Paula H Ferreira Silva - OBSERVADOR
"A propósito dos insultos de Mamadou Ba ao Povo Português e à sua História
Tal como o Senhor nasci
em África, não me corre sangue africano nas veias mas a alma Moçambicana habita
em mim.
Fui expulsa do meu país
sem hipótese de escolha, sem justificação, tão somente pela cor da pele,
arrancada à força da minha família, da minha casa, dos meus conterrâneos.
Fui expulsa por pessoas
como o senhor e dos seus comparsas do SOS racismo.
Roubaram-me o resto da infância e da adolescência, forçada a viver em hábitos, costumes diferentes onde só a língua me unia.
Durante décadas senti-me
deslocada, fui barbaramente vítima de bullying, mandada para a minha terra
vezes sem conta apenas e só por ser retornada...
A ignorância não tem
limites e retornada não sou, refugiada talvez, pois a nada retornei. Nasci em
África com muito orgulho e mantenho orgulho na história que me proporcionou que
assim fosse.
Nasci na maravilhosa
cidade de Lourenço Marques, a pérola do Índico, no fantástico Continente
Africano, rico nas gentes e nos recursos, destruído por décadas de governos
ditatoriais que o Sr. tanto defende.
O sr. não sabe mas em
1973, Moçambique era o produtor numero 1 do Mundo de algodão e cana de açúcar.
Hoje, é um dos países
mais pobres do mundo!
Os retornados foram a
maior lufada de ar fresco a entrar em Portugal.
Ao contrário de si, os
retornados e refugiados das ex. colonias, apesar de trazerem apenas a roupa do
corpo, carregada de tristeza e mágoa, trouxeram a alma carregada de resiliência
e transformaram a mágoa em trabalho e não em ódio e, raros são os que não
singraram.
Nada trouxemos a não ser
memórias, tudo foi confiscado, queimado, dizimado. Mas ao contrário de si, a
quem tudo foi dado de mão beijada, não nos vitimizámos, não nos encolirizámos,
apenas trabalhámos! Trabalhámos e honrámos a Terra e as gentes que nos acolheu!
Não hostilizámos, não
ridicularizámos, não confrontámos os portugueses da metrópole! Apenas
trabalhámos, com a resiliência que nos caracteriza, porque ao contrário de si,
as nossas feridas não estão putrefactas e não destilam ódio, antes pelo
contrário emanam tolerância e compaixão.
Ao contrário do senhor,
não recebemos subsídios, não recebemos apoios, o único apoio foram e continuam
a ser as doces memórias.
Memórias de países
maravilhosos ao qual um dia ansiávamos voltar, de gente humilde de sorriso
largo e alegria sem fim, memória do cheiro da terra molhada, do cheiro das
gentes, das cores, de vidas simples.
Mantenho gravado o dia da
partida e do choro de despedida de quem me criou e amparou e isso sr. Mamadou é
Amor. Nós Africanos brancos sentimos amor pelos nossos conterrâneos mas sei que
para si não é amor, é racismo.
Sim sr. Mamadou ainda
hoje sinto amor pelos meus conterrâneos, choro por eles e pelos vis ataques em
Cabo Delgado que curiosamente nunca o ouvi defender.
Em si só vejo ódio,
intriga e difamação.
O racismo não se combate
com racismo!
O ódio não se combate com
ódio!
Humildade e gratidão é
coisa que não lhe assiste e trabalho Sr. Mamadou? Não será por interesse que move esse ódio? É que esse
ódio dá-lhe tachos atrás de tachos, e trabalho? As suas mãos não parecem ter
calos e o seu sobretudo de caxemira não me parece second hand.
Sr. Mamadou o Sr. pode
ter instrução, mas não tem educação.
Sou de uma geração em que
fui educada a respeitar o meu País, Portugal, a minha Bandeira, O meu hino, as
minhas gentes, os meus heróis.
Tenho orgulho em Afonso
Henriques, Vasco da Gama, Luiz Vaz de Camões, Padre António Vieira, Pedro Álvares
Cabral e tantos outros que escreveram a
nossa história.
A história não se apaga,
é um legado dos nossos antepassados, bem ou mal é a nossa história.
Quem é o Sr. para dizer
mal dela? Ou será que pertence ao grupo daqueles que por não gostarem dos pais
e avós também os apagam?
Respeito sr. Mamadou! Respeito! em casa alheia não se diz mal do pão que lhe é oferecido, porque um dia, o pão pode acabar."
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