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I - Contextualização
Durante
os períodos de perseguição aos Cristãos, no Império Romano, as igrejas e as
salas de reunião eram pequenas, de aspecto insignificante. Contudo, quando a
Igreja, a partir do ano 311 d.C. com Constantino passou a ser o poder supremo
no império, todo o seu relacionamento com a arte teve que ser reexaminado. Ao
não poder adoptar o modelo dos antigos templos pagãos porque as suas funções
eram nitidamente diferentes[1],
a Igreja optou pelo modelo dos salões amplos de reunião que nos tempos
clássicos eram denominados de basílicas[2] (E.H. Gombrich).
A
basílica foi assim adaptada pelos Cristãos, com a influência e a ajuda da mãe[3]
do imperador, às necessidades do culto. O termo foi então instituído e
oficializado para as igrejas desse tipo. A abside passou a ser usada como local
do celebrante e do altar-mor, passando a ser conhecida como “o coro”. O corpo
central onde a comunidade se reunia passou a ser chamada de “nave” [4],
e os compartimentos laterais foram chamados de “alas”[5]. Em
grande parte das basílicas, a espaçosa nave era coberta com um tecto de madeira
com vigas expostas. E as alas tinham quase sempre um tecto plano. As colunas
que separavam as alas da nave eram profusamente decoradas. Um dos grandes
exemplos destas estruturas eclesiásticas é a antiga basílica de São Pedro cerca
de 400, como nos é apresentada por H.W.
Janson (FIG. 1). Nenhuma delas permaneceu
inalterável nestes 1600 anos, mas podemos formar uma ideia do aspecto geral
primitivo.
Este
tipo de construções acarretaram enormes problemas ao imperador. Desde logo
porque se colocava a questão de como as decorar, na medida em que fazia
ressurgir o problema geral da imagem e do seu uso na religião, suscitando
violentas disputas. Ao tempo todos os Cristãos concordavam num ponto: na Casa
do Senhor não deveriam existir estátuas, na medida em que estas se aproximavam
às antigas imagens esculpidas de ídolos pagãos que o Antigo Testamento
condenava. Procurava-se, desta forma, não confundir os espíritos dos pagãos
recentemente convertidos à nova fé. Contudo, divergiam em relação à pintura.
Muitos destes cristãos consideravam-nas úteis porque ajudavam a comunidade a
recordar os ensinamentos recebidos e mantinham viva a memória das cenas
sagradas. Ponto de vista que logo foi adoptado, desde o início, na parte latina
(Ocidental) do Império Romano. E foi essa prerrogativa a seguida pelo Papa
Gregório Magno[6].
Para
esta autoridade da Igreja as cenas sagradas reportadas na pintura eram vitais
para os fiéis que não sabiam ler nem escrever. E essas imagens eram
fundamentais para os ensinar. Dizia: “A pintura pode fazer pelos analfabetos o
que a escrita faz pelos que sabem ler” (Alain
Erlande- Brandenburg).
Esta sentença foi de uma importância vital para a História da Arte, porque era repetida sempre que alguns fiéis atacavam o uso de imagens nas igrejas.
[1] Os templos romanos eram de reduzidas
dimensões. Muito pequenos. Apenas serviam para abrigar a estátua de um deus. As
procissões e os desfiles eram no exterior. A igreja, pelo contrário, tinha que
reservar espaço para toda a congregação que reunia para assistir ao serviço
religioso quando o padre recitava a missa no altar-mor, ou proferia o seu
sermão.
[2] Também denominados “salões reais”, eram
edifícios de grande envergadura, onde funcionavam os mercados cobertos e
recintos para audiências públicas dos tribunais. Vastos salões rectangulares
longos (Leland M. Roth) com compartimentos mais estreitos e mais baixos
ao longo das laterais mais espaçosas, separadas do corpo central por colunatas,
com abside na extremidade oposta à entrada, onde o presidente da assembleia se
sentava. No centro geométrico da abside ficava um altar que marcava a presença
espiritual do imperador.
[3] Helena, mais tarde canonizada pela Igreja
(Santa Helena), a quem também está ligada a tradição da descoberta da vera
cruz.
[4]
Que significava (e significa) “navio”.
[5]
Sinónimo de “asas”
[6] Viveu em finais do século VI.
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