sábado, 7 de março de 2020

Berço de Camões debate-se hoje em Chaves

                     

BARROSO da FONTE
Dias 6 e 7 debate-se em Chaves o local de nascimento. Os Flavienses reivindicam Vilar de Nantes como terra natal do maior épico Português de todos os tempos.
Não é lenda, como a de Viriato que terá nascido em Grou, perto de Santo André. Disso tratou o historiador galego Frederico Justino Mendez. De Camões há várias fontes e diversos autores. Um desses autores foi o Prof. José Hermano Saraiva que escreveu o livro sobre a «Vida Ignorada de Camões» e a mim próprio mo confirmou, quando fui Conservador do Paço dos Duques de Bragança e ali veio, com a sua equipa, gravar dois programas sobre a Casa de Bragança e sobre o Castelo da Fundação de Portugal para os «Horizontes de Memória».
Do século XIX para o século XX houve vozes autorizadas que mudaram de opinião no que respeita à Família do nosso maior épico. Segundo essas duas vozes que deixaram obra publicada sobre o tema, Luís de Camões terá nascido em Vilar de Nantes, no concelho de Chaves. Até aos fins de 1900 Constança, Coimbra e Lisboa eram sítios prováveis e quase sem vozes discordantes. Até aí houve maior interesse em valorizar a obra do que o seu Autor. E havia razões fortes para essa exaltação. Tanto assim que o Estado Novo se deu ao cuidado de escolher, nos oito séculos de Portugalidade que haviam decorrido, uma data importante que desse para chamar o Dia De Portugal. Como o dia do nascimento também era incerto, optou-se pelo dia da morte de Camões: o dia 10 de Junho. Ao dia de Portugal, para ser mais florido, mais simbólico no seu patriotismo e mais apropriado aos feitos dos Combatentes da Grande Guerra e do Ultramar, acrescentou-se o binómio: dia da Raça. Após o 25 de Abril de 1974 ao «Dia de Portugal e da Raça», acresceu «Dia de Portugal, da Raça e das Comunidades Portuguesas».
Tal como à data da primeira celebração ninguém contestara o chamariz da data, também na primeira solenidade «democrática», se aceitou festejá-la sem contrariar aquilo que convinha à modernidade. Era, sem tirar nem pôr, o pensamento da inauguração da Ponte Salazar. Também na política os extremos se tocam. E, quando o interesse fala mais alto, agita-se a parte mais conveniente.
José Hermano Saraiva foi ministro da Educação. O Brigadeiro José Guilherme Calvão Borges foi um genealogista distinto. Ambos defenderam nas obras escritas que investigaram e legaram à posteridade provas que, até hoje, não vi contestadas.
Um e outro se debruçaram sobre a vida e a obra de Luís de Camões. Da obra limitaram-se a aceitar a opulência de Os Lusíadas. Quanto ao Autor passou a haver a liberdade de contestar as suas raízes. E, como não foram rebatidos, presume-se que um e outro tenham deixado no ar, a possibilidade das origens serem Flavienses.
A Voz de Chaves anunciou em fins de Fevereiro, em artigo de opinião, com o cartaz do Encontro Temático: Obra, Vida e Mito Camões Por Chaves que insere o programa desse Encontro cultural que vai realizar-se dias 6 e 7. Tem por palco ideal o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso.
É uma boa notícia que agrada a Chaves e também a Montalegre, não só porque, segundo a tradição, as Terras de Barroso alongavam-se até à ponte Romana de Chaves. Ora como os leitores sabem, Nadir Afonso foi filho de Artur Maria Afonso, poeta, jornalista, empresário de Minas, aspirante de Finanças e professor primário, em Cambezes do Rio. Nasceu na Casa da Crujeira em Montalegre e deixou vários livros de poemas, uma boa parte dos quais dedicados ao seu concelho natal. A mãe de Nadir nasceu em Sapelos, concelho de Boticas. E por isso Nadir foi foi um verdadeiro Barrosão, pelo Pai e pela Mãe.
Chaves e Boticas já têm estruturas, diferentes, nas duas sedes de concelho a catapultar Pais e Filhos. Só estes nasceram em Chaves. Mas só Montalegre ficou órfão de uma estrutura similar, que honre os dois. Seria uma triangulação recomendável aos admiradores da arte contemporânea, que na mesma viagem cultural visitariam as três sedes de concelho que já foram irmãos siameses e têm de o continuar a ser, por solidariedade telúrica.
Montalegre tem em construção uma espécie de Casa da Cultura, onde acolherá o Arquivo Municipal, obras de autores Barrosões e deveria ter, também, uma galeria de arte com o nome de Nadir Afonso. Já em diversos jornais deixei esta sugestão que a Família de Nadir Afonso: Mãe e os dois filhos, já terão sugerido à Câmara de Montalegre. Seria uma boa opção.
Ainda no tempo de Carvalho de Moura, de José Joaquim de Sousa Fernandes e de Branco Teixeira, lembrei os nomes de Artur Maria Afonso e de Nadir Afonso, o que se concretizou na sede dos três concelhos. Penso que foi uma justa reivindicação. Desta vez louvo Chaves e Boticas pelos: Museu e Centro Cultural Nadir Afonso e sugiro que o diálogo entre a Drª Laura Afonso e o Presidente  Orlando Alves resulte em mais uma justa Homenagem Cultural aos dois ilustres Barrosões.
A edição nº 17, de Junho de 1997, da Revista Aquae Flaviae, foi inteiramente dedicada à Família Flaviense de Luís de Camões. Foi autor dessa tese genealógica o Brigadeiro José Guilherme Calvão Borges, um ilustre Flaviense que seria justo homenagear neste louvável Encontro Temático. Morreu há 19 anos e deixou um estudo admirável na área da genealogia e heráldica. Na obra Vida ignorada de Camões, 1978, de José Hermano Saraiva, o popular historiador abre essa porta nas suas 400 páginas. Calvão Borges, na Revista Olissipo e nos estudos que a Aquae Flaviae, louvavelmente reproduziu. O prefácio de Joaquim Veríssimo Serrão mantém-se atualizado e permite que jovens historiadores aprofundem as raízes que deixaram rasto em Montalegre.

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