Todos os diretores das
áreas clínicas e responsáveis de especialidade de São José, Capuchos, Santa
Marta, Estefânia, Curry Cabral e Maternidade Alfredo da Costa descrevem as
crescentes deficiências nos cuidados. Documento a que o Expresso teve acesso é
um grito de alerta para que “não se diga que ficámos silenciosos, que fomos
cúmplices desta clamorosa destruição do Serviço Nacional de Saúde”
Chegaram ao ponto de
não retorno os médicos dos hospitais de São José, Capuchos, Santa Marta, Dona
Estefânia, Curry Cabral e Maternidade Alfredo da Costa, todos parte do Centro Hospitalar
Universitário de Lisboa Central (CHULC). Num documento aprovado esta
segunda-feira, a que o Expresso teve acesso, todos os diretores das áreas
clínicas e responsáveis de especialidade denunciam múltiplas falhas, afirmando
que “o trabalho diário passou a gestão permanente de crises”.
“Degradação que
envolve a dotação de pessoal médico, de pessoal técnico e de enfermagem, a
disponibilidade de material de consumo, a introdução de equipamento
especializado, o investimento na inovação, e a mera logística para o normal
exercício profissional” são algumas das deficiências denunciadas. Por isso,
“entendem estes responsáveis médicos do CHULC estar agora seriamente
comprometida a sua dupla capacidade de prestação assistencial e de treino
médico”.
VÁRIOS SERVIÇOS EM
RISCO DE ENCERRAR
No documento é
explicado que a “degradação tem vindo a instaurar-se ao longo dos últimos anos,
assumindo diversas matizes, tais como a progressiva perda de autonomia na
gestão, a incapacidade de influenciar o desenvolvimento tecnológico dos
serviços ou, mais recentemente, a capacidade de reter talentos profissionais
emergentes”. E acrescentam: “para além da deterioração das condições de
trabalho acima referidas, com riscos para quem mais interessa, os doentes, esta
situação comprometerá no curto prazo a capacidade assistencial, levando ao
encerramento de serviços, a começar pelos das diversas Urgências por falta de
condições mínimas, ou ausência mesmo de quaisquer condições de elementar
segurança para o seu normal funcionamento”. Exemplo disso são “as valências
altamente diferenciadas, hoje perdidas pelas mais diversas especialidades”.
O documento - que
chegará à tutela, ao Presidente da República, à Assembleia da República, à
ministra da Saúde, entre outros - é um grito de alerta: “Num tempo em que as
palavras duram o tempo que soam e valem pouco mais do que isso, acham os
signatários deste manifesto ser seu dever ético, pessoal e profissional,
alertar agora para a gravidade das condições de trabalho no CHULC. Para que
conste e para que se saiba, e para que possam, se for ainda tempo, vir a ser
melhoradas.” Mas, “também para que não se diga que ficámos silenciosos, que
fomos cúmplices desta clamorosa destruição do Serviço Nacional de Saúde, que
tantos brandem como bandeira, mas que, outros tantos, senão os mesmos, por
inação ou omissão, conduzem à implosão”.
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