Por ARTUR FERREIRA
A vacinação está em curso
e a “bazuca” do dinheiro da Europa vai chegar. Sobre a vacinação estamos
conversados, em pouco tempo deu para percebermos como a maioria do povo
português pensa, manobra, tolera e até faria o mesmo se tivesse oportunidade. É
uma cultura antiga, vem de longe, antes da Revolução de Abril! Actualizada e
replicada sempre que se estabelece um plano nacional do interesse público, seja
em que área for! O português refugia-se na salvação do xico-espertismo para
furar regras. Acontece, também, porque o carácter da maioria dos nossos
políticos é assim doutrinado para alcançar o poder. Gente que tem pouco a
perder à procura dos meios para ter muito a ganhar…
A “bazuca” vem
acompanhada de uma “carga de dinheiro” que dá para muitos milhares de
“foguetes”! Os de “grande estrondo” serão lançados, como é costume, sobre as
grandes multinacionais e elites ligadas ao poder! Os outros, fraquinhos e mal
se ouvem, cairão com as canas sobre os trabalhadores, famílias, pequenas e
médias empresas …
São cerca de 29,8 mil milhões de euros que o
nosso país irá obter do próximo Orçamento Comunitário 2021-2027. As negociações
ainda em curso poderão reforçar, substancialmente, essa verba com outros
empréstimos.
Imagino a quantidade de estratégias e
movimentações que rolam por aí entre quem está a contar ir buscar algum!
Recorrem a gabinetes disponíveis e vocacionados para estes fins, frequentados
por “gente predadora” das áreas da política, economia, direito, tecnocracia e
sociedade civil, regulada pela “tal cultura” do xico-espertismo que vem de
longe! Estudos elaborando visões, planos elencando prioridades, projectos,
processos, fora o resto, a serem concertados para ultrapassar a pesada
burocracia que encrava e condiciona o fim em vista! Este país é largamente
conhecido e criticado, mesmo no estrangeiro, por ser demasiado burocrático. Tem
corredores extensos de burocracia na máquina da Administração Pública onde o
excesso de zelo assente em plataformas informáticas e formulários muito
complexos só é ultrapassado com muita corrupção. É preocupante e é o que tem
acontecido no passado, desde a adesão à então CEE, em 1986. O Presidente da
República conhecedor do percurso e destino dos fundos anteriores disse: “O
dinheiro é de todos” e “todos têm o seu contributo a dar”. “É preciso que haja
[uma] discussão” e “que todos participem nela”!
Há quem defenda que o
Governo deixe de manter as decisões concentradas nas suas mãos. Há quem queira
combater a visão das elites nacionais, com apego ao poder, habituadas a decidir
por todos nós. O projecto europeu é expressão de solidariedade e prosperidade
partilhada. Portugal tem sido um país muito mal governado, sem um modelo
económico que funciona para todos, melhorando os indicadores de bem-estar para
todos. Há uma propensão para a pobreza através da desigualdade na repartição do
rendimento
É urgente contrariar esta
tendência que desgraça todo um povo e o país, a opção tem necessariamente de
ser outra para revitalizar a democracia e criar as condições para uma
recuperação económica e social da qual todos serão parte. Uma outra economia é
possível, uma outra sociedade é possível, mais justa e mais solidária. A
manifesta falta de dignidade da maioria dos nossos governantes e das elites que
os bajulam é um importante obstáculo para essa visão.
Um outro país é possível… mas não é fácil!
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