Primeira edição "Quem me dera cá o tempo" completamente esgotada!
Jorge Lage
Vou levar os livros a que têm direito (1 oferecido por autor da Antologia) e os demais que alguns pediram.
Assim, dia 29MAR2021, Segunda-feira, entra as 14H30 e as 16H00, estarei na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa (junto ao Campo Pequeno) para entregar o livro ou livros pedidos (levarei mais um ou outro de outros títulos para um ou outro interessado).
Quem não puder estar, terá que combinar com o Senhor Daniel - 217939311 - (colaborador da Casa) o levantamento.
Também estarei disponível no meu endereço.
Qualquer dúvida contatar-me ou ao Senhor Daniel (só no horário de tarde).
Posso dizer que só ficarei aliviado do peso sobre os ombros da consciência quando os livros estiverem na mão de cada autor. Agradeço, penhoradamente, a vossa compreensão e apoio nos dias complicados que vivi eu e a minha mulher.
A melhor forma de agradecer aos meus amigos é dizer-lhes que a Antologia já está esgotada, guardando, religiosamente, um pequeno lote para uma apresentação futura na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa, quando a Direcção achar melhor e a saúde colectiva o permitir.
As melhores e mais gratas saudações,
Jorge Lage
964624132
Castanheiro em terra ardida
ResponderEliminarUm castanheiro ferido pelo fogo
mantém a dignidade quando tudo o resto
a perdeu já no escarninho
gume das labaredas.
Está sem folha - justamente
a parte que mais lembra rendas
mas também a que mais depressa estala -
e parece que levanta ao ar os braços
como um fora-de-lei que o xerife
surpreendeu em pleno acto culposo.
Não tendo voz alguma, parece ainda assim
que grita por água e verde e justiça
na desolação da cinza.
Mas mantém o porte. Enegrecido, é certo,
coarctado na respiração e incapaz
de dar refúgio a aves - mas soberbo ainda
como aquele por quem alguma vez
a desgraça passou sem abater.
Digamos que é um rei que deixou cair a coroa
e não consegue apanhá-la do chão
e isso diminui a sua autoridade,
mas obstina-se em exercer a que lhe resta
sobre a terra que o fogo escureceu.
Mas perdeu serventia e por isso
cedo conhecerá o golpe incestuoso
do machado. Fraccioná-lo-ão como fazem a tudo
o que nos lembra a nossa pequenez
o feito em achas arderá definitivamente -
mas na lareira, legítimo lugar
de arderem devagar os velhos castanheiros.
A.M. Pires Cabral
Abençoados Castanheiros
ResponderEliminarMoram nos avessados dos outeiros,
em nevões e sincelos temperados,
os valentes, daimosos castanheiros,
a nós inteiramente devotados.
Distinguem-se entre as árvores de fruto
por serem atinados, previdentes;
aforram as castanhas no Verão
e arrecadam-nas dentro dos ouriços
para serem o pão dos indigentes
nos exauridos meses outoniços,
e os bilhós que nas noites de invernia
degustamos ao lume da lareira,
em fraternal, amena companhia
e em descontraída cavaqueira.
Flávio Vara
O Avião que dava Castanhas
ResponderEliminar... ...__ Calem-se - pediu, subitamente, o Armando. - Pareceu-me ouvir um papa-figos.
E era mesmo. Na curva da Barrela, lá ao fundo, poisado numa árvore, assobiava um papa-figos com as suas penas amarelas e pretas.Lembrava o assobio dos rapazes quando passavam as raparigas.E de, repente, cruzou o ar uma pega, palrando asperamente, e deixando nos olhos que a seguiam um rasto de penas brancas e pretas.
Teriam ficado ali o resto da tarde viajando no avião imaginário, se não tivesse aparecido , agarrado à bengala e cigarrinho apagado no canto da boca, o tio Máximo, subindo penosamente a encosta. Apercebendo-se daquela estranha passarada no meio do castanheiro e reconhecendo as netas que estavam empoleiradas nos ramos mais baixos, perguntou-lhes:
- Ó raparigos, que estais aí a fazer? - Ele chamava raparigos às marias-rapazes. E reconhecendo depois os netos:
-Vós também, meus lapantins? Mas que vem a ser isto?
-Andamos às castanhas - retorquiu o Zé, dando voz à primeira desculpa que lhe ocorreu.
- Às castanhas?! Os ouriços ainda nem sequer arreganharam!!!Vinde lá a casa que eu dou-vos castanhas piladas.
Foi o que eles quiseram ouvir. Desceram do avião o mais depressa que puderam e deitaram a correr para casa do avô, onde ficaram à espera, de água na boca ...
(...)
Luís da Silva Pereira
O Dia dos Magustos
ResponderEliminar- Onde vais?
-Vou sair, até à fonte.
-Não vais lá para cima...
-Lá acima, o quê?
-Tu bem sabes. Não te quero por aí, com as outras malucas.
-Mãe, é dia de Todos os Santos ...
-Sim, eu sei, mas vós andais é à procura de outras festas. Não te quero nas capelas.
O dia estava cinzento e já fazia frio de ficar à lareira. Mas a Júlia tinha vontade de ir até ás capelas, aos magustos. Não eram bem as castanhas, que davam trabalho, logo ao fazer cair os ouriços. Picavam-se as mãos, a abri-los. Não, não era isso de fazer a fogueira para as assar. Era estar com elas e com ele, o homem que ia partir. Perdia-o? Não queria. Por isso olhava a Rua da Portela, da porta de casa. Rua estreita, o forno do pão logo ali ao lado. A forneira lá para dentro, a Ermelinda, a amassar, a preparar uma fornada. E ela presa à ideia de irem por ali acima, passar à eira do Pacheco ... ...
- Ah, mulher, pensei que não vinhas ...
-Tive que enganar a minha mãe. Fis que ia para o São Sebastião, mas dei a volta pela praça.
Subiram até às capelas. A Senhora da Lapa ficava afastada da festa ... (...)
António Modesto Navarro
- « fiz »
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