domingo, 14 de abril de 2019

O Vapor da Filosofia



Em finais de 1922, mais de 60 intelectuais críticos da Revolução Russa, que então completava cinco anos, foram, juntamente com as suas famílias, deportados para a Europa Ocidental. Este episódio que ficaria conhecido como “Vapor da Filosofia”, teve inicio em São Petersburgo, à ordens de Lenine, e está minuciosamente descrito no livro de Lesley Chamberlain (2008), jornalista britânica que viveu na União Soviética como correspondente estrangeira e começou a interessar-se pelo “Vapor da Filosofia” quando, no início dos anos 70, conheceu um filho de Semion Frank, um dos filósofos que estavam a bordo.
A autora conhece bem a realidade que levou a esta purga promovida pelo líder dos bolcheviques. Contudo, no contexto soviético, de assassinatos e campos de trabalhos forçados, o exílio foi uma punição suave, como ela própria admite. E admite mais. Que “O Vapor da Filosofia” é uma nota de rodapé da história soviética. Porém, Chamberlain tem toda a razão ao associar o episódio ao totalitarismo. Porque, como afirma, não se trata de avaliar o mérito dos filósofos dissidentes, mas apenas de notar que eles valorizavam uma individualidade proibida. "Quando Lenine baniu o homem interior, ele deu o passo decisivo para transformar o mundo soviético em um mundo desumano". Embora não os comparando, a autora sugere, na linha de interpretações mais recentes, que as diferenças entre Lenine e o seu sucessor, Estaline, seriam mais de grau do que de natureza.
Robert Service, autor de uma biografia crítica de Lenine, nem refere este episódio no seu volume. Na realidade, o plano inicial do revolucionário, de acordo com Service, era fuzilar as pessoas ligadas à igreja ortodoxa.

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