BARROSO da FONTE |
Não é lenda, como a de
Viriato que terá nascido em Grou, perto de Santo André. Disso tratou o
historiador galego Frederico Justino Mendez. De Camões há várias fontes e
diversos autores. Um desses autores foi o Prof. José Hermano Saraiva que
escreveu o livro sobre a «Vida Ignorada de Camões» e a mim próprio mo
confirmou, quando fui Conservador do Paço dos Duques de Bragança e ali veio,
com a sua equipa, gravar dois programas sobre a Casa de Bragança e sobre o
Castelo da Fundação de Portugal para os «Horizontes de Memória».
Do século XIX para o
século XX houve vozes autorizadas que mudaram de opinião no que respeita à
Família do nosso maior épico. Segundo essas duas vozes que deixaram obra
publicada sobre o tema, Luís de Camões terá nascido em Vilar de Nantes, no
concelho de Chaves. Até aos fins de 1900 Constança, Coimbra e Lisboa eram
sítios prováveis e quase sem vozes discordantes. Até aí houve maior interesse
em valorizar a obra do que o seu Autor. E havia razões fortes para essa
exaltação. Tanto assim que o Estado Novo se deu ao cuidado de escolher, nos
oito séculos de Portugalidade que haviam decorrido, uma data importante que
desse para chamar o Dia De Portugal. Como o dia do nascimento também era
incerto, optou-se pelo dia da morte de Camões: o dia 10 de Junho. Ao dia de
Portugal, para ser mais florido, mais simbólico no seu patriotismo e mais
apropriado aos feitos dos Combatentes da Grande Guerra e do Ultramar,
acrescentou-se o binómio: dia da Raça. Após o 25 de Abril de 1974 ao «Dia de Portugal
e da Raça», acresceu «Dia de Portugal, da Raça e das Comunidades Portuguesas».
Tal como à data da
primeira celebração ninguém contestara o chamariz da data, também na primeira
solenidade «democrática», se aceitou festejá-la sem contrariar aquilo que
convinha à modernidade. Era, sem tirar nem pôr, o pensamento da inauguração da
Ponte Salazar. Também na política os extremos se tocam. E, quando o interesse
fala mais alto, agita-se a parte mais conveniente.
José Hermano Saraiva
foi ministro da Educação. O Brigadeiro José Guilherme Calvão Borges foi um
genealogista distinto. Ambos defenderam nas obras escritas que investigaram e
legaram à posteridade provas que, até hoje, não vi contestadas.
Um e outro se
debruçaram sobre a vida e a obra de Luís de Camões. Da obra limitaram-se a
aceitar a opulência de Os Lusíadas. Quanto ao Autor passou a
haver a liberdade de contestar as suas raízes. E, como não foram rebatidos,
presume-se que um e outro tenham deixado no ar, a possibilidade das origens
serem Flavienses.
A Voz de Chaves
anunciou em fins de Fevereiro, em artigo de opinião, com o cartaz do Encontro
Temático: Obra, Vida e Mito Camões Por Chaves que insere o programa
desse Encontro cultural que vai realizar-se dias 6 e 7. Tem por palco ideal o
Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso.
É uma boa notícia que
agrada a Chaves e também a Montalegre, não só porque, segundo a tradição, as
Terras de Barroso alongavam-se até à ponte Romana de Chaves. Ora como os
leitores sabem, Nadir Afonso foi filho de Artur Maria Afonso, poeta,
jornalista, empresário de Minas, aspirante de Finanças e professor primário, em
Cambezes do Rio. Nasceu na Casa da Crujeira em Montalegre e deixou vários
livros de poemas, uma boa parte dos quais dedicados ao seu concelho natal. A
mãe de Nadir nasceu em Sapelos, concelho de Boticas. E por isso Nadir foi foi
um verdadeiro Barrosão, pelo Pai e pela Mãe.
Chaves e Boticas já têm
estruturas, diferentes, nas duas sedes de concelho a catapultar Pais e Filhos.
Só estes nasceram em Chaves. Mas só Montalegre ficou órfão de uma estrutura
similar, que honre os dois. Seria uma triangulação recomendável aos admiradores
da arte contemporânea, que na mesma viagem cultural visitariam as três sedes de
concelho que já foram irmãos siameses e têm de o continuar a ser, por
solidariedade telúrica.
Montalegre tem em
construção uma espécie de Casa da Cultura, onde acolherá o Arquivo Municipal,
obras de autores Barrosões e deveria ter, também, uma galeria de arte com o
nome de Nadir Afonso. Já em diversos jornais deixei esta sugestão que a Família
de Nadir Afonso: Mãe e os dois filhos, já terão sugerido à Câmara de
Montalegre. Seria uma boa opção.
Ainda no tempo de
Carvalho de Moura, de José Joaquim de Sousa Fernandes e de Branco Teixeira,
lembrei os nomes de Artur Maria Afonso e de Nadir Afonso, o que se concretizou
na sede dos três concelhos. Penso que foi uma justa reivindicação. Desta vez
louvo Chaves e Boticas pelos: Museu e Centro Cultural Nadir Afonso e sugiro que
o diálogo entre a Drª Laura Afonso e o Presidente Orlando Alves resulte em mais uma justa
Homenagem Cultural aos dois ilustres Barrosões.
A edição nº 17, de
Junho de 1997, da Revista Aquae Flaviae, foi inteiramente
dedicada à Família Flaviense de Luís de Camões. Foi autor dessa tese
genealógica o Brigadeiro José Guilherme Calvão Borges, um ilustre Flaviense que
seria justo homenagear neste louvável Encontro Temático. Morreu há 19 anos e
deixou um estudo admirável na área da genealogia e heráldica. Na obra Vida
ignorada de Camões, 1978, de José Hermano Saraiva, o popular historiador
abre essa porta nas suas 400 páginas. Calvão Borges, na Revista Olissipo
e nos estudos que a Aquae Flaviae, louvavelmente reproduziu. O prefácio
de Joaquim Veríssimo Serrão mantém-se atualizado e permite que jovens
historiadores aprofundem as raízes que deixaram rasto em Montalegre.
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