BARROSO da FONTE |
Quando
deixei de cingir-me ao horizonte visual do cimo dos montes da minha aldeia, num
perímetro de 30 ou 40 kms, do epicentro de onde alongava a vista, comecei a
guiar-me pelo cursos dos rios, pelos mapas impressos em papel e pendurados na
parede, ao lado do quadro a gis, e globo que a regente escolar comprara, por
sua conta, e que tinha em cima da secretária, para nos explicar que o mundo não
era apenas aquilo que todos víamos à nossa volta. Que havia muita terra e muita
água, mais água do que chão que produzia aquilo que fazia falta para comer,
comercializar trocar por fruta, vinho e azeite que Codeçoso não dava por ser terra muito fria. Tal como J.
Rentes de Carvalho confessou numa entrevista a João Céu e Silva, ao DN, em
11/8/2015, também eu «perdi muito cedo a ingenuidade porque comecei a ler». Do
ler passei ao escrever. E escrevi muito, talvez em excesso. Se pudesse
reescrever quanto escrevi nos 65 anos de produção, teria sido mais rigoroso
comigo próprio, para evitar algumas ingenuidades que tratei como sendo doutrina
firme e absoluta.
Numa
das minhas primeiras crónicas de 2018, antes que me perca em comentários,
pretendo informar os meus pacientes leitores de que numa das ilhas de Cabo
Verde, S. Vicente, se situa o concelho do Tarrafal, para alguns portugueses, de
triste memória. Para aí foram desterrados, alguns cidadãos que, por isto ou por
aquilo, ali iam de castigo.
Durante
o Estado Novo e na sequência da I e II Repúblicas, Portugal enfrentou situações
nacionais e internacionais, de grande dificuldade. Se na I houve liberdade e
libertinagem a mais, na II, para reprimir tantos e tão alarmantes excessos, só a ordem publica e a disciplina
rígida poderiam repor a Sociedade nos seus trilhos. A chegada de Salazar ao
poder deixou marcas ao longo dos 48 anos de regímen que descontentou a
generalidade dos cidadãos. Foram as classes baixa e média que tudo suportaram,
por ignorância e por falta de meios. Quem conhecia o ambiente exterior e tinha
meios esgueirava-se para cidades europeias que lhes garantiam segurança,
trabalho e acesso à formação. Esse estado de coisas fermentou a consciência
nacional. O 25 de Abril teria que dar-se e deu-se, através de quem tinha as
armas e com elas, as competências. Valeram a essa rebelião, sempre mal
explicada, os argumentos usados, sempre, a
partir da «vontade do povo» que, se estava mal, uma boa parte, pior
ficou. Se a nível interno a situação política era má e todos desconfiavam de
todos e de tudo, também a nível externo Portugal ficava isolado, por causa da
situação económica e da política externa. Os povos africanos ganharam consciência
de que África deveria ser gerida por africanos. As Províncias Ultramarinas
exigiam a sua independência e o regresso dos brancos ao continenete de origem.
Esses incentivos à independência partiam da Casa do Império, em Coimbra e em
Lisboa que acolhia os estudantes luso-africanos, fermentavam esses grupos com
ideias revolucionárias que encontrararam terreno fértil nas organizações
internacionais que eram apoiadas pelas grandes potenciais, com intuitos nem
sempre consentâneos com a verdade que diziam defender.
Uma
boa parte dos presos políticos que desde 1944
estavam organizados e tinham por base a Casa do Império, passou pelo
Terrafal. Enuncio três deles, ao acaso e também por ficarem ligados à História
da descolonização Luso-Angolana:
Bento
Gonçalves (nascido
em Fiães do Rio), em Montalegre. Foi o 1º Secretário Geral do Partido Comunista
Português. Esteve preso no Terrafal, em Cabo Verde, onde morreu.
Amílcar
Cabral, nasceu em
Cabo Verde. Estudou na Escola Superior Agrícola, em Lisboa. Casou com uma sua
colega de curso, Maria Helena Ataíde Vilhena Pereira, natural de Casas Novas,
concelho de Chaves. Foi, verdadeiramente o patrono do PAIGC. E dos mais ativos
lutadores pela independência.
Agostinho
Neto, nasceu e
lutou até ao fim da vida pela libertação de Angola. Casou com a escritora
Eugénia Neto que nasceu em Montalegre, em 1934. Formou-se em medicina e foi
médico, enquanto pôde, porque foi preso e esteve no Tarrafal. Foi,
inegavelmente, o Pai da República Popular de Angola. Estas três figuras do
processo autonómico luso-africano experimentaram o degredo do Tarrafal,
concelho que se situa na Iha de Santiago.
https://www.facebook.com/malundo.kudiqueba/ videos/vb.100010021596957/550337438643638/?type=3 |
«Rosas»
também houve muitos, desde 1128 até hoje com outros pretextos e com diferentes
ambições.
Sem comentários:
Enviar um comentário