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O confinamento, como agora se diz, ou o Estado de Emergência como diz a Lei (e o Presidente Marcelo que
agora não pode andar aos abraços e beijinhos), ou ainda como preferimos, o Estado de Sítio, trouxe-nos mal-estar,
por um lado, mas alguns prazeres, por outro.
Antes de 16 de Março, por
razões profissionais, tivemos grandes dificuldades em consultar alguns
clássicos, porque no Portugalinho corrupto se implantou, desde 2005
(ressalvando o período de 2011/2014), um sistema
escravo de trabalho (que agora o 19, seja lá o que isso é, veio pôr a
descoberto - assunto a que dedicaremos reflexão a devido tempo). O 19 colocou
alguma justiça na coisa. Sem descurar a parte profissional, temos vários
períodos de intervalo (como acontecia antes de 2005 – e como devia ser) para
fazermos uma consulta aqui e ali. Mas sobre esta matéria (como dizem os xuxas) trataremos em tempo próprio.
Relemos Sófocles, Eurípides
e Ésquilo. Também Homero e Cícero. Tragédias, como a do 19. Estão ali coisas
sábias que nos ajudam a ultrapassar a coisa.
A seguir pegamos em Shakespeare
(autor de cabeceira). No Hamlet. Uma
tragédia repleta de venenos. E quase logo no início, o fantasma do rei da
Dinamarca aparece a Hamlet, seu filho, revelando-lhe que fora assassinado pelo
próprio irmão, Cláudio, que lhe introduzira um extracto de meimendro no ouvido,
enquanto dormia.
O que é o meimendro? É
uma Solanácea. Servimo-nos do belíssimo livro de João Paulo André, Poções e Paixões, que também refere o
episódio, para descobrirmos que era um a planta de onde se extraia esse veneno
no tempo do dramaturgo. Desde a Antiguidade que as propriedades psicotrópicas
das Solenáceas, especialmente da mandrágora, foram amplamente exploradas na
feitiçaria. E na Idade Média tudo o que está ligado a bruxas, bruxos,
feiticeiras e feiticeiros, serviram-se dessa planta para a preparação de
unguentos.
A passagem da tragédia Shakespeariana
vem transcrita na CenaV- Acto primeiro:
“…
Quando eu, segundo o meu costume, dormitava no jardim, teu tio aproximou-se de
mim pé ante pé, àquela hora da tarde, em que estava sem defesa, e, com um frasco
cheio do maldito suco do meimendro, lançou nos meus ouvidos esse leproso
liquido, que é tão inimigo do sangue do homem que, vivo como o azougue, corre
através das portas naturais e sinuosidades mais secretas do corpo e com um vigor
repentino, semelhante às gotas de ácido no leite, coagula e coalha o sangue
fluído e sadio (…).
Nenhum médico do seu
tempo teria descrito melhor a coisa.
Mas a que propósito
trazemos aqui Shakespeare e esta passagem de Hamlet?
Hoje sabe-se, como nos
diz João Paulo André, que o canal auditivo constitui uma via eficaz para a
introdução de alcaloides tropânicos anticolinérgicos no corpo (p. 255).
Ora o que nos têm dito
desde o início da crise do 19, é que as entradas no corpo humano são a boca, as
narinas e os olhos. Ainda ninguém referiu os OUVIDOS. Porque será?
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