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OCDE recomenda
mudanças nas regras de colocação de professores nas escolas e na sua avaliação
Relatório refere que modelo de
recrutamento de docentes tem regras claras. Mas cria atrasos nas colocações. E
desencontros “entre as necessidades das escolas e os interesses e competências
dos professores”. Muitos destes estão "insatisfeitos" com os locais
onde trabalham.
ANDREIA
SANCHES – jornal Publico
6 de
Dezembro de 2018
A Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aconselha Portugal a
rever, “a longo prazo”, o sistema de colocação de professores nas escolas.
Recomenda que se aposte na avaliação dos docentes. E diz que o país
devia abrir mais “as portas das salas de aula” — ou seja, fazer com que as
aulas sejam mais observadas, nomeadamente pelos “coordenadores de departamento”
dos estabelecimentos de ensino, para que estes possam “fornecer feedback regular
aos professores” sobre o seu trabalho.
Num relatório divulgado
nesta quinta-feira, sobre o uso de recursos escolares em Portugal, com foco no
financiamento, na governança e nos recursos humanos das escolas, a OCDE diz que
as crianças em Portugal têm “professores experientes e altamente qualificados”.
E que o concurso nacional de professores, que os coloca nas escolas, tem regras
transparentes.
Mas, para a
OCDE, os estabelecimentos de ensino “têm uma capacidade limitada de expressar
as suas preferências por um candidato específico”. Tal como os docentes têm
pouca margem para escolher um determinado tipo de escola. O que pode resultar
num desencontro “entre as necessidades das escolas e os interesses e competências
dos professores”.
Esta política
de atribuição de professores faz com que “alguns estejam insatisfeitos com a
escola em que trabalham”, o que parece “afectar desproporcionalmente” os alunos
com mais dificuldades e provenientes de famílias mais pobres. Ou seja, os mais
vulneráveis. O documento intitulado OECD Reviews of School Resources identifica
ainda a “instabilidade” de um modelo de colocação de docentes que faz
com que haja grande movimento de professores entre escolas, por vezes com
“atraso na colocação” dos mesmos.
Há mais
sugestões. Como esta: Portugal deveria considerar investir na formação dos seus
líderes escolares para que estes sejam capazes de avaliar os professores.
Segundo a OCDE,
o país dedica 5,1% do seu PIB à educação, mais do que a média. Mas
“apesar deste compromisso forte com a Educação, face à dimensão da economia,
pode melhorar a eficácia” do que investe.
Sendo certo que
“as crianças portuguesas têm vindo a ter oportunidades de aprendizagem cada vez
melhores nos últimos vinte anos”, que “a frequência da escola é actualmente
quase universal, que as taxas de abandono escolar diminuíram drasticamente e os
alunos de 15 anos têm agora um desempenho igual ou superior ao da OCDE nos
testes de matemática, leitura e ciências”, permanecem desafios significativos
relativamente ao sucesso escolar e às taxas de conclusão. “Treze por cento dos
estudantes portugueses abandonam a escola antes de concluírem o ensino
secundário. O desempenho escolar e a conclusão da escolaridade estão fortemente
ligados à situação socioeconómica dos alunos, e as crianças provenientes de
várias comunidades em Portugal têm resultados académicos significativamente
piores do que os seus pares.”
O relatório contém uma série de recomendações.
“Aumentar a transparência, a prestação de contas e a avaliação do financiamento
da educação escolar”, é uma delas. “Isso pode incluir uma mudança gradual para
uma fórmula de financiamento escolar transparente e publicamente debatida,
baseada nos níveis de necessidades dos alunos e das escolas.”
Alargar a
autonomia das escolas — Portugal tem também feito esforços nesta área,
refere-se —, é outra recomendação. E a descentralização em curso, para as
autarquias, não é esquecida. “A descentralização pode ter efeitos indesejados
no que diz respeito à equidade na educação face aos diferentes níveis de
capacidade das escolas do país", isto se não for acompanhada por recursos
e um processo de monitorização, afirma a OCDE. Sugestão: “Integrar a
descentralização da gestão escolar no alargamento da autonomia das escolas.
Isso pode incluir atribuir responsabilidade aos municípios por todos os
assuntos operacionais, responsabilidade às escolas por recursos financeiros e
humanos directamente relacionados com o ensino e a aprendizagem, e
responsabilidade ao governo central por capacitar as instituições locais.”
O Ministério da
Educação já reagiu. Em comunicado afirma que “o estudo analisa a situação do
sistema educativo, com base em dados estatísticos de 2015/2016, tendo sido
desenvolvido já num período de reinvestimento gradual na escola pública, num
movimento iniciado em 2016, após vários anos de políticas de austeridade”.
Garante que estão
a ser adoptadas “políticas e programasde médio e
longo alcance que têm ampliado o acesso, a qualidade e a equidade do sistema
educativo, através de novos modelos em que as escolas, os professores e os
alunos são os protagonistas”. E que se “abriu recentemente um novo ciclo de
recrutamento e progressão [de professores] que se deverá acentuar nos próximos
anos, nomeadamente tendo em conta a aposentação de uma parte considerável do
corpo docente e o restabelecimento das condições de progressão na carreira”.
De resto, “o
processo de descentralização em curso prevê, conforme recomenda a OCDE, que a
parte operacional das escolas seja assegurada pelas autarquias, mantendo o
Ministério da Educação a responsabilidade de gerir as áreas do currículo e da
contratação de professores”. No que toca a questões de transparência, a tutela
faz saber que "estão a ser dados passos relevantes, nomeadamente com o
desenvolvimento de uma fórmula de financiamento, pelo Instituto de Gestão
Financeira da Educação, de acordo com as características e necessidades de cada
escola”.
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