domingo, 28 de fevereiro de 2021

A propósito dos insultos de Mamadou Ba ao povo português e à sua História


 Paula H Ferreira Silva OBSERVADOR



"A propósito dos insultos de Mamadou Ba ao Povo Português  e à sua História

Tal como o Senhor nasci em África, não me corre sangue africano nas veias mas a alma Moçambicana habita em mim.

Fui expulsa do meu país sem hipótese de escolha, sem justificação, tão somente pela cor da pele, arrancada à força da minha família, da minha casa, dos meus conterrâneos.

Fui expulsa por pessoas como o senhor e dos seus comparsas do SOS racismo.

Roubaram-me o resto da infância e da adolescência, forçada a viver em hábitos, costumes diferentes onde só a língua me unia.



Durante décadas senti-me deslocada, fui barbaramente vítima de bullying, mandada para a minha terra vezes sem conta apenas e só por ser retornada...

A ignorância não tem limites e retornada não sou, refugiada talvez, pois a nada retornei. Nasci em África com muito orgulho e mantenho orgulho na história que me proporcionou que assim fosse.

Nasci na maravilhosa cidade de Lourenço Marques, a pérola do Índico, no fantástico Continente Africano, rico nas gentes e nos recursos, destruído por décadas de governos ditatoriais que o Sr. tanto defende.

O sr. não sabe mas em 1973, Moçambique era o produtor numero 1 do Mundo de algodão e cana de açúcar.

Hoje, é um dos países mais pobres do mundo!

Os retornados foram a maior lufada de ar fresco a entrar em Portugal.

Ao contrário de si, os retornados e refugiados das ex. colonias, apesar de trazerem apenas a roupa do corpo, carregada de tristeza e mágoa, trouxeram a alma carregada de resiliência e transformaram a mágoa em trabalho e não em ódio e, raros são os que não singraram.

Nada trouxemos a não ser memórias, tudo foi confiscado, queimado, dizimado. Mas ao contrário de si, a quem tudo foi dado de mão beijada, não nos vitimizámos, não nos encolirizámos, apenas trabalhámos! Trabalhámos e honrámos a Terra e as gentes que nos acolheu!

Não hostilizámos, não ridicularizámos, não confrontámos os portugueses da metrópole! Apenas trabalhámos, com a resiliência que nos caracteriza, porque ao contrário de si, as nossas feridas não estão putrefactas e não destilam ódio, antes pelo contrário emanam tolerância e compaixão.

Ao contrário do senhor, não recebemos subsídios, não recebemos apoios, o único apoio foram e continuam a ser as doces memórias.

Memórias de países maravilhosos ao qual um dia ansiávamos voltar, de gente humilde de sorriso largo e alegria sem fim, memória do cheiro da terra molhada, do cheiro das gentes, das cores, de vidas simples.

Mantenho gravado o dia da partida e do choro de despedida de quem me criou e amparou e isso sr. Mamadou é Amor. Nós Africanos brancos sentimos amor pelos nossos conterrâneos mas sei que para si não é amor, é racismo.

Sim sr. Mamadou ainda hoje sinto amor pelos meus conterrâneos, choro por eles e pelos vis ataques em Cabo Delgado que curiosamente nunca o ouvi defender.

Em si só vejo ódio, intriga e difamação.

O racismo não se combate com racismo!

O ódio não se combate com ódio!

Humildade e gratidão é coisa que não lhe assiste e trabalho Sr. Mamadou? Não será  por interesse que move esse ódio? É que esse ódio dá-lhe tachos atrás de tachos, e trabalho? As suas mãos não parecem ter calos e o seu sobretudo de caxemira não me parece second hand.

Sr. Mamadou o Sr. pode ter instrução, mas não tem educação.

Sou de uma geração em que fui educada a respeitar o meu País, Portugal, a minha Bandeira, O meu hino, as minhas gentes, os meus heróis.

Tenho orgulho em Afonso Henriques, Vasco da Gama, Luiz Vaz de Camões, Padre António Vieira, Pedro Álvares Cabral  e tantos outros que escreveram a nossa história.

A história não se apaga, é um legado dos nossos antepassados, bem ou mal é a nossa história.

Quem é o Sr. para dizer mal dela? Ou será que pertence ao grupo daqueles que por não gostarem dos pais e avós também os apagam?

Respeito sr. Mamadou! Respeito! em casa alheia não se diz mal do pão que lhe é oferecido, porque um dia, o pão pode acabar."


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