2 de Março
A senadora democrática do Massachusetts e candidata presidencial, Elisabeth Warren, uma espécie de Catarina Martins num mau dia, quer
apoderar-se de 2% das fortunas dos americanos com mais de 50 milhões de
dólares, para financiar um serviço nacional de creches. O senador democrático e
candidato presidencial, Bernie Sanders, quer instituir na América um serviço de
saúde gratuito e universal e um serviço público de educação do básico ao
superior, também gratuito e universal. Têm ambos muito apoio de intelectuais e
de estudantes.
Trump diz que a oposição é socialista e que só ele
pode salvar a América do socialismo. Se calhar, ainda salva.
3 de Março
Tudo se pode dizer do juiz Neto de Moura. Os processos
com que ele ameaça o mundo não valem nada. Uma única coisa não se pode pedir: a
remoção do homem. Foi isso precisamente o que Catarina Martins fez hoje,
esquecida de que um dia, se por acaso for objecto de uma campanha dos media e
das redes sociais, talvez precise de um judicial independente.
As sentenças são, legitimamente, objecto de crítica e
esse direito não deve ser restringido. Só que os juízes devem ser
irresponsáveis pela substância do que decidem. Se não é melhor irmos todos viver
para a Polónia, ou emigrarmos no tempo para a Ditadura.
4 de Março
Marcelo fez muito mal aos políticos portugueses. Nas
piores cenas de rua, ele é salvo por uma certa condescendência de classe e uma
certa arrogância salazarista. Mas não se passa o mesmo com os outros. António Costa, de
avental, a cozinhar uma cataplana no “Programa da Cristina”, é simplesmente
penoso e reles; e nem sequer tem a desculpa de
precisar de votos.
5 de Março
A inquietação a
propósito das fake
news e da iliteracia informática lembra
a polémica sobre a bondade da alfabetização do povo, aí por volta de 1865,
quando se inventou o papel barato e as tiragens dos jornais subiram de uns
milhares de exemplares para dezenas de milhar. Havia quem não quisesse ensinar
a ler à ralé, com medo que os jornais a desvairassem e ela se bandeasse com a
revolução radical. E havia quem a quisesse ensinar a ler, exactamente pelas
razões contrárias.
O Governo também tem medo da má influência das redes
sociais nos portugueses. No fundo, acha que eles não são de confiança e não
sabem distinguir as notícias falsas das verdadeiras; nem são capazes de
perceber o que é uma campanha de ódio e o que é simples propaganda política. Os
jornais de grande tiragem do século XIX provocavam o mesmo pânico nos políticos
da altura. Era o pânico da democracia.
6 de Março
A Relação do Porto
capitulou perante os media e as redes
sociais. Isto significa que o poder judicial,
um poder soberano, se deixa transviar por causa de um
programa de Ricardo Araújo Pereira e
de umas tantas petições no Facebook.
É a primeira grande cedência do Estado português ao
populismo. Como diria o outro, as instituições são fracas.
7 de Março
Ontem, Mário Centeno na RTP. Desde o bom velho Alfredo de Sousa, nunca consegui
explicar a um economista, e conheci muitos, os estreitos limites da sua visão
do mundo. Agora aparece este, a dizer que os políticos andam a prejudicar o
crescimento económico. Ele pensa, sinceramente, que se os políticos resolvessem
a trapalhada do “Brexit”, se Trump chegasse a um acordo com os chineses e o
populismo desaparecesse da Europa, ficávamos no melhor dos mundos. O mal são os
políticos. Mário Centeno excluído.
8 de Março
Macron apela ao renascimento europeu. Como sempre, a
França toma-se pelo que não é e quer-se fazer passar pela cabeça da Europa. Não
admira que os franceses e o Estado-Fantasma de Bruxelas tenham tanta
dificuldade em compreender o “Brexit”. Afinal, a União Europeia é, na essência,
uma aliança entre as três potências do Continente – a França, a Alemanha e a
Itália – que foram derrotadas na II Guerra Mundial. Há 74 anos? Sim, mas não é
muito tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário