terça-feira, 5 de março de 2019

Crónicas do tempo da Guerra - Barroso da Fonte

Aquartelamento no MUCONDO, em plena zona de guerra, onde o autor destas crónicas, assentou arraiais mal chegou a ANGOLA.


Em boa hora o Doutor Barroso da Fonte publicou estas memórias de um período conturbado da Nação portuguesa. Escritas de forma simples, sem floreados. Nelas se vislumbra um homem que, a dado momento da sua vida, foi forçado a abandonar a sua terra, o seu pátrio Barroso, como várias vezes afirma, para local longínquo, para lá do oceano visível, uma província da antiga África portuguesa – Angola.
Para lá foi mandado em cumprimento do dever, assim que concluiu o curso de Rangers em Lamego. Enviado para o Norte de Angola, à época um palco de operações bélicas sangrentas, foi o drama dele e de muitos consortes que o acompanharam no Paquete Vera Cruz.
O Caxito era a zona limítrofe da guerra sangrenta que deflagrara em todo o norte de Angola a partir de 15 de Março de 1961. Barroso da Fonte foi aí colocado como alferes no Aquartelamento no MUCONDO. Conheceu os piores teatros de guerra: Nambuangongo, Ucua, Dembos ou Zemba. Aí esteve 24 meses.
Dessa selva africana, quando o tempo corria de feição, escrevia crónicas para os dois jornais flavienses, com quem colaborava: O Noticias e A Voz. E é dessas crónicas, serenas e lucidas, escritas entre 1965-67, que nos dá conta o livro agora publicado.
A 28 de Abril de 1965 iniciou a sua “trágica odisseia”, em cumprimento da missão que lhe fora dada. Embarcou no cais de Alcântara.


Nestas primeiras 58 páginas lidas, está presente a nostalgia do autor pelo pátrio Barroso, pelas festas, tradições e pessoas do planalto barrosão, vigiado a miúde pela mítica serra do Larouco, onde se sente a presença pagã milenar. São raras as referências à Antiga África Portuguesa, para a qual se deslocou em cumprimento do dever. Uma referência aqui, outra ali, sobretudo à “grandiosa” cidade de Luanda, onde várias destas crónicas foram escritas, na mesa de um café predilecto (cujo nome ainda se não sabe): “Á hora em que escrevo o sol está encoberto com nuvens portadoras de cacimbo nocturno. Mas a cidade sorri, com seu semblante de menina solteira, dama castiça, senhora livre e donairosa” (p.47). A beleza desta escrita assume uma realidade primorosa. Só quem lá esteve sabe da verdade escrita por Barroso da Fonte.

Na fazenda São Paulo, na região dos DEMBOS, acerca de 20 Km do MUCONDO. O autor , juntamente com os seus homens, estava destacado para dar protecção aos BAILUNDOS, tarefeiros que vinham do sul. Esta fazenda era administrada pela fazendeira Lourdes Loureiro, natural de Mangualde, que aparece em amena cavaqueira com o alferes Barroso da Fonte.

Desmistifica alguns mitos criados acerca do clima angolano (p.44) e do natural ciclo dos dias. A noite surge rápido, assim como o dia.
Ás operações no teatro de guerra, nestas primeiras 58 páginas, dedica uma cronica (26), na página 54. Destaca a fé católica, o episódio do camarada morto no Rio Douro e as Madrinhas de Guerra.
Iremos iniciar a leitura da crónica 30, onde o autor irá tratar a aproximação do Natal. Destas páginas e das seguintes, daremos notícia quanto breve possível.
                                                                 
Armando Palavras


Sem comentários:

Enviar um comentário

Mesmo arrasada pela guerra, a Ucrânia oferece ajuda a Portugal na luta contra os incêndios

Nuno Rogeiro @nrogeiro @nrogeiro · 17h Arrasada pela guerra, a Ucrânia não esquece os amigos. Kyiv ofereceu a Lisboa um avião de combate a...