terça-feira, 2 de março de 2021

“BAZUCA” – O celebrado e o privilégio...

 

Por  ARTUR  FERREIRA

A vacinação está em curso e a “bazuca” do dinheiro da Europa vai chegar. Sobre a vacinação estamos conversados, em pouco tempo deu para percebermos como a maioria do povo português pensa, manobra, tolera e até faria o mesmo se tivesse oportunidade. É uma cultura antiga, vem de longe, antes da Revolução de Abril! Actualizada e replicada sempre que se estabelece um plano nacional do interesse público, seja em que área for! O português refugia-se na salvação do xico-espertismo para furar regras. Acontece, também, porque o carácter da maioria dos nossos políticos é assim doutrinado para alcançar o poder. Gente que tem pouco a perder à procura dos meios para ter muito a ganhar…

A “bazuca” vem acompanhada de uma “carga de dinheiro” que dá para muitos milhares de “foguetes”! Os de “grande estrondo” serão lançados, como é costume, sobre as grandes multinacionais e elites ligadas ao poder! Os outros, fraquinhos e mal se ouvem, cairão com as canas sobre os trabalhadores, famílias, pequenas e médias empresas …

 São cerca de 29,8 mil milhões de euros que o nosso país irá obter do próximo Orçamento Comunitário 2021-2027. As negociações ainda em curso poderão reforçar, substancialmente, essa verba com outros empréstimos.

 Imagino a quantidade de estratégias e movimentações que rolam por aí entre quem está a contar ir buscar algum! Recorrem a gabinetes disponíveis e vocacionados para estes fins, frequentados por “gente predadora” das áreas da política, economia, direito, tecnocracia e sociedade civil, regulada pela “tal cultura” do xico-espertismo que vem de longe! Estudos elaborando visões, planos elencando prioridades, projectos, processos, fora o resto, a serem concertados para ultrapassar a pesada burocracia que encrava e condiciona o fim em vista! Este país é largamente conhecido e criticado, mesmo no estrangeiro, por ser demasiado burocrático. Tem corredores extensos de burocracia na máquina da Administração Pública onde o excesso de zelo assente em plataformas informáticas e formulários muito complexos só é ultrapassado com muita corrupção. É preocupante e é o que tem acontecido no passado, desde a adesão à então CEE, em 1986. O Presidente da República conhecedor do percurso e destino dos fundos anteriores disse: “O dinheiro é de todos” e “todos têm o seu contributo a dar”. “É preciso que haja [uma] discussão” e “que todos participem nela”!

Há quem defenda que o Governo deixe de manter as decisões concentradas nas suas mãos. Há quem queira combater a visão das elites nacionais, com apego ao poder, habituadas a decidir por todos nós. O projecto europeu é expressão de solidariedade e prosperidade partilhada. Portugal tem sido um país muito mal governado, sem um modelo económico que funciona para todos, melhorando os indicadores de bem-estar para todos. Há uma propensão para a pobreza através da desigualdade na repartição do rendimento

É urgente contrariar esta tendência que desgraça todo um povo e o país, a opção tem necessariamente de ser outra para revitalizar a democracia e criar as condições para uma recuperação económica e social da qual todos serão parte. Uma outra economia é possível, uma outra sociedade é possível, mais justa e mais solidária. A manifesta falta de dignidade da maioria dos nossos governantes e das elites que os bajulam é um importante obstáculo para essa visão.

Um outro país é possível… mas não é fácil!                                   

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