quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Jorge Teixeira poderá ser proclamado melhor docente do Mundo


Por Cátia Portela


É de Chaves e chama-se Jorge Teixeira. O flaviense poderá vir a figurar no lote dos melhores professores do mundo distinguidos pelo Global Teacher Prize. Caso ganhe o prémio final, o docente garante que irá avançar com a criação de uma “rede de clubes de ciência europeus”, com vista à inclusão de todas as comunidades.
Foi com a calma e a boa disposição que o caraterizam que o melhor professor do país recebeu a notícia na passada quinta-feira, dia 13, de que tinha sido um dos 50 professores selecionados para concorrer ao prémio de melhor professor do mundo do concurso Global Teacher Prize 2019.
“Só havia duas hipóteses: sair ou não sair”, conta o professor de Física e Química. A resposta é curta e simples, mas o trabalho desenvolvido, e que levou à sua seleção, foi bem mais longo e complexo: “Durante o verão trabalhei na minha candidatura. Existe um formulário com dez questões e as respostas têm um número limitado de palavras. As perguntas têm diferentes temas e vão desde a minha história de vida, passando pelo ambiente em que ensino, se já ganhei outros prémios, até ao que faria se ganhasse o prémio final”.
O docente da Escola Secundária Dr. Júlio Martins, em Chaves, é o segundo português a conseguir alcançar o “Top 50” do Global Teacher Prize internacional. O primeiro a consegui-lo foi João Couvaneiro, em 2017.
A próxima etapa do concurso acontece em fevereiro de 2019, altura em que se ficará a conhecer os 10 finalistas do concurso.
“Tudo pode acontecer. As pessoas que estão nomeadas são pessoas já com muita experiência, com projetos fabulosos e, portanto, a escolha caberá ao júri fazê-la, mediante os critérios que têm”, sublinhou.
A divulgação do grande vencedor da edição 2019 é divulgada em março, durante o Fórum Global de Educação e Habilidades que se irá realizar no Dubai. O premiado levará para casa um milhão de dólares (mais de 880 mil euros), atribuídos pela Fundação Varkey. Este prémio, que é considerado como o Nobel da Educação, pretende, segundo a organização, reconhecer o trabalho do professor que mais tem contribuído para a profissão e celebrar “o impacto que os professores têm em todo o mundo, não só para os seus alunos como também para a comunidade”.
Ciência para todos: professor flaviense quer aumentar o nível da literacia científica
Entretanto, Jorge Teixeira está empenhado num novo projeto, no âmbito do concurso nacional do Global Teacher Prize. O objetivo, conta o flaviense, passa por criar um Centro de Recursos de Atividades Laboratoriais Móveis que possa ser extensível a vários estabelecimentos de ensino.
Para a concretização deste projeto, o professor está a produzir “kits de atividades laboratoriais” que posteriormente serão organizados numa sala da escola e “qualquer professor que queira poderá utilizá-los nas suas aulas, pode ser um professor desta escola ou até de outras escolas”.
Através deste “kit” os docentes vão poder “divulgar a ciência e mostrar como é que funciona a ciência dentro da sua sala de aula ou também num evento social”, garante Jorge Teixeira. O projeto tem a duração de três anos e conta já com vários parceiros, nomeadamente empresas de Chaves e também de Lisboa, autarquia e vários estabelecimentos de ensino superior e secundário.
Caso venha a ganhar o concurso internacional, o docente pretende ajudar outras escolas a “produzir kits de baixo custo” para que posteriormente possam ser doadas a escolas carenciadas.
Numa segunda fase, o objetivo passaria por oferecer kits de atividades laboratoriais a escolas carenciadas de língua oficial portuguesa, ao mesmo tempo que, com o apoio da Ciência Viva, seria criada uma espécie de “rede de clubes de ciência europeus” de forma a que os kits chegassem a todas as escolas do mundo.
E por fim, adianta o professor, “iria dividir parte do prémio com outros finalistas” para que também eles pudessem continuar a desenvolver os seus projetos científicos.
“É fundamental passar a ciência da escola para o dia-a-dia, para os problemas que nos vão surgindo. O Alto Tâmega é a segunda região do país com a pior literacia científica, sendo que ainda há muita coisa para fazer para melhorar este aspeto”, avançou Jorge Teixeira.
Mas como se passa a ciência da escola cá para fora? O professor diz que é possível: “Depois de trabalharmos as atividades laboratoriais conseguimos aplicá-las no nosso dia-a-dia. Veja aquele projeto sobre como “Evitar os incêndios em Portugal”. O trabalho foi dirigido aos alunos do pré-escolar que através do projeto tiveram a oportunidade de realizar várias tarefas fora do laboratório e de perceber a problemática dos incêndios que fustigaram recentemente o país”.
Para o responsável é igualmente importante que a “sociedade comece a valorizar a educação, assim como os professores e os pais que se preocupam com a educação dos filhos, e não tanto com outros temas que não levam a lado nenhum”.
Jorge Teixeira acredita que não existem maus professores, o que é necessário é “incentivar esses docentes” para que a média dos professores possa subir.
De referir que Jorge Teixeira criou em 2006 o Clube do Ensino Experimental das Ciências. O clube, de acordo com o fundador, permitiu “aproximar a ciência aprendida na escola da comunidade e dar resposta a um número significativo de alunos do ensino secundário que manifestava interesse em aprofundar conhecimentos experimentais relacionados com os programas e com o dia-a-dia”.

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