terça-feira, 26 de novembro de 2019

GUIMARÂES sede histórica da Lusofonia


BARROSO da FONTE
É um direito inato. Portugal começou como Condado Portucalense. Aliás, houve dois condados: aquele que existiu entre 868 e 1071 e que foi iniciado por Vímara Peres, como prémio de ter sido ele o líder do afastamento dos muçulmanos a partir do Rio Douro para sul. Esse primeiro Condado teve a sede no Porto, onde permanecem os edifícios, naturalmente adaptados aos tempos que decorreram e que por volta de 926, foram confiados aos conde de Tui e sua mulher Dona Muma. Esse Conde chamou-se Hermenegildo Gonçalves e casou com uma descendente de Vímara Peres cujo nome evoluiu para Mumadona, anagrama de D. Muma. Tiveram seis filhos e, para que não continuassem expostos ao inimigo que chegava, mais facilmente pelo Rio Douro ou pelo Atlântico, entenderam mudar-se para o interior do país, mormente para Guimarães, cujos terrenos assim chamados foram herança de Vímara Peres. Por volta do ano de 926 já se impunha o nome dessa grande Senhora que substituiu o marido Hermenegildo após a sua morte.
 Guimarães passou a ter, na Praça de Mumadona, em frente ao Tribunal, uma escultura da Fundadora  da capital do Condado Portucalense. Logo após a morte do marido, distribuiu a herança pelos seis filhos. O chão onde a Vila se fundou, a partir do Mosteiro e da Colegiada da Oliveira calhou, em sorte, à filha Oneca. Mas a Mãe, Dona Muma, pediu à filha para trocar essa parte por Creixomil que era uma zona alagadiça e imprópria para implementar uma povoação. Assim aconteceu até 1071 quando Nuno Mendes se confrontou com o Rei Garcia, de Leão e Castela, que saiu vencedor. O representante do Condado Portucalense foi derrotado e morto. Esse Condado foi devolvido ao reino de Leão e Castela.
Em 1096, imperando Afonso VI, esse antigo Condado Galego foi atribuído a D. Teresa, sua filha, como prenda de casamento com o Conde D. Henriques. Com fronteiras mais amplas, com estabilidade mais consistente e com estruturas mais sólidas, o recuperado espaço galego que tivera como limites os rios Minho e Douro, a norte e sul, respetivamente, pretendeu tornar-se independente, em relação ao reino da Galiza. Pela discordância com o sogro Afonso VI que entregara as competências e o poder político à filha Urraca e seu marido Raimundo, o Conde D. Henrique, igualmente genro do mesmo Imperador,  magoado com a distribuição dos bens e do poder, cedo começou a distanciar-se do governo galego. D. Teresa, que inicialmente também partilhara da vontade do Conde, ao ter o filho varão que tanto ansiaram, inocularam nele, através do aio, Egas Moniz, a vontade paterna no sentido de se emancipar. Segundo a tradição esse filho com o nome de Afonso, como o avô, teria entre 2 a 3 anos, quando o pai morreu. A preparação para vingar esse desejo paterno foi-se avolumando, tanto mais que a Mãe D. Teresa, anos depois de ficar viúva, começou a perder-se de amores pelos manos Trava, altos quadros do Reino galego, facto que mais enfureceu o jovem infante. O primo, Afonso VII, imperador do reino Galego, exigia vassalagem por parte do jovem infante, o que nunca aconteceria. Até que, em 24 de Junho de 1128, as tropas dos Peres de Trava, tentaram derrotar, a teimosia de Afonso Henriques que venceu a Mãe e os seus apoiantes. Aconteceu este desfecho ao fim do dia 24 de Junho de 1128, na tal «Primeira Tarde Portuguesa» de que sentenciou José Mattoso.
Foi este o momento do parto que Portugal irradiou para a Lusofonia, palavra mais ampla e sugestiva da quinta Língua mais falado do Universo.
Essa certidão de garantia foi proclamada no dia 25 de Novembro de 2019, pela UNESCO que registou para 5 de Maio de cada ano, o dia oficial da nossa maior riqueza. Fernando Pessoa foi certeiro e provisional  ao sentenciar que «a nossa Pátria é a Língua Portuguesa».
Se Portugal nasceu em S. Mamede, concelho de Guimarães, nessa primeira tarde Portuguesa, ao som  das palavras vitoriosas que por essa altura, tinham a força das balas, das setas e dos gritos de vitória, é legítimo reconhecer que este mesmo chão de Guimarães, volvidos nove séculos, tem hoje o mesmo simbolismo, a mesma coerência e os mesmo crédito que teve, enquanto «cidade berço da nacionalidade».
Se a nossa Língua é a nossa Pátria e a nossa Pátria é a nossa Língua no dia 5 e Maio de cada ano todos aqueles que falam a Língua Portuguesa – os 265 milhões de falantes -  têm direito a partilhar deste orgulho transfronteiriço, com epicentro em Guimarães.

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