A partir do século XII, com o renascimento das
cidades, a eclosão gótica, manifestou-se desde logo na catedral, sede do bispo
(porque recebia o trono do bispo – cathedra)
e igreja urbana por excelência. Para além da ousadia técnica e empreendedora do
homem medieval, a catedral é o esforço supremo de uma sociedade em busca de
Deus.
Estes edifícios, cujos arquitectos foram
estimulados a elevar as naves para os tornar mais leves que as construções
românicas, passarão a ser centros de saber e de conhecimento, onde se ministra
o ensino e se promove o debate, que estará na origem das universidades.
A fachada flanqueada por duas torres eleva-se
para o céu, e a sua iconografia, glorifica Cristo e a Virgem Maria, o poder
espiritual que se junta ao poder temporal com as representações de profetas e
reis. Axialmente a sua nave conduz-nos para a abside e para o altar – supremo
lugar de culto. Onde a nave se intersecta com o trasepto (no cruzeiro),
ergue-se a abóbada, a cúpula ou o zimbório, que projectam no espaço sagrado uma
luz sublime, algo mística. Todos os elementos do edifício contribuem para
acentuar a verticalidade e toda uma dinâmica plástica própria – dos fustes das
colunas, às nervuras das abóbadas, das ogivas dos arcos e janelas às linhas
verticais dos contrafortes, arcobotantes e pináculos.
O Gótico surge em França com a construção de
Saint Denis, também em Paris, mas Notre Dame, tornou-se um dos maiores símbolos
do gótico, desde o início, influenciando todas as demais, e um símbolo do
imaginário colectivo com a obra de Victor Hugo que conta a história da bela cigana Esmeralda e do corcunda Quasímodo, guardião dos sinos do templo (por isso ficou surdo) e companheiro das suas gárgulas.
Ontem, esse símbolo (cuja
construção se iniciou em 1163, ou mesmo em 1160), palco de acontecimentos como coroações
de reis e imperadores, exéquias de presidentes, missas como a da libertação de
Paris na II Guerra, desapareceu naquele fogo medonho. Se a arte ficou mais pobre,
não mais pobre ficou o espirito humano.
Armando Palavras
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