A aldeia de
Nhane fica a cerca de cinquenta quilómetros de Bissau. Para lá se dirige
Alberto e sua mulher, acompanhando António Kundé, funcionário superior do
Ministério dos Assuntos Sociais, em visita a sua mãe.
É véspera de
Consoada.
Pelo caminho,
já nas cercanias da tabanca, repararam nos pequenos santuários animistas,
erigidos a deuses muitos – e junto deles flores, ou folhas, ou conchas ou
amuletos, sinal de recente visita de crente ansiando benesse divina.
Debaixo do
alpendre, sentaram-se nas tropeças, e conversaram todos sobre a vida da
tabanca: da lavoura, das festas, das misérias e sofrimentos de quem trabalha
muito e padece mais, e da cidade ali tão perto e tão longe, onde alguns têm
tudo ou quase tudo: camisa e calça alisada, pãozinho quente pela manhã, bebendo
bom vinho, tanta coisa boa...
O sol está a
desaparecer por detrás das palmeiras e dos altos poilões (as noites, aqui em
África, caem muito depressa!); as galinhas deixaram de rapar a terra e procuram
um galho para noitarem; os porcos acomodaram-se; as mães começaram a arrastar
os filhos e os netos para dentro de casa; os homens fumam a derradeira
cachimbada.
O silêncio
faz-se mais. Os visitantes preparam-se para partir.
Um velho,
porventura o mais velho ancião da aldeia, pediu ao familiar António um momento
de espera antes da partida. Entrou na sua casa e depressa regressou.
Nas suas mãos
calosas, mas com pele sedosa e brilhante, trazia um pequeno ovo que depositou,
candidamente, nas mãos brancas da mulher branca.
Santa véspera
de Natal, sem ser Natal, em Nhane.
Paulo Cordeiro
Salgado
(Um ano
destes…por terras da Guiné…)
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