Carlos Matos Gomes é
um dos melhores Comandos que tivémos em Portugal. Sobre a Guiné e o «massacre
dos Comandos Africanos Guineenses», exterminados pelo PAIGC perante a
passividade da cúpula militar disse (no Prefácio do livro "A
Descolonização da Guiné-Bissau", do Coronel Jorge Golias) para todo o
mundo o que ninguém teve a coragem de dizer: os americanos, franceses,
suecos, e quejandos só foram democráticos contra algum excesso das nossas
tropas, porque após o 25 de Abril os massacres do novo poder guineense ou
angolano, já não era massacre, porque cheirava a diamantes, petrodólares e
outras riquezas.
É interessante a
análise abaixo que o Coronel Matos Gomes, faz dos massacres que se estão a
verificar em Moçambique... Todos os governantes que não são capaz de garantir a
segurança dos seus cidadãos são um nojo.
Cabo Delgado - Moçambique
Carlos Matos Gomes
Publicado em :http://www.incomunidade.com/v99/art.php?art=438&fbclid=IwAR1V_ywS5jonAPiiQ8OXjvSRnMvy6Hauth79edVG9W_2RyyTUiMFzUaSBVo
A violência em Cabo
Delgado é simultaneamente simples de perceber e propositadamente difícil de
explicar. A causa simples é a luta pelo poder, enquanto domínio que permite o
acesso de um dado grupo às riquezas. Neste sentido, a causa da violência em
Cabo Delgado é idêntica à da violência que conduziu às invasões do Iraque, da
Síria e à destruição da Líbia. A única diferença é que a região onde se
encontram as riquezas – petróleo, gás, e também pedras semipreciosas – é
habitada por uma sociedade com poucos ou nenhuns meios de defesa (os macondes)
e faz parte de um Estado fraco, incapaz de garantir a ordem interna e de se
defender de ataques externos. Cabo Delgado é um alvo mole e barato para os
assaltantes.
É deliberada a complexidade das diversas explicações para a violência em Cabo Delgado, classificada como «conflito» - não há qualquer conflito, há imposição de um poder pelo terror. A complexidade destina-se a esconder os responsáveis perante a opinião pública e a confundi-la. Os argumentos que salientam tensões etnolinguísticas, particularmente entre povos muçulmanos da costa, macuas e macondes (animistas/cristãos), desigualdades no acesso a benefícios do Estado por parte dos macondes, favorecidos pelo estatuto dos antigos combatentes, representação política, assimetrias, lançadas para a opinião pública como estando na origem do jhiadismo e das suas práticas de terrorismo religioso são meras falácias, engodos e enganos.
É curioso reparar que o
jihadismo, a guerra santa, surge apenas com grande vigor em zonas ricas em
recursos naturais. Os fiéis do profeta mais radicais e tementes a Alá
concentram-se nas zonas de petróleo e gás! O profeta move-se a petróleo! Também
não é uma santa coincidência do Maomé que a violência ocorra na margem direita
do Rovuma, onde vive um terço dos macondes e há recursos naturais e ausência de
Estado, e não na margem esquerda, na Tanzânia! Mais curioso ainda, o fervor
jhiadista surge sempre associado à facção sunita do islamismo e à sua corrente
mais radical, o wabismo totalitário, dominante a Arábia Saudita, grande aliado
do Ocidente!
Quando alguém refere o
jhiadismo como um movimento religioso está a mistificar. Uns fazem-no por
ignorância, outros por má-fé. Não existem guerras santas, nem religiosas. As
cruzadas não foram uma guerra religiosa, nem a Inquisição, nem a
Contra-Reforma, nem a conversão dos índios nas Américas. Todas foram guerras
por poder e riqueza, tal como a atual guerra santa islâmica. Em Cabo Delgado,
como na Síria, no Iraque, na Líbia ou na Nigéria, a jihad é uma outra
designação para petróleo, armas e dólares!
Em 1985 estive em
Moçambique a convite do presidente Samora Machel, através do grande humanista e
anticolonialista que foi Aquino de Bragança. Numa das conversas, o presidente
Machel referiu, para minha surpresa, o desejo de ter mais padres católicos para
abrirem missões na zona de Nampula até à fronteira do Rovuma, para contrariar,
como claramente afirmou, a «invasão islâmica» desenvolvida com o apoio e o
financiamento da Arábia Saudita. Era o seu inimigo. Continua a ser o inimigo de
Moçambique.
A violência em Cabo
Delgado é, como as outras jihad, uma acção deliberada conduzida pela Arábia
Saudita, tendo por detrás dos “príncipes sauditas” as grandes companhias de
petróleo americanas e europeias e os seus governos. O jhiadismo é uma empresa
multinacional que conjuga os negócios do petróleo, que promovem guerras, que
alimentam os complexos militar-industrial das grandes potências que, no final,
pagam as eleições dos governantes mais ou menos democratas. Entre as ligações
mais conhecidas do jhiadismo saudita com santo mercado ocidental estão as de
Juan Carlos, de Espanha e Sarkozy, de França e as de Trump, com maior negócio.
A América grande de novo.
Cabo Delgado e os
macondes estão à mercê destas forças reais. O jihadismo é uma cortina de fumo.
Tendo a guerra santa, a
jihad, as petrolíferas e os complexos militares por detrás, é certo e seguro
que a violência continuará em Cabo Delgado até esses poderes se assenhorearem
das riquezas que jazem debaixo dos pés descalços dos macondes. O resto são
mentiras piedosas e negócios milionários.
As pessoas de boa
vontade devem contribuir para minorar o sofrimento do extraordinário povo
maconde, orgulhoso, com uma cultura riquíssima, mas os macondes de Moçambique
estão condenados, não pelos sicários do Daesh ou do Boko Haram, mas pelas
bolsas de valores, pelo preço do barril de crude, pelos haréns dos
petro-ditadores, pelos fabricantes de armas e pelos votos dos democratas. Tal
como os iraquianos, os líbios, os sírios, os nigerianos, mas também os
angolanos e os venezuelanos, os macondes estão sujeitos à maldição do petróleo
e à ambição sem freio nem escrúpulos dos grandes predadores mundiais. A
explicação para a violência em Cabo Delgado é simples. Difícil é, como diz um
provérbio africano, tirar o osso da boca do cão.
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