JORGE LAGE |
Há monumentos por apresentarem
alguma fragilidade e para se destacarem têm de ser expostos em segurança. Por
exemplo, uma escultura frágil tem de ser protegida. Uma escultura em bronze
assente no chão não choca. Se for em gesso, calcário, madeira e até granito tem
de ser rodeada de cautelas. Há pouco mais de um ano, publiquei o livro,
Mirandela Outros Falares, que teve como preocupação promover e divulgar a vila
da Torre Dona Chama. Para tal, em texto e imagens foi dada muita atenção a esta
vila, ao ponto de poder ser útil a trabalhos monográficos que se venham a fazer
na Torre. Mas, na contracapa do livro servi-me da informação fotográfica do
fotógrafo, flamulense, Jorge Nozelos, em que retrata o pelourinho e a berroa ou
porca. A belíssima e riquíssima imagem, que aqui se reproduz, mostra o
pelourinho num pedestal de três degraus e a berroa ao nível dos paralelos.
Vistos assim, a porca quase parece estar num local de armazenagem, por ali não
haver espaço. Como sabe, o amigo leitor, espaço há em demasia, na Torre, para
tão poucos moradores. Outros poderiam pensar que a porca está ali de castigo ou
acabou de ser supliciada no pelourinho. Parece-me do senso comum dizer-se que
ali os dois juntinhos «não diz a bota com a perdigota». Sendo assim, o
aconselhável é que cada um tenha o seu espaço próprio e possa dialogar com quem
o visitar, sem terem de se apoucar um ao outro. Apoucá-la ou trata-la sem um
mínimo de dignidade é a situação frágil em que está a antiquíssima estátua da
berroa. Atrevo-me a dizer, sem receio de exageros, que a berroa da Torre é um
dos monumentos escultóricos mais valiosos do concelho de Mirandela, pela sua
força documental de uma escultura pré-cristã e pela sua antiguidade. Mas, digam
o que disserem é uma figura granítica que tem as suas fragilidades. É
inconcebível e envergonha-me como mirandelense que não se acautele e promova um
valiosíssimo bem cultural. É urgente que se coloque num pedestal ou num
megálito, que lhe dê segurança, num local digno e que não choque esteticamente
com o pelourinho. Depois, o município de Mirandela e a junta de freguesia da
Torre Dona Chama têm que divulgar mais este nosso bem cultural. É preciso
rentabilizá-lo de várias maneiras. Se invocarem que não há dinheiro temos de
fazer uma subscrição porta a porta. Ao mexerem na berroa não se esqueçam que é
um bem frágil e têm de usar de grandes cuidados. Temos de ser dignos dos bens
culturais e da memória que os nossos antepassados nos deixaram como a nossa
maior herança.
Provérbios ou ditados
de Outubro:
Quem castanhas come, madeira consome.
Outubro chuvoso, ano copioso.
O modo como se dá vale mais do que
aquilo que se dá.
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