terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Cabo Delgado - Moçambique

 

Carlos Matos Gomes é um dos melhores Comandos que tivémos em Portugal. Sobre a Guiné e o «massacre dos Comandos Africanos Guineenses», exterminados pelo PAIGC perante a passividade da cúpula militar disse (no Prefácio do livro "A Descolonização da Guiné-Bissau", do Coronel Jorge Golias) para todo o mundo  o que ninguém teve a coragem de dizer: os americanos, franceses, suecos, e quejandos só foram democráticos contra algum excesso das nossas tropas, porque após o 25 de Abril os massacres do novo poder guineense ou angolano, já não era massacre, porque cheirava a diamantes, petrodólares e outras riquezas.

É interessante a análise abaixo que o Coronel Matos Gomes, faz dos massacres que se estão a verificar em Moçambique... Todos os governantes que não são capaz de garantir a segurança dos seus cidadãos são um nojo.


Cabo Delgado - Moçambique           

Carlos Matos Gomes

Publicado em :http://www.incomunidade.com/v99/art.php?art=438&fbclid=IwAR1V_ywS5jonAPiiQ8OXjvSRnMvy6Hauth79edVG9W_2RyyTUiMFzUaSBVo

 

A violência em Cabo Delgado é simultaneamente simples de perceber e propositadamente difícil de explicar. A causa simples é a luta pelo poder, enquanto domínio que permite o acesso de um dado grupo às riquezas. Neste sentido, a causa da violência em Cabo Delgado é idêntica à da violência que conduziu às invasões do Iraque, da Síria e à destruição da Líbia. A única diferença é que a região onde se encontram as riquezas – petróleo, gás, e também pedras semipreciosas – é habitada por uma sociedade com poucos ou nenhuns meios de defesa (os macondes) e faz parte de um Estado fraco, incapaz de garantir a ordem interna e de se defender de ataques externos. Cabo Delgado é um alvo mole e barato para os assaltantes.

É deliberada a complexidade das diversas explicações para a violência em Cabo Delgado, classificada como «conflito» - não há qualquer conflito, há imposição de um poder pelo terror. A complexidade destina-se a esconder os responsáveis perante a opinião pública e a confundi-la. Os argumentos que salientam tensões etnolinguísticas, particularmente entre povos muçulmanos da costa, macuas e macondes (animistas/cristãos), desigualdades no acesso a benefícios do Estado por parte dos macondes, favorecidos pelo estatuto dos antigos combatentes, representação política, assimetrias, lançadas para a opinião pública como estando na origem do jhiadismo e das suas práticas de terrorismo religioso são meras falácias, engodos e enganos.

É curioso reparar que o jihadismo, a guerra santa, surge apenas com grande vigor em zonas ricas em recursos naturais. Os fiéis do profeta mais radicais e tementes a Alá concentram-se nas zonas de petróleo e gás! O profeta move-se a petróleo! Também não é uma santa coincidência do Maomé que a violência ocorra na margem direita do Rovuma, onde vive um terço dos macondes e há recursos naturais e ausência de Estado, e não na margem esquerda, na Tanzânia! Mais curioso ainda, o fervor jhiadista surge sempre associado à facção sunita do islamismo e à sua corrente mais radical, o wabismo totalitário, dominante a Arábia Saudita, grande aliado do Ocidente!

Quando alguém refere o jhiadismo como um movimento religioso está a mistificar. Uns fazem-no por ignorância, outros por má-fé. Não existem guerras santas, nem religiosas. As cruzadas não foram uma guerra religiosa, nem a Inquisição, nem a Contra-Reforma, nem a conversão dos índios nas Américas. Todas foram guerras por poder e riqueza, tal como a atual guerra santa islâmica. Em Cabo Delgado, como na Síria, no Iraque, na Líbia ou na Nigéria, a jihad é uma outra designação para petróleo, armas e dólares!

Em 1985 estive em Moçambique a convite do presidente Samora Machel, através do grande humanista e anticolonialista que foi Aquino de Bragança. Numa das conversas, o presidente Machel referiu, para minha surpresa, o desejo de ter mais padres católicos para abrirem missões na zona de Nampula até à fronteira do Rovuma, para contrariar, como claramente afirmou, a «invasão islâmica» desenvolvida com o apoio e o financiamento da Arábia Saudita. Era o seu inimigo. Continua a ser o inimigo de Moçambique.

A violência em Cabo Delgado é, como as outras jihad, uma acção deliberada conduzida pela Arábia Saudita, tendo por detrás dos “príncipes sauditas” as grandes companhias de petróleo americanas e europeias e os seus governos. O jhiadismo é uma empresa multinacional que conjuga os negócios do petróleo, que promovem guerras, que alimentam os complexos militar-industrial das grandes potências que, no final, pagam as eleições dos governantes mais ou menos democratas. Entre as ligações mais conhecidas do jhiadismo saudita com santo mercado ocidental estão as de Juan Carlos, de Espanha e Sarkozy, de França e as de Trump, com maior negócio. A América grande de novo.

Cabo Delgado e os macondes estão à mercê destas forças reais. O jihadismo é uma cortina de fumo.

Tendo a guerra santa, a jihad, as petrolíferas e os complexos militares por detrás, é certo e seguro que a violência continuará em Cabo Delgado até esses poderes se assenhorearem das riquezas que jazem debaixo dos pés descalços dos macondes. O resto são mentiras piedosas e negócios milionários.

As pessoas de boa vontade devem contribuir para minorar o sofrimento do extraordinário povo maconde, orgulhoso, com uma cultura riquíssima, mas os macondes de Moçambique estão condenados, não pelos sicários do Daesh ou do Boko Haram, mas pelas bolsas de valores, pelo preço do barril de crude, pelos haréns dos petro-ditadores, pelos fabricantes de armas e pelos votos dos democratas. Tal como os iraquianos, os líbios, os sírios, os nigerianos, mas também os angolanos e os venezuelanos, os macondes estão sujeitos à maldição do petróleo e à ambição sem freio nem escrúpulos dos grandes predadores mundiais. A explicação para a violência em Cabo Delgado é simples. Difícil é, como diz um provérbio africano, tirar o osso da boca do cão.  

 

 

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