Júlia Serra
O tempo surge, muitas vezes,
ligado a um movimento giratório de um círculo onde se inscreve o ser e a vida.
No Dicionário dos Símbolos de Chevalier e Gheerbrant pode ler-se: “Tanto na
linguagem como na percepção, o tempo simboliza um limite na duração e a duração
mais sentida com o mundo do Além, que é o do eterno. Por definição, o tempo
humano é finito e o tempo divino é infinito, ou antes, é a negação do tempo, o
ilimitado” (p.640). Infere-se, pois, que a vida do ser humano é passageira – “um
ai que mal soa”, nas palavras de João de Deus – e sujeita à inexorabilidade do
tempo. É um círculo que vai rodando ….
No momento atual, em que um
dia parece um mês e um mês um ano, saber gerir o tempo é essencial, pois, se
para uns é um quebra-cabeças, para outros é tempo de trabalho e para outros de
“endoidecer.” Se associarmos o tempo ao espaço, que indissoluvelmente aparecem
ligados, então, a complexidade ainda é maior. Conviver num apartamento com
crianças em idade escolar e com tarefas diferenciadas pode provocar o caos,
pois é preciso ter meios humanos e recursos materiais, para que a casa não desabe.
Para uma mãe que tente gerir tarefas dos filhos e, em simultâneo, esteja em
teletrabalho, é praticamente impossível o resultado ser satisfatório, dando
origem a angústia e a stress. Para outros, geralmente os mais velhos, que estão
confinados e não podem ser úteis, o tempo nunca mais passa e ficam também eles
ansiosos. Um tempo antitético e dilemático que chega a roçar o absurdo.
O Relógio de Vinicius
de Moraes corre o risco de avariar, porque o tic-tac é desigual e, portanto, é
necessário pensar nas marcas psicológicas que este tempo vai deixar nas
pessoas, sobretudo, naquelas que padeceram mais neste período e que perderam a
força para recomeçar. Há dias, um programa televisivo – Prós e Contras –
alertava para isto, assim como para a violência doméstica que parecia estar
estagnada, mas poderá estar num período de incubação e rebentar abruptamente. É
um tempo que não passa depressa e os efeitos podem ser catastróficos. Neste
sentido, é preciso acreditarmos numa força transcendente que vele por nós. Para
mim, é Deus.
A parte moral é imprescindível
para vencermos o combate.
Fiquemos com este excerto de
Vinicius, mas com a certeza de nunca perder a alegria, perante o
tic,tac
Passa o tempo
tic, tac, tic, tac passa a hora
Chega logo
tic, tac, tic, tac, vai-te embora,
Passa tempo
bem depressa
Não atrasa nem
demora,
Que já estou
muito cansado,
Já perdi toda
alegria
De fazer meu
tic-tac, dia e noite, noite e dia,
JS
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