domingo, 8 de março de 2020

O falso milagre económico português



O que se esconde atrás dos números da retoma
Por trás dos números do crescimento da economia e da redução do desemprego, esconde-se uma realidade mais sombria. "A balança comercial está equilibrada mas está equilibrada à custa dos serviços e sobretudo do turismo que praticam salários baixos. O governo tem a limitação imposta pelas regras de Bruxelas, tem de deslocar uma fatia significativa do rendimento que era importante para o desenvolvimento do país, para o pagamento da dívida pública e para pagamentos a credores internacionais. É uma restrição enorme que inibe a capacidade de ação pública", explicou à euronews José Reis, professor de Economia da Universidade de Coimbra.

Precariedade na Função Pública

As limitações orçamentais afetam os serviços públicos, em particular, nas áreas da saúde e da educação. Ruben Silva vive no Porto e dá aulas numa escola em Lisboa. Tem um contrato precário, ganha 1.100 euros por mês e gasta metade do salário em alojamento na capital. "Tenho uma casa aqui, e fico numa pousada em Lisboa. É uma situação precária, com pouca dignidade. Eu já estou habituado. Eles não sabem o que custa deixar o meu filho e a minha família todas as semanas. O meu filho nunca mais vai ter sete ou oito anos. Ele pede-me para eu o levar à escola e eu não posso", lamentou o professor português. Na última década, para controlar o défice, os salários dos funcionários públicos foram congelados. As greves de professores sucedem-se. Para completar os rendimentos, Ruben Silva dá aulas de surf ao fim de semana. "Para perceberem a dimensão do drama, há professores que nunca na vida vão chegar ao último escalão da carreira. Não entra ninguém ou então entram para aqueles horários que ninguém quer. Vai fazer um ou dois meses de substituição, horários reduzidos de 10 ou 15 horas. As pessoas perguntam-me o que vou fazer para o ano e eu digo que não sei", disse Ruben Silva.
Risco de pobreza e exclusão social

Entre 2010 e 2018 saíram de Portugal mais de 17 mil médicos e enfermeiros. Os últimos dados indicam que 2,2 milhões de pessoas estão em risco de pobreza ou de exclusão social em Portugal, um número que se situa ligeiramente abaixo da média europeia. Mas para quem perde a casa, as estatísticas importam pouco. "Eu queria estar no meu cantinho, mas, infelizmente, não é como a gente quer", disse Otelinda de Jesus Pinto cujo prédio no Porto vai ser demolido para dar lugar a um hotel.

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