Agência Lusa há 1 dia
O líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) considerou esta
sexta-feira (30.11) "surpreendente" o facto de cidadãos angolanos
"evocarem, quem sabe desejarem, e até financiarem, uma provável
instabilidade política" em Angola, tema que está a ser tratado com
"seriedade" pois mexe com a segurança nacional.
João Lourenço, que discursava na sessão de abertura da VI reunião ordinária
do Comité Central do MPLA, a primeira que dirige desde que tomou posse como
presidente do partido, em setembro passado, fez um discurso maioritariamente
voltado para o combate à corrupção e com exemplos ligados à família de José
Eduardo dos Santos, sem, porém, citar nomes.
Sem também responder direta ou indiretamente às palavras de Eduardo dos
Santos, que, depois de João Lourenço ter afirmado que encontrou
"vazios" os cofres do Estado quando assumiu o poder, disse ter
deixado 15.000 milhões de dólares em reservas internacionais líquidas - facto
confirmado quinta-feira pelo Governo -, o líder do MPLA virou o discurso para a
empresária Isabel dos Santos e para o gestor José Filomeno dos Santos, mas
sempre sem os nomear.
Críticas aos filhos do
ex-Presidente
O líder do MPLA disse que, "de forma pouco responsável", se
confiou a "um jovem inexperiente" a gestão de biliões de dólares do
país - José Filomeno dos Santos era presidente do Fundo Soberano - no valor de
5.000 milhões de dólares -, o partido "não pode ficar indiferente e tem de
bater o pé perante tamanha afronta aos verdadeiros donos desses recursos, o
povo angolano".
Aos militantes do MPLA, o também Presidente de Angola sublinhou que, quando
o partido tiver a coragem de assumir esta postura, então o país "sairá a
ganhar" porque, se o exemplo vier daí, haverá a "certeza" de que
toda a sociedade o seguirá.
José Filomeno dos Santos foi presidente do Fundo Soberano de Angola,
nomeado pelo pai, desde 2012, ano da sua constituição, até janeiro de 2018,
quando foi exonerado do cargo por João Lourenço, e encontra-se desde dezembro
em prisão preventiva, acusado dos crimes de associação criminosa, tráfico de
influência, burla e branqueamento de capitais, tendo desencadeado o processo a
transferência ilícita de 500 milhões de dólares e a má gestão do fundo.
Hoje, na sua intervenção, o líder do MPLA, também sem citar o nome de
Isabel dos Santos, aludiu às declarações feitas a 21 deste mês pela empresária angolana,
que "alertou" para o facto de, em Angola, "a situação está a
tornar-se cada vez mais tensa, com a possibilidade de se juntar à crise
económica existente, uma crise política profunda".
Numa série de mensagens divulgadas durante esse dia na rede Twitter, a
filha de Eduardo dos Santos e antiga presidente da petrolífera Sonangol,
exonerada por João Lourenço, exemplificou com os casos da greve nacional dos
médicos, então em curso e que "contou com a adesão de 90%", com a
quebra do poder de compra, "de 170%", e com a fome nas famílias
"apesar do petróleo em alta".
"Insaciável
apetite"
João Lourenço lembrou também que, no combate à corrupção, "aqueles que
vêm perdendo privilégios auto adquiridos" ao longo dos anos, "deviam
ter a sensatez e humildade de agradecer a este povo generoso por lhes ter dado
essa possibilidade e não se fazerem de vítima, porque a única vitima desse
comportamento ganancioso foi o povo".
"Este povo, que permitiu que uns poucos privilegiados mergulhassem no
pote de mel, com insaciável apetite, não merece tamanha ingratidão, com
manifestações de quem se julga no direito de manter o estatuto indevidamente
adquirido. Só mesmo a falta de patriotismo pode levar um cidadão nacional a
desencorajar o investimento estrangeiro no seu próprio país, que pode trazer
emprego e o pão para a mesa dos angolanos", sublinhou.
Ao partido, João Lourenço disse que deve ser o primeiro a levantar a sua
voz "sempre que surjam sinais preocupantes" de constituição de um
império económico de uma família ou de uma pessoa, "não importa
quem", sobretudo quando são usados comprovadamente fundos públicos ou de
empresas públicas em empreendimentos que depois aparecem registados como
privados.
João Lourenço referiu que, se as empresas públicas foram passadas para o
domínio privado a favor de familiares de membros do partido, sem que se tenha conhecimento
de algum concurso público, o partido deve ser o primeiro a denunciar contrariar
e impedir. "O partido deve condenar e impedir que as empreitadas das
grandes obras públicas, como portos, aeroportos, centrais hidroelétricas,
cimenteiras, ordenamento e gestão de cidades e outros, sejam entregues aos
nossos filhos, familiares ou outros próximos se não obedecerem às regras e
normas do concurso público, da contratação e da são concorrência", frisou.
João Lourenço reiterou também que o partido "nunca deve aceitar o
monopólio de um único produto económico" na comercialização de um produto
tão valioso como os diamantes, "o que pode ter como consequências a fuga
das multinacionais do setor que não entanto investem em outros países até
vizinhos" de Angola.
Eleições internas
Na reunião do CC do MPLA, órgão de 363 membros, o partido vai analisar,
entre outros temas, é a intenção de realizar eleições internas para escolher os
candidatos às primeiras eleições autárquicas do país, previstas para 2020.
O processo das autárquicas tem trazido divergências quanto ao modo de
implementação entre o Governo, de um lado, e os partidos da oposição e alguns
setores da sociedade civil, entre os quais a igreja católica, do outro.
O Governo angolano defende a implementação das autarquias em todo país, mas
de forma gradual, num prazo máximo de até 15 anos, tendo hoje João Lourenço
reiterado que poderá baixar esse limite temporal para os 10 anos, proposta que
é rejeitada pelos partidos da oposição, que exigem a sua implementação em
simultâneo nos 164 municípios de Angola.
Na reunião do Comité Central do MPLA, órgão deliberativo máximo no
intervalo dos congressos, serão analisadas também as informações sobre o Plano
de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2018/2022, bem como a Proposta de Orçamento
Geral do Estado (OGE) para 2019, a ser votada no Parlamento a 14 de dezembro e
um ponto de situação do setor da saúde em Angola. Os trabalhos da reunião
terminam sábado.
FONTE: msn noticias
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