Em finais de 1922, mais de 60 intelectuais críticos da Revolução Russa, que
então completava cinco anos, foram, juntamente com as suas famílias, deportados
para a Europa Ocidental. Este episódio que ficaria conhecido como “Vapor da
Filosofia”, teve inicio em São Petersburgo, à ordens de Lenine, e está
minuciosamente descrito no livro de Lesley Chamberlain (2008), jornalista
britânica que viveu na União Soviética como correspondente estrangeira e
começou a interessar-se pelo “Vapor da Filosofia” quando, no início dos anos
70, conheceu um filho de Semion Frank, um dos filósofos que estavam a bordo.
A autora conhece bem a realidade que levou a esta purga promovida pelo
líder dos bolcheviques. Contudo, no contexto soviético, de assassinatos e
campos de trabalhos forçados, o exílio foi uma punição suave, como ela própria
admite. E admite mais. Que “O Vapor da Filosofia” é uma nota de rodapé da
história soviética. Porém, Chamberlain tem toda a razão ao associar o episódio
ao totalitarismo. Porque, como afirma, não se trata de avaliar o mérito dos
filósofos dissidentes, mas apenas de notar que eles valorizavam uma individualidade
proibida. "Quando Lenine baniu o homem interior, ele deu o passo decisivo
para transformar o mundo soviético em um mundo desumano". Embora não os
comparando, a autora sugere, na linha de interpretações mais recentes, que as
diferenças entre Lenine e o seu sucessor, Estaline, seriam mais de grau do que
de natureza.
Robert Service, autor de uma biografia crítica de Lenine, nem refere este
episódio no seu volume. Na realidade, o plano inicial do revolucionário, de
acordo com Service, era fuzilar as pessoas ligadas à igreja ortodoxa.
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