ANTÓNIO MAGALHÃES
Técnico aeroespacial, Sheffield
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Uma pandemia não é algo de novo neste planeta terra, a nossa casa. Mas para quase todos nós foi como que se tivéssemos sido apanhados de surpresa, com uma tragédia que até então era apenas uma assombração que pertencia a um passado que nenhum de nós jamais viveu, apenas teve conhecimento através dos livros e registos da história.
Uma coisa é ler sobre uma
tragédia que atinge a humanidade de tal maneira que as mazelas que nela deixa
são tão profundas ao ponto de mudar por completo o curso e o futuro dessa mesma
humanidade, dando aso a um novo e totalmente diferente sentido à vida como até
então se conhecia, sabendo apesar de tudo, através dos registos que da tragédia
contam a sua história, o rumo que a mesma tomou, e outra coisa é viver uma
desgraça da qual não se sabe muito bem, apenas se especula, as transformações
profundas que a mesma provocará à medida que se vai desenvolvendo.
De qualquer maneira,
sabemos que há nesta pandemia certos factos e certas palavras, ou até mesmo
frases, que a ela irão ficar associada, que de certa maneira ao serem
recordados ou apenas mencionados, saber-se-á de antemão que se fala da pandemia
do covid 19. Palavras que não sendo novas, nunca antes haviam tido tanto uso
como no tempo da pandemia.
Como exemplo podemos
mencionar “confinamento”, “isolamento”, “desinfeção”, “distanciamento social”
etc. etc.
Quando nos parece que
perdemos tudo, que o mundo se nos foge debaixo dos pés, não deixando solo onde
nos possamos apoiar para que continuemos a nossa jornada, parece-nos que a
única coisa a que nos podemos agarrar para continuar o caminho das trevas até
encontrarmos a luz que nos devolverá à vida, é não perder a esperança. E nessa
perspetiva surgiu uma outra frase que pertence também ao grupo das frases e
palavras que definem a pandemia atual. “Vai ficar tudo bem.”
Mas…vai mesmo? E vai
ficar tudo bem para quem?
Mais de nove milhões de
casos confirmados com a infeção do covid 19, e os números a cada dia vão
aumentando sempre, meio milhão de mortos como resultado do vírus, muitas outras
mortes por outras doenças que devido à pandemia não foram devidamente tratadas,
outras negligenciadas, adiadas, por vezes esquecidas. E isto não é sequer uma crítica
aos serviços nacionais de saúde, que apesar de tudo fazem o seu melhor, mas
como diria o grande Mestre José Saramago em Ensaio sobre a Cegueira, “Tenha
calma, disse o médico, numa epidemia não há culpados, todos são vítimas.”
Vai ficar tudo
bem…diz-nos a esperança à qual com uma certa ansiedade, por vezes medo, nos
agarramos.
Milhares de negócios
arruinados, milhões de desempregados em todo o planeta, as economias pelas ruas
da amargura, mais pobreza, mais miséria, mais crime e insegurança.
Projetos e sonhos
adiados.
Famílias e amigos
separados, distanciados. Famílias desfeitas, violência doméstica, e tudo o mais
que os telhados encobrem.
Direitos e liberdades
condicionados, reprimidos.
Vai ficar tudo bem…
Claro que vai ficar tudo
bem. Por muito mórbida a frase que se segue possa soar, não deixa apesar de tudo
de ser um facto. “Entre mortos e feridos há de haver sempre alguém que se safa…
Vai ficar tudo bem…
Claro que vai ficar tudo
bem…, mas… para quem…?
Vai morrendo tudo...o Mundo esvazia-se, fica limpo. Volta outro "ser" e pode ser que o Mundo melhore renovado por outros seres...
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