Já todos disseram tudo
sobre Vasco Pulido Valente. Aqueles que o conheceram e os outros. O Vasco foi,
sobretudo, um homem livre, conhecedor da escola inglesa, onde se doutorou (Oxford).
Escrevia o que lhe ditava o génio, culto e desassombradamente corajoso. Esmiuçou
com inteligência superior a mesquinhez do indígena (como gostava de dizer), e a mediocridade
da “nata do povo”, bem retratada por dois cronistas transmontanos desassombrados: Flávio Vara e Barroso da Fonte.
Do Vasco, para se
finalizar esta memória do cronista mais citado neste blogue, aqui deixamos
texto antigo onde, sem contemplações, faz o retrato da Nação:
“Profissionalismo”
O
filho de Guterres não enganou o pai: há falta de profissionalismo, em Portugal.
O que não quer dizer que não haja, aqui e ali, grandes profissionais. Quer
dizer que Portugal não tem dinheiro para os formar e pagar, em quantidade
suficiente. E também que vivemos numa sociedade corporativa e estática. Não
falo evidentemente dos trabalhadores da economia tradicional ou com poucas
“qualificações”: falo da imensa massa dos que foram apanhados pela irremediável
mediocridade indígena. Começa tudo na escola, pública ou privada, que
geralmente se deixa numa quase completa inocência intelectual. A seguir, vem a
universidade – a palavra aplica-se? -, quase sempre uma espécie de parque de
estacionamento, dividido em talhões com o nome de “aulas”, por onde os
professores intermitentemente passam, para perorar a uma audiência abúlica: não
há equipamento, não há investigação, não há convívio, não há polémica. No fim,
chega a “vida”. Ser ambicioso não faz sentido, em Portugal. Na maior parte das
carreiras, o sucesso é um estado comatoso de pobreza envergonhada. O bom
trabalho, o óptimo trabalho fica caríssimo. Ninguém trabalha bem sozinho.
Precisa de instituições, de mercados e de uma compensação equivalente ao seu
esforço e ao seu talento. Quem quer essas coisas, mesmo a sério, emigra.
Vejam-se os futebolistas ou os drs. António Borges e Queirós de Melo. Pior: até
cá dentro, não existe verdadeira concorrência. Não se despede ninguém (excepto
a arraia-miúda, claro), não se critica ninguém, não se incomoda ninguém. A
impunidade reina. Quem “sobe” (se é que vale a pena “subir”) não o consegue
pelo mérito. “Sobe” pelo partido, pelo grupo de pressão, pelo peso corporativo
ou pela intriga. A independência mata. Nesta terra de cegos, é melhor arrancar
um olho para ser rei.”
FAZ DE CONTA, Dário de
Notícias, 8.4.2001
VASCO PULIDO VALENTE
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