ANTÓNIO MAGALHÃES
Técnico aeroespacial, Sheffield
|
Sou aquela música que
acabou agora mesmo de tocar na rádio. Sou a memória que ela me veio entregar de
uma distância entre o homem que sou e o adolescente que fui, e aquele domingo
que ainda lhe consigo sentir o aroma, emanado por um calor que espalhava pelo
ar o perfume das árvores, do verde carregado da relva e da dor que a esse dia
em particular está associada esta memória que a música que a rádio tocou, me
veio trazer.
Sou aquele lugar por onde
se passeia o meu pensamento em dias de maior nostalgia e solidão. Sou as minhas
origens, e sou esse mesmo lugar que sempre me puxa aos dias de quando criança,
jovem, adolescente, se espalhou a essência do que fui, porque essa essência que
ficou a pairar nesse tempo longínquo é o que hoje sou.
Sou a dor que se esconde
por detrás de um sorriso disfarçado, sou as lágrimas que não queria brotar.
Sou o olhar melancólico e
perdido daquela criança petrificada, vítima de maldades que não consegue
compreender.
Sou o olhar dos
inconformados e que sofrem em silêncio. Sou a voz abafada, presa na sua revolta
porque às vezes não vale a pena gritar se nos ouvem, mas não nos entendem…
Sou por vezes o medo de
ter esperança.
Sou as minhas origens e
delas o ponto de partida na minha caminhada exaustante pela vida.
Sou a ovelha no rebanho
de Deus sem saber como ser digno de pertencer a esse mesmo rebanho, apesar dos
esforços continuados.
Sou um pouco de que vês e
do muito que não enxergas (…)
(Retalhos do quotidiano)
Sem comentários:
Enviar um comentário