Por Cátia Portela
É de Chaves e chama-se
Jorge Teixeira. O flaviense poderá vir a figurar no lote dos melhores
professores do mundo distinguidos pelo Global Teacher Prize. Caso ganhe o
prémio final, o docente garante que irá avançar com a criação de uma “rede de
clubes de ciência europeus”, com vista à inclusão de todas as comunidades.
Foi com a calma e a
boa disposição que o caraterizam que o melhor professor do país recebeu a
notícia na passada quinta-feira, dia 13, de que tinha sido um dos 50
professores selecionados para concorrer ao prémio de melhor professor do mundo
do concurso Global Teacher Prize 2019.
“Só havia duas
hipóteses: sair ou não sair”, conta o professor de Física e Química. A resposta
é curta e simples, mas o trabalho desenvolvido, e que levou à sua seleção, foi
bem mais longo e complexo: “Durante o verão trabalhei na minha candidatura.
Existe um formulário com dez questões e as respostas têm um número limitado de
palavras. As perguntas têm diferentes temas e vão desde a minha história de
vida, passando pelo ambiente em que ensino, se já ganhei outros prémios, até ao
que faria se ganhasse o prémio final”.
O docente da Escola
Secundária Dr. Júlio Martins, em Chaves, é o segundo português a conseguir
alcançar o “Top 50” do Global Teacher Prize internacional. O primeiro a
consegui-lo foi João Couvaneiro, em 2017.
A próxima etapa do
concurso acontece em fevereiro de 2019, altura em que se ficará a conhecer os
10 finalistas do concurso.
“Tudo pode acontecer.
As pessoas que estão nomeadas são pessoas já com muita experiência, com
projetos fabulosos e, portanto, a escolha caberá ao júri fazê-la, mediante os
critérios que têm”, sublinhou.
A divulgação do grande
vencedor da edição 2019 é divulgada em março, durante o Fórum Global de
Educação e Habilidades que se irá realizar no Dubai. O premiado levará para
casa um milhão de dólares (mais de 880 mil euros), atribuídos pela Fundação
Varkey. Este prémio, que é considerado como o Nobel da Educação, pretende,
segundo a organização, reconhecer o trabalho do professor que mais tem
contribuído para a profissão e celebrar “o impacto que os professores têm em
todo o mundo, não só para os seus alunos como também para a comunidade”.
Ciência para todos:
professor flaviense quer aumentar o nível da literacia científica
Entretanto, Jorge
Teixeira está empenhado num novo projeto, no âmbito do concurso nacional do
Global Teacher Prize. O objetivo, conta o flaviense, passa por criar um Centro
de Recursos de Atividades Laboratoriais Móveis que possa ser extensível a
vários estabelecimentos de ensino.
Para a concretização
deste projeto, o professor está a produzir “kits de atividades laboratoriais”
que posteriormente serão organizados numa sala da escola e “qualquer professor
que queira poderá utilizá-los nas suas aulas, pode ser um professor desta
escola ou até de outras escolas”.
Através deste “kit” os
docentes vão poder “divulgar a ciência e mostrar como é que funciona a ciência
dentro da sua sala de aula ou também num evento social”, garante Jorge
Teixeira. O projeto tem a duração de três anos e conta já com vários parceiros,
nomeadamente empresas de Chaves e também de Lisboa, autarquia e vários
estabelecimentos de ensino superior e secundário.
Caso venha a ganhar o
concurso internacional, o docente pretende ajudar outras escolas a “produzir
kits de baixo custo” para que posteriormente possam ser doadas a escolas
carenciadas.
Numa segunda fase, o
objetivo passaria por oferecer kits de atividades laboratoriais a escolas
carenciadas de língua oficial portuguesa, ao mesmo tempo que, com o apoio da
Ciência Viva, seria criada uma espécie de “rede de clubes de ciência europeus”
de forma a que os kits chegassem a todas as escolas do mundo.
E por fim, adianta o
professor, “iria dividir parte do prémio com outros finalistas” para que também
eles pudessem continuar a desenvolver os seus projetos científicos.
“É fundamental passar
a ciência da escola para o dia-a-dia, para os problemas que nos vão surgindo. O
Alto Tâmega é a segunda região do país com a pior literacia científica, sendo
que ainda há muita coisa para fazer para melhorar este aspeto”, avançou Jorge
Teixeira.
Mas como se passa a
ciência da escola cá para fora? O professor diz que é possível: “Depois de
trabalharmos as atividades laboratoriais conseguimos aplicá-las no nosso
dia-a-dia. Veja aquele projeto sobre como “Evitar os incêndios em Portugal”. O
trabalho foi dirigido aos alunos do pré-escolar que através do projeto tiveram
a oportunidade de realizar várias tarefas fora do laboratório e de perceber a
problemática dos incêndios que fustigaram recentemente o país”.
Para o responsável é
igualmente importante que a “sociedade comece a valorizar a educação, assim
como os professores e os pais que se preocupam com a educação dos filhos, e não
tanto com outros temas que não levam a lado nenhum”.
Jorge Teixeira
acredita que não existem maus professores, o que é necessário é “incentivar
esses docentes” para que a média dos professores possa subir.
De referir que Jorge
Teixeira criou em 2006 o Clube do Ensino Experimental das Ciências. O clube, de
acordo com o fundador, permitiu “aproximar a ciência aprendida na escola da
comunidade e dar resposta a um número significativo de alunos do ensino
secundário que manifestava interesse em aprofundar conhecimentos experimentais
relacionados com os programas e com o dia-a-dia”.
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