PAULO FAFE – Diário do
Minho
O atual Governo espanhol, liderado por Pedro
Sánches, reivindica, cada vez mais, a soberania espanhola sobre o rochedo de
Gibraltar, alegando que esse território está ocupado pela Inglaterra. A
história diz que desde 1704, data em que o almirante inglês Rooke se apoderou
daquele território, ocupação esta que o tratado de Utrecht veio a ratificar.
A
Espanha tentou por várias vezes reconquistar o promontório pelas armas sem, no
entanto, conseguir. Mas nunca aceitou a ocupação.
Nunca aceitou nem aceita, daí a reivindicação
de tomada de posição atual política de Pedro Sánches. Têm razões os espanhóis,
porque ocupação é usurpação, mesmo que esta se mantenha ao longo de séculos.
Gibraltar é território espanhol ocupado pelos ingleses. Mas os espanhóis, que
tanto reivindicam os seus direitos sobre o rochedo de Gibraltar, certamente
esquecem-se que estão a ocupar uma cidade que é de Portugal. Trata-se da cidade
de Olivença.
Historiemos resumidamente: Olivença é
portuguesa desde 1299, data do tratado de Alcanizes. Estamos a falar do tempo
de D. Dinis. Assim se manteve até 1801. Pelo tratado de Badajoz, Olivença foi
anexada a Espanha. Mas em 1817 a Espanha reconhece a soberania de Portugal
sobre Olivença e declara e aceita a recomendação de devolver esta praça, em
prazo próximo, a Portugal. Mas nunca o fez.
OLIVENÇA |
Francisco Franco compromete-se com Salazar a
devolver Olivença a Portugal, como recompensa do auxílio prestado por Portugal
à causa franquista, na guerra civil espanhola. A bandeira portuguesa chegou a
ser hasteada, por essa altura, nas praças desta cidade mas os franquistas
entraram pela cidade dentro e, à força, e recorrendo a mortes aos resistentes,
rasgaram o acordo de Franco.
Olivença encontra-se ocupada até aos dias de
hoje por Espanha. Estamos perante factos históricos e não perante declarações
saudosistas ou nacionalismos serôdios. A Espanha reivindica a libertação de
Gibraltar das garras inglesas e damos-lhe inteiro cabimento e razão. Nós
reivindicamos Olivença nas garras dos espanhóis e com a mesma ordem de razões.
Espanha reivindica atualmente o seu direito de soberania sobre Gibraltar,
ameaçaram não assinar o documento sobre o Brexit.
Acabaram por assinar julgando ter encontrado um
compromisso com Teresa May. Penso que trouxeram uma mão de coisa nenhuma. Tem
um trunfo na mão e coloca-o em cima da mesa das negociações. Apesar disto,
gosto deste gesto porque emana patriotismo e dever de lutar pela integridade
territorial da pátria.
Tem a coragem de ser espanhol. Bravo. E então
nós, também não teremos o dever patriótico de reivindicar por Olivença, cidade
portuguesa ocupada por Espanha? Haverá aqui algumas diferenças nestas duas
ocupações? Se há diferenças, elas militam a favor de Portugal porque temos há
mais tempo, território ocupado por uma potência estrangeira, a Espanha. E nós,
muito caladinhos perante a ocupação de Olivença? Que silêncio temeroso é este
que prefigura um crime de lesa-pátria?
Os que, ontem e hoje, calados, quiçá
atemorizados, medrosos perante a potência invasora, calaram-se perante a
anexação de Olivença, permitiram, como os de hoje permitem, que os invadidos de
Gibraltar, sejam os invasores de Olivença! Quando o pequeno tem medo de ter
razão, ganha o direito de ser calcado.
Coisas que o império “não” tece e vergonha que
o tempo hodierno não esquece. Enquanto Pedro Sánches mexe na história com
valentia, nós mergulhamos na vergonha com cobardia. A Espanha não tem moral
para reivindicar a libertação de Gibraltar, enquanto não libertar Olivença.
Sem comentários:
Enviar um comentário