passas… para a ceia da Páscoa, a festa da Libertação (Antonieta Garcia, p.96).

O Castanheiro, (…) portador de um halo sagrado (…) o “Rei dos Soutos“ (…) (João Ribeirinho Leal, p.201) partilhava da felicidade dos amantes ou servia de casa para os mais pobres, como evoca o texto em mirandês Ua casa: “Casa. Ua casa adonde joguemos de morada i a las scundelinas. Ua casa adonde pobres s’abrigórun de l’áuga  i de l friu.” (Adelaide Monteiro, p.204). A singularidade da Antologia resulta também da variedade da escrita, de falares e linguagens onde se encontram: o dialeto mirandês, regionalismos, vocabulário específico da temática, (…). Uma obra onde se exalta a castanha, (…) como referiu Edite Estrela: “(…) tem o segredo bem guardado por uma cápsula de picos. (…) Será que é para os ungidos que o ouriço se escancara numa dádiva divina?!” (p.196) (…). Trás-os-Montes, (…) no sonho torguiano, era a pátria ibérica e, a propósito da Ibéria, no texto intitulado “Agricultura e abundância”, escreveu Adriano Moreira:” (…) a Ibéria lembra a pele de um boi esticada…os montanheses vivem durante dois terços do ano de castanhas.” (p.44). O texto “São Castanheiros” que lançava um desafio para a criação do “Parque do Castanheiro” (…) em Laudatur, Rentes de Carvalho afirmou que via nele (Jorge) (…) não somente o português de excepção, mas a modos de um holandês honorário, pois só entre os holandeses tenho encontrado quem como ele não desista ao primeiro contratempo, e tão afincadamente se dedique a levar a cabo o que começou. (p.193). Parabéns a Jorge Lage, a Romão Figueiredo e a todos os colaboradores, porque todos, em conjunto, participaram no Magusto do cultivo da Castanha e do Castanheiro (…).

 In "Noticias de Mirandela"

1 comentário:

  1. Sim, é uma sinfonia com um preâmbulo de excelência, tendo como solista Telmo Verdelho, com músicos bem adestrados e concertados no desempenho da partitura que lhes coube em sorte e com um maestro sereno, persistente e perspicaz que, sob a sua batuta, conseguiu atingir os seus fins e os seus louros. Parabéns a todos. Bem hajam!

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