Manifestação em Abril (2016) em Reiquejavique pedindo a demissão do então primeiro-ministro Gunnlaugsson
© Reuters
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A 27 de Outubro de 2016, o jornal de Notícias, em letras garrafais anunciava: “O país que prendeu banqueiros e demitiu dois primeiros-ministros”. E acrescentava: “Sociedade pequena, flexível e dinâmica, islandeses mudam com grande rapidez. Desde a crise [referindo-se a 2008] foram presos 29 banqueiros e um ex-chefe do governo foi levado a tribunal”.
A reportagem é de
Patrícia Viegas. Diz-nos a seguir: “Muito usado como forma de protesto nos
últimos tempos contra Dilma Rousseff e Michel Temer, o panelaço não é, porém,
específico das manifestações no Brasil. Muito antes, na Islândia, país dos
vulcões que foram capazes de deixar a UE paralisada durante dias a fio, os
tachos e as panelas eram presença constante nas manifestações contra o governo
de Geir Haarde, assim que, tal como os vulcões, a crise financeira explodiu com
toda a força e de forma incontrolável nesta pequena ilha de 325 mil habitantes.
Estava-se no final de
2008 e, no início do ano seguinte, Haarde e o seu governo foram forçados a
demitir-se por causa da pressão do descontentamento popular. Membro do Partido
da Independência, Haarde, hoje em dia embaixador, destacado na Argentina,
tornou-se o primeiro primeiro-ministro a nível mundial a ser levado a
julgamento por negligência na gestão do colapso do país. Em 2012, um tribunal
especial considerou-o culpado de negligência. Esta sentença não implicou,
porém, qualquer pena e as custas acabaram por ser pagas pelo Estado.
A reação da Islândia à
crise financeira de 2008 é já considerada um case study mundial. No auge da
crise a ilha impôs o controlo de capitais e teve de nacionalizar três dos seus
bancos. A coroa islandesa desvalorizou 85% face ao euro e o país entrou em
falência. No caso do banco Icesave, o então presidente islandês Ólafur Grimsson
vetou o acordo de indemnização ao Reino Unido e à Holanda quanto às perdas da
sucursal online do banco islandês e, em referendo, a população apoiou a sua
decisão.
Na altura, os
islandeses recusaram-se a pagar a fatura dos bancos, saíram dos mercados, a
riqueza do país caiu 10% em dois anos, o desemprego atingiu os 11,9%. Em maio
deste ano, o número de banqueiros islandeses que foram parar à prisão já ia em
29. Um mês antes, eis que os islandeses voltaram à rua para forçar um outro
primeiro-ministro a demitir-se: Sigmundur Davíð Gunnlaugsson, líder do Partido
Progressista, fora apanhado nos Papéis do Panamá. A investigação jornalística
internacional revelou que o então chefe do governo criou uma empresa offshore,
a Wintris, com a mulher, em 2007, passando-lhe a sua parte das ações (50%) por
um dólar em 2009. A Wintris tinha investimentos nos três bancos islandeses que
colapsaram na crise financeira de 2008, sendo um dos credores que exigem agora
milhões de dólares no processo de falência. Furiosos, mais uma vez os
islandeses saíram à rua, batendo em tachos e panelas.
"No que toca à
demissão de dois primeiros-ministros, sim, penso que a forma como os eleitores
demonstraram o seu descontentamento na Islândia e o facto de o governo ter
respondido ao seu descontentamento é um exemplo de boa interação entre os
eleitores e os seus representantes", diz ao DN Ragnheiður Kristjánsdóttir,
professora da Universidade da Islândia. "É todo o sistema político e
político-financeiro que se descredibiliza e leva à revolta da população. O
Partido dos Piratas, criado como movimento de protesto, defensor de liberdade
de acesso à internet, das liberdades cívicas e de mais transparência na
política, lidera as sondagens e está à beira de se tornar o primeiro partido do
pequeno país. Também a Islândia, afinal, não escapa à onda de revolta contra os
partidos tradicionais", constata Paulo de Almeida Sande, ex--diretor do
gabinete do Parlamento Europeu em Portugal. Mas como lembra Kristjánsdóttir:
"A Islândia é uma sociedade pequena, flexível e dinâmica. Isso significa
mudanças drásticas e de forma rápida... Para o bem e para mal."
Isto foi o que Patrícia
Viegas escreveu, mas que não chegou à maioria da população portuguesa. Mas
existem posts na internet que nos dão notícia do caso. E alguns vídeos. Porque
razão os comentadores pagos pelos fascistas geringonços não abordam o tema?
A mensagem de Ano Novo
do Presidente Marcelo, foi excelente. Abordou todos os casos, incluindo a
corrupção, em conteúdo, quando referiu a necessidade de transparência nas
instituições. Contudo, nunca mencionou a palavra corrupção. Porque será?
Vamos lá começar o
Novo Ano com temas que merecem ser discutidos…
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